segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quer andar de carro velho, amor? Então venha de… 767!


Boeing 767, foto: hiltinhogalo

Desembarquei hoje cedo de um cansativo voo Miami-Rio. Não seria assim - fiz uma perna muito mais longa para Londres em junho e não cansei a metade dessa - se não tivesse feito os dois trajetos, pela TAM, em Boeings 767 caindo de velhos. Tudo bem que as tripulações de cockpit adoram esse jato pela sua confiabilidade e maleabilidade, e que provavelmente a empresa mantém esses dois calhambeques na rota Rio-Miami por conta de possíveis custos baixos de operações (além de ser Boeing, cuja manutenção nos EUA é mais barata, são 767 e muito antigos, ou seja o leasing deve ser pequeno em relação ao custo total, aumentando a margem de lucro). Mas nós não viajamos no cockpit e sim em uma cabine antiquada, desconfortável e extremamente pobre. Mas pagamos o mesmo que o pessoal que voa a partir de SP para o mesmo destino.
Estava no portão J7 do confortável terminal no aeroporto de Miami - depois comentarei o que achei interessante em outro artigo - observando o embarque para São Paulo e notei que na rota para Guarulhos o equipamento é um novíssimo Boeing 777 - provavelmente um dos que fui com o pessoal da companhia acompanhar a construção em Seattle, há alguns anos. E justamente por conta de conhecer as enormes diferenças entre ambos é que me dou o direito de fazer esta crítica. E de sugerir à TAM, por uma questão de justiça com o próprio cliente, que cobre bem menos pelo trecho até Miami quando se embarca a partir do Galeão. Precisamos estar a par do que vamos enfrentar quando entramos no finger.
Para vocês terem uma ideia do que falo, o jato que usei na ida tinha folgas grandes naqueles painéis que sustentam as janelas. Não é algo que afete a segurança, mas passa a impressão de desgaste e desinteresse com o passageiro. O pior de tudo, em ambos os aviões, é o sistema de entretenimento: não há monitores individuais, mas na econômica um telão central, e duas televisões com tela oval penduradas no teto. Para quem está no fundo da cabine, nem adianta tentar ver o telão, porque só metade da tela, quando muito, é visível - isso se não houver ninguém em pé no corredor.

Como a tripulação começa a servir o jantar logo após a decolagem, em ambos os trajetos não se podia enxergar nada do filme por conta do reflexo da luz de bordo acesa no vidro curvo. A qualidade da imagem é sempre péssima, cheia de interferências. Perguntado sobre o problema por outro passageiro tão irritado com a pobreza como eu, o comissário disse baixinho: "não adianta fazer nada, o sistema de vídeo ainda é em VHS" (!). Não se usa mais vídeos assim em aviões há uns dez anos pelo menos. Só naqueles, como parece ser o caso, em que a intenção é muito mais ganhar pelo assento vendido e ocupado do que, como o marketing da empresa propõe, proporcionar uma experiência agradável de voo. Não consegui ver nenhum dos filmes exibidos, aliás, eu e todos os outros passageiros.
Outro ponto irritante e que expôe a defasagem desses jatos é o overhead compartment, o bagageiro acima dos assentos. O projeto é de uma época em que as pessoas não levavam as chamadas carry on, as malas de viagem executivas que não precisam ser despachadas. Aliás, não levavam quase nada a bordo. Em ambos os 767 que viajei os bagageiros eram pequenos em termos de profundidade - os atuais seguem até a linha do corredor, menores ainda em altura e, o que piora mais, possuem uma antiquada tampa com moldura. A não ser mochilas pequenas e casacos, quase nada pode ser colocado ali. O problema não é menor nos bagageiros situados no centro do avião: mesmo sendo um pouco maiores, são menos profundos. As malas entram, mas a porta não fecha. A tripulação - tive a sorte de ser atendido pelo mesmo grupo na ida e na volta, e vi como compensam a deficiência de conforto com um atendimento simpático e prestativo - perde tempo e paciência tentando acomodar volumes até pequenos antes das decolagens.
Ah, esqueci das poltronas, mas sei que isso é um ponto mais da companhia que do próprio jato, uma vez que sei, pelo vídeo de bordo, que a TAM tem uma área de recuperação delas. O que notei é que, embora a forração do piso estivesse em ótimas condições e os tecidos dos bancos não parecessem velhos e desgastados, o mesmo não pude dizer da espuma dos assentos. Com o tempo de voo e o peso do corpo, tanto na ida quanto na volta essa parte do assento desapareceu, e tive de evitar uma dor na coluna maior usando o cobertor de bordo como reforço.
Por tudo isso acho que a TAM faria mais justiça aos seus clientes se cobrasse para voos nos 767 uma tarifa entre o que é cobrado aos passageiros privilegiados de Guarulhos e a que é aplicada aos viajantes que seguem para Miami pela Copa Airlines. Essa, sim, é confusa no check-in, perde reservas, obriga o pessoal a ficar cinco horas esperando a conexão no Panamá e mesmo assim não garante o embarque. E voa com os Boeings 737, que não são adequados para percursos longos. Mas nesse caso, você sabe o que está levando quando aceita pagar um preço muito menor que o cobrado pelas outras companhias.
Para quem vive apostando na aproximação com o público carioca, o 767 funciona bem é para detonar o esforço do marketing.
Título e Texto: Marcelo Ambrosio, Jornal do Brasil, 26-08-2011

É, me fez lembrar o 767 que a antiga Varig colocava no trecho Rio-Lis-Rio; simplesmente um desrespeito com os passageiros daquela rota, nem sei, nunca entendi, como esses voos estavam sempre lotados...

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