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Boeing 767, foto: hiltinhogalo |
Desembarquei hoje cedo de um
cansativo voo Miami-Rio. Não seria assim - fiz uma perna muito mais longa para
Londres em junho e não cansei a metade dessa - se não tivesse feito os dois trajetos,
pela TAM, em Boeings 767 caindo de velhos. Tudo bem que as tripulações de
cockpit adoram esse jato pela sua confiabilidade e maleabilidade, e que
provavelmente a empresa mantém esses dois calhambeques na rota Rio-Miami por
conta de possíveis custos baixos de operações (além de ser Boeing, cuja
manutenção nos EUA é mais barata, são 767 e muito antigos, ou seja o leasing
deve ser pequeno em relação ao custo total, aumentando a margem de lucro). Mas
nós não viajamos no cockpit e sim em uma cabine antiquada, desconfortável e
extremamente pobre. Mas pagamos o mesmo que o pessoal que voa a partir de SP
para o mesmo destino.
Estava no portão J7 do
confortável terminal no aeroporto de Miami - depois comentarei o que achei
interessante em outro artigo - observando o embarque para São Paulo e notei que
na rota para Guarulhos o equipamento é um novíssimo Boeing 777 - provavelmente
um dos que fui com o pessoal da companhia acompanhar a construção em Seattle,
há alguns anos. E justamente por conta de conhecer as enormes diferenças entre
ambos é que me dou o direito de fazer esta crítica. E de sugerir à TAM, por uma
questão de justiça com o próprio cliente, que cobre bem menos pelo trecho até
Miami quando se embarca a partir do Galeão. Precisamos estar a par do que vamos
enfrentar quando entramos no finger.
Para vocês terem uma ideia do
que falo, o jato que usei na ida tinha folgas grandes naqueles painéis que
sustentam as janelas. Não é algo que afete a segurança, mas passa a impressão
de desgaste e desinteresse com o passageiro. O pior de tudo, em ambos os
aviões, é o sistema de entretenimento: não há monitores individuais, mas na
econômica um telão central, e duas televisões com tela oval penduradas no teto.
Para quem está no fundo da cabine, nem adianta tentar ver o telão, porque só metade
da tela, quando muito, é visível - isso se não houver ninguém em pé no
corredor.
Como a tripulação começa a
servir o jantar logo após a decolagem, em ambos os trajetos não se podia
enxergar nada do filme por conta do reflexo da luz de bordo acesa no vidro
curvo. A qualidade da imagem é sempre péssima, cheia de interferências.
Perguntado sobre o problema por outro passageiro tão irritado com a pobreza
como eu, o comissário disse baixinho: "não adianta fazer nada, o sistema
de vídeo ainda é em VHS" (!). Não se usa mais vídeos assim em aviões há
uns dez anos pelo menos. Só naqueles, como parece ser o caso, em que a intenção
é muito mais ganhar pelo assento vendido e ocupado do que, como o marketing da
empresa propõe, proporcionar uma experiência agradável de voo. Não consegui ver
nenhum dos filmes exibidos, aliás, eu e todos os outros passageiros.
Outro ponto irritante e que
expôe a defasagem desses jatos é o overhead compartment, o bagageiro acima dos
assentos. O projeto é de uma época em que as pessoas não levavam as chamadas
carry on, as malas de viagem executivas que não precisam ser despachadas.
Aliás, não levavam quase nada a bordo. Em ambos os 767 que viajei os bagageiros
eram pequenos em termos de profundidade - os atuais seguem até a linha do
corredor, menores ainda em altura e, o que piora mais, possuem uma antiquada
tampa com moldura. A não ser mochilas pequenas e casacos, quase nada pode ser
colocado ali. O problema não é menor nos bagageiros situados no centro do
avião: mesmo sendo um pouco maiores, são menos profundos. As malas entram, mas
a porta não fecha. A tripulação - tive a sorte de ser atendido pelo mesmo grupo
na ida e na volta, e vi como compensam a deficiência de conforto com um
atendimento simpático e prestativo - perde tempo e paciência tentando acomodar
volumes até pequenos antes das decolagens.
Ah, esqueci das poltronas, mas
sei que isso é um ponto mais da companhia que do próprio jato, uma vez que
sei, pelo vídeo de bordo, que a TAM tem uma área de recuperação delas. O que
notei é que, embora a forração do piso estivesse em ótimas condições e os
tecidos dos bancos não parecessem velhos e desgastados, o mesmo não pude dizer
da espuma dos assentos. Com o tempo de voo e o peso do corpo, tanto na ida
quanto na volta essa parte do assento desapareceu, e tive de evitar uma dor na
coluna maior usando o cobertor de bordo como reforço.
Por tudo isso acho que a TAM
faria mais justiça aos seus clientes se cobrasse para voos nos 767 uma tarifa
entre o que é cobrado aos passageiros privilegiados de Guarulhos e a que é
aplicada aos viajantes que seguem para Miami pela Copa Airlines. Essa, sim, é
confusa no check-in, perde reservas, obriga o pessoal a ficar cinco horas
esperando a conexão no Panamá e mesmo assim não garante o embarque. E voa com
os Boeings 737, que não são adequados para percursos longos. Mas nesse caso,
você sabe o que está levando quando aceita pagar um preço muito menor que o
cobrado pelas outras companhias.
Para quem vive apostando na
aproximação com o público carioca, o 767 funciona bem é para detonar o esforço
do marketing.
Título e Texto: Marcelo
Ambrosio, Jornal do Brasil, 26-08-2011
É, me fez lembrar o 767 que a antiga Varig colocava no trecho Rio-Lis-Rio; simplesmente um desrespeito com os passageiros daquela rota, nem sei, nunca entendi, como esses voos estavam sempre lotados...
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