Aproxima-se, a passos
largos, o tempo de deixar de insistir apenas em novas taxas e impostos, e de
demolir a parte inútil do Estado.
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Foto: Daniel Alexandre, 27-08-2008 |
Nuno Rogeiro
O Governo é todo o mesmo. Mas,
depois das medidas drásticas de agravamento fiscal, ficou um equívoco. E Passos
Coelho teve de ir ao Pontal pedir (aos ministros) e anunciar (à rua) um
programa “ambicioso” de corte na despesa pública.
Regressando às coisas básicas, esta direção é
essencial. Hoje até o cada vez mais minúsculo Bloco de “Esquerda” e o
cadaverizado (mas crente na ressurreição) Partido “Socialista” clamam pelo fim
das “gorduras do Estado”. E o PCP, sempre cauteloso nos seus ódios e
entusiasmos, também não está contra. No fundo, reconhece-se que o grande
desastre deste regime foi a engorda do sector público, sob pretexto de auxílio
à luta contra a pobreza.
Quase 40 anos depois do 25 de Abril, temos de
perguntar se o Estado fez o que devia, na tentativa de tornar Portugal num país
não só democrático mas justo. Não só pluralista, mas decente.
Pertenço a uma geração, e a um grupo, e a uma
tribo, que sempre acreditou numa trilogia: nacionalismo, Estado social,
revolução cultural. Para nós, “nação” e “povo” eram a mesma coisa, e nenhum se
resumiria a bandeirinhas nas ruas, e eram os dois ofendidos com a venda do País
a retalho. Para nós, o Estado não podia desertar das suas responsabilidades,
enquanto na sociedade existisse a miséria. Para nós, uma comunidade culta era
uma comunidade livre. E queríamos ser livres.
Muita água passou debaixo das pontes, e por baixo
dos nossos sonhos. Tivemos muitos mortos, perdemos e ganhámos batalhas, vimos
ideias queridas ganhar espaço no poder e outras morar ainda na clandestinidade.
Mas nesta luta havia também um elemento de senso comum, que ultrapassa as
facções, e que permite esquerdas e direitas (e os que, no nosso clã, eram
contra as duas) concordar nos pontos fulcrais. Um desses pontos, nos dias que
correm, é a necessidade de sair do abismo financeiro, e de recomeçar.
Não há recomeço sem olhar de
frente o problema do Estado, dos seus fins e das funções, da sua verdadeira
dimensão. Vimos como a troika, e os seus apêndices, confirmaram o que já se
suspeitava, o que já se dizia, o que já se sabia, em voz baixa: há muito mais
Estado real do que o Estado declarado.
Houve, até agora, medidas sectoriais de poupança –
do ar condicionado aos bilhetes de avião – e uma série de propostas de fusão,
remodelação, redução e extinção, de empresas municipais a institutos públicos.
Sabemos também, dos livros e da realidade, que é mais difícil cortar em
estruturas permanentes do que granjear receita extraordinária. Um peditório é
sempre mais rápido do que uma demolição.
Mas o Governo, e os governados, não se podem
iludir. O tempo de demolição aproxima-se. Há é que ter o cuidado de proteger os
cidadãos da derrocada. Em qualquer queda pode haver consequências não
desejadas.
Título e Texto: Nuno
Rogeiro, Sábado, nº 382, 25 a 31-08-2011
Digitação: JP
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