Rita Tavares
Presidente conta bastidores da crise política de 2011 no dia em que
comemora um ano do segundo mandato
José Sócrates nunca soube
lidar com a perda da maioria absoluta, teve uma “acção política obstinada”,
ignorou de “forma deliberada” os avisos, escondeu a realidade da crise
económica atrás de debates sobre “temas fracturantes”, não mostrou “genuíno
interesse” em conseguir uma base política estável para cumprir o segundo
mandato no governo e foi desleal com o Presidente da República. Difícil de
acreditar que esta descrição possa vir de Cavaco Silva, mas (em síntese) é
mesmo assim.
Tudo isto consta no prefácio do livro “Roteiros VI” que vem hoje a público e com o qual Cavaco Silva quis assinalar o primeiro ano do seu último mandato em Belém. No texto, longo e detalhado, o Presidente da República abre o livro sobre os bastidores da crise política de há um ano e coloca Sócrates como o principal responsável pelo desenrolar dos acontecimentos. O “destino do governo minoritário”, como lhe chama Cavaco, foi ditado logo no seu primeiro dia.(Íntegra do prefácio aqui)
Tudo isto consta no prefácio do livro “Roteiros VI” que vem hoje a público e com o qual Cavaco Silva quis assinalar o primeiro ano do seu último mandato em Belém. No texto, longo e detalhado, o Presidente da República abre o livro sobre os bastidores da crise política de há um ano e coloca Sócrates como o principal responsável pelo desenrolar dos acontecimentos. O “destino do governo minoritário”, como lhe chama Cavaco, foi ditado logo no seu primeiro dia.(Íntegra do prefácio aqui)
DESTINO TRAÇADO DE 2009
Em Outubro deste ano, depois
das legislativas, Cavaco Silva conta agora que a sua acção foi comedida – não
foi “além do razoável” – na procura de um acordo político que ultrapassasse as
dificuldades de um governo minoritário. Motivo? A oposição não queria – e o PS
“não manifestou interesse genuíno”, diz Cavaco Silva apesar de Sócrates ter
promovido, na altura, encontros em São Bento com todas as forças políticas.
Sobre o executivo que saiu das eleições, o Presidente considera que “revelava
grande dificuldade em adaptar-se à situação decorrente da maioria absoluta”.
E na altura, Sócrates era um
grande entrave a qualquer entendimento. É o próprio Presidente que frisa o
“ressentimento” que ouvia entre a oposição face ao PS “sobretudo ao seu líder”.
Apesar de não ter tido essa experiência quando esteve no governo, Cavaco Silva
diz que depois de uma maioria absoluta as dificuldades de um governo
minoritário são “potenciadas”. A propósito, diz, aconselhou a José Sócrates
“humildade democrática”. Não foi ouvido.
OS AVISOS DE 2010
“Múltiplas chamadas de
atenção” transmitidas “em privado” (nas reuniões semanais) ao
primeiro-ministro, “chegando mesmo ao limite da terminologia que um Presidente
pode utilizar” não chegaram, entende Cavaco Silva, para travar uma “forma
obstinada de acção política”. É assim que acaba por descrever a acção
governativa que o Presidente diz ter ignorado os sinais de alerta que foi dando
ao longo de 2010. Lembra que começou no primeiro dia desse ano, quando falou no
risco de uma “situação explosiva”, e seguiu com intervenções cada vez mais
intensas. Por essa altura, “preferiu desviar-se as atenções dos portugueses
para polémicas e controvérsias, abrindo “questões fracturantes” que tinham como
propósito marcar a agenda política e mediática e, assim, iludir os cidadãos”. Cavaco
Silva não atribui directamente, mas nessa altura o PS aprovava na Assembleia da
República a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mas foi no início de 2011,
depois de uma intervenção do governador do Banco de Portugal sobre a insustentabilidade
das trajectórias das dívidas pública e externa, que o Presidente teve a “prova
definitiva”. Das duas uma: ou a classe política “não estava plenamente
consciente da gravidade da situação” ou “o que era pior, ignorava-a de forma
deliberada”.
A “FALTA DE LEALDADE” EM 2011
Se no Orçamento do
Estado para 2001 o Presidente não teve queixas sobre a actuação do governo, o
mesmo não se passou sobre o PEC IV que ditou a queda do executivo. Na altura
foi noticiado que o executivo não informara o Presidente sobre as alterações ao
programa. Mas Cavaco Silva nunca falou disso. Até agora. No prefácio do seu
novo livro diz com clareza: “Tratou-se de uma falta de lealdade institucional
que ficará registada na história da nossa democracia”. E diz mesmo que o episódio
marcou o princípio do fim do governo de Sócrates.
Para demonstrar esta teoria,
Cavaco Silva recorda as negociações para o Orçamento do Estado de 2011: “Foi-me
possível durante dois meses acompanhar de perto as questões políticas e
financeiras”. O Orçamento acabou aprovado apesar da maioria relativa
socialista: “Conseguiu evitar-se a ocorrência de uma crise política”. Já no PEC
IV, a postura do governo mudou, nota o Presidente respondendo a quem o criticou
por não ter actuado para evitar a crise. A esses diz mesmo que simularam “não
ver que o comportamento do governo em relação ao Presidente da República, no
caso do Orçamento para 2011 e no caso do PECIV, eram diametralmente diferentes.
AJUDA TARDIA
No “ponto de hora”, que diz
ter sido o do governo, em não pedir ajuda externa, Cavaco Silva faz questão de
frisar um episódio concreto: o governo só agiu depois de uma entrevista do
ministro das Finanças de então. Nessa tarde Teixeira dos Santos adiantou-se e,
ao “Jornal de Negócios” admitiu que o país devia recorrer a esses mecanismos de
financiamento disponíveis no quadro europeu. “O facto de, depois da demissão do
primeiro-ministro, se ter começado a viver um ambiente de pré-campanha
eleitoral, certamente contribuiu para o atraso no pedido de auxílio”, diz.
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