Alberto Gonçalves
A cada dia, nos vários cantos
da Terra, milhares de economistas distribuem palpites sobre a bancarrota de
alguns países europeus, entre os quais Portugal. Os portugueses, ou pelo menos
os portugueses que militam no PS e no Bloco, só prestam atenção aos palpites de
um economista: o americano Paul Krugman. Porquê? Mistério.
É verdade que o sr. Krugman
foi Nobel da Economia, mas nem o prémio é prova inquestionável de sensatez nem
deixa de distinguir sujeitos com concepções bastante díspares. É verdade que o
sr. Krugman se define como um discípulo de Keynes, mas, por incrível que
pareça, "keynesianos" há às resmas, e a tese de que a economia
depende de "investimentos" estatais para avançar já conheceu melhores
dias, quase todos antes de os "investimentos" espatifarem diversas
economias.
Do blogue "O felino" |
É verdade que inúmeros especialistas consideram o sr. Krugman um
génio, mas qualquer leigo percebe que a sua genialidade não dispensa uma dose
considerável de banalidades e contradições. É verdade que o sr. Krugman é um
convicto defensor do Estado dito "social", mas essa crença mostra-se
de escassa utilidade numa crise que, em larga medida, é a crise do próprio
Estado dito "social". É verdade que o sr. Krugman tem sido um
simpatizante crítico da administração Obama, mas por azar tende na maioria das
vezes a simpatizar com os erros da administração e a criticar os raros acertos.
É verdade que o sr. Krugman chegou a trabalhar no Banco de Portugal, mas um
estágio de três meses em 1976 não habilita ninguém a conduzir a nação através de
uma coluna no New York Times. É verdade que o eng. Sócrates chegou a citar
favoravelmente o sr. Krugman, mas a realidade devia levar a que fugíssemos
apavorados das referências do ex-primeiro-ministro, não a que as
homenageássemos com três doutoramentos de três universidades públicas lisboetas
conforme aconteceu esta semana.
Em carne, osso e aura, o sr.
Krugman veio a Lisboa recolher a vassalagem. Após recomendar que os salários
dos indígenas caíssem 30% face à Alemanha (o que é curioso para um icónico adversário
da austeridade), almoçar com Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar (o que é
bizarro para um líder, mesmo que remoto, da oposição) e elogiar as políticas do
Governo (o que é inaudito para quem, grosso modo, sempre prescreveu políticas
opostas), o sr. Krugman admitiu que Portugal é um país "difícil de
explicar". Se ele não consegue, imagine-se nós.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de
Notícias
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