![]() |
Ilustração: Oleg Volk |
“Os judeus têm armas, os
judeus têm armas!”
Grito de soldado alemão no
início do levante do Gueto de Varsóvia (abril, 1943).
Walter C. Merling Jr.
Um dos aspectos que mais nos
surpreende na campanha de desarmamento civil em curso no país é a passividade
com que certos segmentos da sociedade aceitam sem críticas este movimento. Como
exemplo podemos citar a bancada ruralista na Câmara dos Deputados. Apesar de
ser óbvio aos olhos de todos que um dos objetivos primordiais desta campanha é
facilitar e estimular o esbulho no campo, estes senhores permanecem em incrível
silêncio cúmplice, quando não a apóiam abertamente. Em nosso entender isso só
pode ser explicado pelo temor de enfrentar a mídia capitaneada pelas
organizações GLOBO e assim prejudicar suas carreiras políticas. Para esses
senhores a carreira política tornou-se mais importante que seus negócios e suas
raízes.
Outro grupo que surpreende por
seu silêncio é o da Comunidade Israelita no Brasil. É surpreendente porque, por
séculos, o povo judeu foi perseguido em inúmeros países e culturas diversas.
Humilhação, esbulho, desapropriação, confisco, deportação, prisão e morte fazem
parte do passado judeu. Parece-nos que os judeus brasileiros ignoram,
esqueceram ou nada aprenderam com a história. Será que não sabem que o
desarmamento sempre precedeu essas ações?
Um dos casos mais conhecidos e
documentados de desarmamento dos judeus (mas não o único) ocorreu em 11 de
novembro de 1938, quando o Ministro do Interior da Alemanha, Hermann Goering,
determinou que os judeus não poderiam mais “adquirir, possuir e portar armas de
fogo e munições (...). Os que possuíssem armas e munições deveriam entregá-las
imediatamente à autoridade policial mais próxima.”
Para que essa ordem fosse
cumprida, os judenrat (1) foram encarregados de alardear os “malefícios”
de possuir uma arma. Diziam que as armas são perigosas, que causam acidentes e
que as pessoas cometem crimes passionais com elas (soa familiar?). Como bons
cidadãos, todos deveriam colaborar com o governo entregando suas armas
particulares.
O que se seguiu a este ato
todos conhecem, mas parece que os judeus brasileiros esqueceram. Esqueceram
mesmo, ou isso não passa de receio de se expor ou ser politicamente incorreto?
Alguns dirão que no Brasil é
diferente. Que aqui não há anti-semitismo como havia na Alemanha e na Europa em
geral no início do século XX. É verdade. Este é um país maravilhoso que acolhe
de braços abertos todos os imigrantes. A miscigenação é uma realidade no Brasil
e as poucas manifestações racistas sempre foram casos isolados e nunca uma
política oficial de Estado na República. Ao menos até hoje!
A verdade é que o governo Lula
tem tomado ações bastante duvidosas nesta questão. Políticas “aparentemente
equivocadas” levam o racismo para as salas de aula, tais como a criação de
cotas para negros nas universidades públicas e a obrigatoriedade de declaração
da “raça” nas escolas do primeiro grau (2).
A noção de “raça” voltou a fazer parte da política oficial do governo, num
retrocesso aos tempos da colônia e do império. No caso específico dos judeus, o
governo Lula está mais para Filinto Müller (3)
do que para Oswaldo Aranha (4), basta ver a sua
recente viagem ao Oriente Médio, que não incluiu Israel, e as declarações da
Cúpula Países Árabes/América do Sul.
Mas não é só isso. Vejam como
os sindicatos ligados à CUT (o braço sindical do PT) proclamam seu apoio ao
“pobre povo palestino subjugado pelo imperialismo sionista-israelense” e
esclareçam-nos o que tem a ver o conflito no Oriente Médio com o movimento
sindical brasileiro. Será que algum desses sindicalistas conhece algum árabe de
origem palestina? Provavelmente não. Mas, muito possivelmente estes
sindicalistas têm colegas de trabalho judeus. Não será, então, este assunto
totalmente alheio às relações trabalhistas, uma manifestação disfarçada de
anti-semitismo?
Outros ainda dirão: - Ah, mas
no Brasil nunca houve nada parecido com um pogrom (5).
Sim, mas é preciso lembrar que a imigração israelita para o Brasil aconteceu de
forma paulatina e em pequenos números (6).
Na Alemanha também não havia anti-semitismo oficial até a década de 30.
Soldados judeus combateram nas guerras de 1870 e 1ª Guerra Mundial (1914 -18),
como qualquer cidadão alemão. Então, repentinamente em janeiro de 1933, tudo
mudou.
Devemos ter a consciência de
que o ódio e a intolerância podem brotar a qualquer momento e em qualquer
lugar, com muitos fatores capazes de iniciá-los. Conhecemos alguns descendentes
de alemães que ainda têm bem viva em suas memórias as agressões e humilhações
que seus pais passaram quando o Brasil juntou-se aos Aliados na Segunda Guerra
Mundial – alguns tiveram as suas casas apedrejadas. Os jornais trazem, amiúde,
cenas de populares depredando ônibus e trens pelo país afora - às vezes apenas
por estarem atrasados. Isto nos mostra que uma kristallnacht (7) não é uma
ocorrência impossível num país tropical.
A urgência
É preciso ver bem claramente
que a campanha de desarmamento visa acabar com o direito à Legítima Defesa, uma
ordenação jurídica presente na Constituição e no Código Penal Brasileiro, além
de ser um direito natural do homem constante na Torah (8).
É preciso que todos saibam que a aprovação da Lei 10.826 (o Estatuto do
Desarmamento) desrespeitou diversos itens da Constituição e não foi aprovada no
plenário da Câmara dos Deputados. Diversas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade contra esta lei estão no STF aguardando um julgamento que
nunca virá.
A frase que foi aprovada para
o referendo de outubro próximo, além da proibição da venda de armas, inclui a proibição
da venda de munição no país. Isto também é inconstitucional, por representar um
confisco disfarçado das armas existentes (confiscaram a função), além de ferir
direitos adquiridos dos proprietários de armas legais (9).
Portanto, a partir de 23 de outubro próximo, todas as armas em mãos de civis
honestos no Brasil serão paulatinamente transformadas em meras curiosidades ou
objetos de decoração.
Todas essas arbitrariedades,
aberrações jurídicas e atropelos constitucionais típicos de uma ditadura, revelam
uma motivação muito forte e um sentido de urgência que deveria colocar todos os
brasileiros, e principalmente os judeus, com “as barbas de molho”. Mais ainda,
os efeitos desta lei não se limitarão à nossa geração, pois com o referendo
popular de outubro, ela jamais será revogada. Nestes 1870 anos de diáspora,
sempre foram os governos os principais inimigos dos judeus. Será que nossos
filhos e netos não precisarão de armas? Quem pode prever o futuro?
Diversos brasileiros lúcidos e
corajosos já se manifestaram contra o desarmamento. Pessoas tão díspares entre
si como o escritor João Ubaldo Ribeiro, o jornalista Carlos Chagas, o ministro
do STM Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, o filósofo Olavo de Carvalho e a
senadora Heloisa Helena (ex PT, atual PSOL-AL) já se pronunciaram a respeito.
Não conhecemos um único judeu que tenha escrito uma simples frase contra o
desarmamento. Muito pelo contrário, diversos judeus com prestígio e amplo aceso
à mídia têm se manifestado pró-desarmamento e participado ostensivamente desta
campanha. Essas manifestações não lembram as dos judenrat de ontem?
Surpreende-nos, também, que nenhum empresário judeu esteja apoiando as
instituições que combatem o desarmamento. Da mesma forma, estranhamos nenhum
acadêmico judeu se manifestar, nem ao menos com dúvidas, diante das pesquisas
do ISER / Viva Rio, obviamente manipuladas e distorcidas para apresentar os
resultados que lhes convém e apresentadas pela mídia como se ciências fossem.
Lembrem-se do Purim (10)
A passividade e subserviência
entraram para a tradição cultural do judaísmo europeu em sua tentativa de
sobrevivência. Os sabras (11) mais radicais
costumam chamar os judeus que permaneceram na Europa ou imigraram para outros
países de covardes ou de coitadinhos. Recentemente, Ariel Sharon (Primeiro
Ministro de Israel), falando aos judeus da França, declarou: Vocês judeus
franceses moram num país anti-semita e são covardes de não imigrar para Israel!
A frase retrata bem o espírito sabra. Eles têm toda razão e é fácil entender
porquê. Tal como no Brasil de hoje, na Europa do final do século XIX e início
do XX, os judeus detinham, na maioria dos países, importante parcela do PIB, da
produção científica, artística e acadêmica em geral, ocupavam cargos públicos e
possuíam expressivo acesso à imprensa. Apesar disso, não souberam identificar
as ameaças que surgiam ou se organizar para neutralizá-las em tempo hábil. Não
souberam ou não quiseram se unir e preferiam imigrar a lutar por seus direitos.
É essa passividade e
subserviência aos governantes que desperta o desprezo dos sabras. Eles resgatam
o espírito valente e indomável dos judeus de antanho, que tanto trabalho deram
aos egípcios, persas, gregos e romanos. E fazem isso com seu exemplo: não só
nas batalhas que travaram para assegurar a sobrevivência de seu país, mas
também na segurança do dia a dia. Em Israel o governo incentiva todos que
fizeram serviço militar (quase toda população) a portar armas ocultas como
forma de inibir o terrorismo. Foi esta política que forçou os terroristas árabes
a empreender ataques suicidas com bombas, pois a prática anterior de metralhar
multidões e fugir não estava mais dando resultado – as vítimas revidavam ao
fogo! Muito embora a imprensa brasileira omita este fato, a maioria dos
terroristas mortos em Israel o foi por cidadãos comuns e não pela polícia ou
forças de segurança. Certamente a ladainha anti-armas do Viva Rio (Entregue sua
arma agora!) não faria, em Israel, o sucesso que faz com os judeus brasileiros.
Nos EUA, diversos intelectuais
judeus e rabinos opinam francamente a favor do direito à posse de armas. Existe
até uma organização chamada Judeus pela Preservação do Direto de Ter Armas de
Fogo (Jews for the Preservation of Firearms Ownership – http://www.jpfo.org)
que é muito atuante. Colhemos a ilustração que encabeça este artigo de um
desses sítios na internet. Nela está escrito: “Armadas – as pessoas exibem suas
cores; Desarmadas - as vítimas são discriminadas por elas” (em tradução livre).
Nada parecido existe na internet brasileira.
Mais uma vez, outra vez
A história está se repetindo
no Brasil e os sinais estão aí para quem tem olhos e bom senso para ver. Mais
uma vez os judeus assumem a atitude irresponsável da omissão diante de uma
situação de alto risco potencial. O movimento pelo desarmamento civil não é um
movimento especificamente anti-semita, mas tem um componente de totalitarismo
fascista que não pode ser ignorado. É uma “Espada de Dâmocles” ameaçando todas
as minorias étnicas e políticas do país. A criminalização da mera posse de uma arma
será usada como pretexto para buscas em domicílios, prisões, execração pública
e outras formas de coação sobre adversários políticos e inimigos pessoais de
alguma autoridade, tal como já ocorreu em inúmeros outros países e ocasiões. É
também um gatilho armado para o genocídio e só o tempo dirá como, quando e quem
o disparará. É um assunto muito sério para ser tratado da forma leviana como
está sendo tratado, ainda mais diante das outras posturas de nossos atuais
governantes que incluem a tolerância com ações violentas de grupos radicais,
tais como o MST.
Que boa parte da população
brasileira, devido a seu baixo nível cultural, seja iludida pelo circo armado
pelo governo e TV GLOBO, é compreensível. Mas que os judeus, devido a seu grau
de escolaridade acima da média e seu passado ainda recente, compactuem com essa
impostura é inconcebível e inadmissível.
Título e Texto:
Walter C. Merling Jr.
Economista, museólogo e
historiador.
Presidente da Associação
Brasileira dos Colecionadores de Armas - ABCA
Leonardo Arruda
Engenheiro
Diretor da Associação Nacional
dos Proprietários e Comerciantes de Armas - ANPCA
Artigo publicado originalmente
no jornal “Monitor Mercantil” do RJ em 28 de junho de 2005
Enviado por Jorge Cunha
Notas:
(1) Judenrat: Conselho
de representantes judeus criados pelos nazistas nas comunidades e guetos para executarem
as suas instruções.
(2) Programa “Mostre sua raça – declare sua cor” –
Portaria 156 de 20/out/2004 do Ministério da Educação
(3) Filinto Muller: Chefe da
Polícia do Distrito Federal durante o Estado Novo (1937 – 1945). Era favorável às
potências do Eixo. Perseguiu e torturou muitos judeus acusados de serem
comunistas.
(4) Oswaldo Aranha: Chanceler
brasileiro durante o Estado Novo. Era favorável aos Aliados. Presidiu a seção
da ONU que criou o Estado de Israel em 1947.
(5) Pogrom: Chacinas e
saques de comunidades judias realizadas na Europa desde o séc. XI.
(6) Não considerando o período
holandês (1630 – 1654)
(7) Kristallnacht: Noite
dos Cristais (09-11-1938) – Noite em que sinagogas foram queimadas e estabelecimentos
judeus foram atacados e saqueados por nazistas e simpatizantes. O nome deriva
dos cacos de vidros das vitrines que encheram as ruas de várias cidades alemãs.
Foi o primeiro pogrom alemão na era
contemporânea e considerado o início do Holocausto.
(8) Torah: A Bíblia
judaica - The Torah and Self-Defense,
por David Kopel. - Penn State Law Review
(9) Armas legais: São aquelas
devidamente registradas nos órgãos competentes.
(10) Purim: Festa
comemorada em 23 de Shevat (fev./mar) lembrando os judeus que se armaram, lutaram
e derrotaram o exército do ministro persa que queria exterminá-los.
(11) Sabras: nativos de Israel
Relacionados:
Dissemos não ao desarmamento, diremos não ao SBT
"Brasil, Noruega e os seus cordeiros mortos"
Criminoso é profissão? Advogado diz que é uma profissão ética
Dissemos não ao desarmamento, diremos não ao SBT
"Brasil, Noruega e os seus cordeiros mortos"
Criminoso é profissão? Advogado diz que é uma profissão ética
É precisao tomar cuidado.
ResponderExcluirSabemos que a historia se repete. Sempre.