quarta-feira, 7 de março de 2012

Origem de um insulto antissemita atualmente em voga na Venezuela

Cabe nos perguntar se estamos involuindo àqueles lúgubres tempos…

BEATRIZ W. DE RITTIGSTEIN para o jornal ‘EL UNIVERSAL’ de Caracas – tradução de FRANCISCO VIANNA
Terça feira, 6 de março de 2012 12:00 AM


Há pouco, num dos programas noturnos do canal de TV estatal, ‘Venezolana de Televisión’, o animador criticou um artigo da imprensa no qual sua autora analisou possíveis significados e conotações de determinado insulto aos judeus, especificamente o termo "cochino" (porco)...
O condutor do dito programa citou o sinônimo "marrano" (de modo errado, difundiu-se a idéia de que o termo ‘marrano’, que em espanhol significa "porco", demonstrava o sentido ofensivo do termo na sua origem, e que se espalhou pela Península Ibérica para designar os judeus) e declarou que assim se diz aos judeus que adotam outro credo; mas sua explicação foi muito singular, e afirmou: "se diz aos judeus quando saem da religião israelita, aí dizendo que são ‘marranos’ (porcos). Isso é quando o judeu deixa de professar a fé israelita e se converte ao cristianismo, principalmente ao catolicismo. Ou seja, se o judeu chama de ‘marrano’ ao convertido não é um insulto... Que Chávez chame de ‘cochino’ pela acepção que estávamos dizendo, isso resulta num insulto. Mas quando judeus chamam de ‘marrano’ um convertido, isso não é um insulto"?
Essa explicação não está certa e merece ser esclarecida com o fato de que, desde o início do século XIII, na Península Ibérica, centenas de judeus e árabes muçulmanos foram coagidos a se converter ao catolicismo romano como a única opção de permanecerem na Europa e até de preservar suas vidas. Numerosos convertidos (cristãos novos) prosseguiram às escondidas com a prática da religião com a qual haviam nascido e educados. Precisamente, a sociedade católica dessa época, herdeira do obscurantismo da Idade Média, cuja ‘Santa Inquisição’ os forçou ao batismo, passou a chamá-los, depreciativamente, de ‘marranos’. Constituiu uma maneira pejorativa e desprezível de assinalar que continuavam com suas regras alimentares, em referência à proibição judaica de comer carne de porco.
Cabe-nos perguntar se estamos involuindo àqueles tempos lúgubres, pois de nada vale repetir múltiplas vezes que não são antissemitas, se cada vez que consideram um tema espinhoso relacionado com o povo judeu, a má vontade e as acusações surgem junto logo adiante.
Como se vê, a Igreja Católica de Roma já teve seus períodos de fundamentalismo radical, que ainda subsiste porém de modo contido.
Nota do Tradutor:
A palavra ‘porco’ vem do Latim porcus, que significa “porco, suíno doméstico”, da raiz proto Indo-Européia ‘pork-’. Esse redondo e útil bichinho tem também outros nomes, como suíno, do Latim ‘sus’, da raiz Indo-Européia ‘su-‘, de mesmo significado. Também pode ser chamado de ‘marrano’ ou ‘marrão’, mas essa palavra quase não se usa mais hoje em dia; há inclusive dicionários que não a incluem, talvez por temor de serem considerados incorretos nesta época.
Acontece que ‘marrano’ ou ‘marrão’ são palavras que derivam do árabe ‘al-mahram’, que significa “o que é proibido”, em alusão à antiga proibição da crença israelita de consumir a carne deste mamífero por considerá-la ‘suja’ ou ‘impura’, crença que se acredita ter origem na maneira de criá-lo em pocilgas sujas e lamacentas. A proibição teria também uma justificativa do conhecimento antigo de que o porco era capaz de transmitir doenças parasitárias tais como a fasciolose (Fasciola hepatica) e a teníase (T. Soleum), ou solitária do porco, e portanto teria motivos sanitários.
Em função disso, o termo era usado como palavrão e xingamento para designar os semitas da época (judeus e árabes) principalmente após a ‘Santa Inquisição’ católica romana ter coagido os não cristãos a se converterem ou deixarem a península ibérica de volta ao Marrocos e ao norte da África de onde os árabes muçulmanos começaram sua invasão branca da Gália (França) e a Ibéria (Espanha e Portugal) a partir do século VII da era cristã.
Muita gente pode pensar inclusive que isso tinha ficado no passado distante, mas o antijudaísmo é tão dedicado por parte dos socialistas fascistas, como Hugo Chávez Frías, que ele vai descobrir essas maneiras que pareciam esquecidas de ofender e insultar os judeus. Uma maneira ofensiva preferida do ditador venezuelano de ofender e insultar os judeus é chamá-los de ‘cochinos’, ou porcos, mas com caráter injurioso, insinuando que os mesmos são sujos, talvez por professarem a religião israelita. A palavra parece ser uma onomatopéia do som feito para se chamar esses animais quadrúpedes, para comer nos ‘cochos’: “Coch! Coch! Coch!”. Quem quiser que pegue algumas espigas de milho e chamem os animais dessa forma a ver se, de fato, uma vara de porcos virá correndo em sua direção... Assim como Hugo Chávez tem feito com o eleitorado venzuelano.
Já, no Brasil, onde recentemente os torcedores do Palmeiras foram apelidados de ‘porcos’ e onde o animal parece ter se tornado o mascote do clube paulista preferido da colônia italiana, não se sentem os seus ‘inchas’ nada aborrecidos de serem chamados de ‘cochinos’...
Durma-se com um barulho desses!...
Título e Texto: Beatriz W. de Rittingstein, El Universal
Tradução: Francisco Vianna

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