BEATRIZ W. DE RITTIGSTEIN
para o jornal ‘EL UNIVERSAL’ de Caracas – tradução de FRANCISCO VIANNA
Terça
feira, 6 de março de 2012 12:00 AM
Há pouco, num dos programas
noturnos do canal de TV estatal, ‘Venezolana de Televisión’, o animador
criticou um artigo da imprensa no qual sua autora analisou possíveis
significados e conotações de determinado insulto aos judeus, especificamente o
termo "cochino" (porco)...
O condutor do dito programa
citou o sinônimo "marrano" (de modo errado, difundiu-se a idéia de
que o termo ‘marrano’, que em espanhol significa "porco", demonstrava
o sentido ofensivo do termo na sua origem, e que se espalhou pela Península
Ibérica para designar os judeus) e declarou que assim se diz aos judeus que
adotam outro credo; mas sua explicação foi muito singular, e afirmou: "se
diz aos judeus quando saem da religião israelita, aí dizendo que são ‘marranos’
(porcos). Isso é quando o judeu deixa de professar a fé israelita e se converte
ao cristianismo, principalmente ao catolicismo. Ou seja, se o judeu chama de
‘marrano’ ao convertido não é um insulto... Que Chávez chame de ‘cochino’ pela
acepção que estávamos dizendo, isso resulta num insulto. Mas quando judeus
chamam de ‘marrano’ um convertido, isso não é um insulto"?
Essa explicação não está certa
e merece ser esclarecida com o fato de que, desde o início do século XIII, na
Península Ibérica, centenas de judeus e árabes muçulmanos foram coagidos a se
converter ao catolicismo romano como a única opção de permanecerem na Europa e
até de preservar suas vidas. Numerosos convertidos (cristãos novos)
prosseguiram às escondidas com a prática da religião com a qual haviam nascido
e educados. Precisamente, a sociedade católica dessa época, herdeira do
obscurantismo da Idade Média, cuja ‘Santa Inquisição’ os forçou ao batismo,
passou a chamá-los, depreciativamente, de ‘marranos’. Constituiu uma maneira
pejorativa e desprezível de assinalar que continuavam com suas regras
alimentares, em referência à proibição judaica de comer carne de porco.
Cabe-nos perguntar se estamos
involuindo àqueles tempos lúgubres, pois de nada vale repetir múltiplas vezes
que não são antissemitas, se cada vez que consideram um tema espinhoso
relacionado com o povo judeu, a má vontade e as acusações surgem junto logo
adiante.
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Como se vê, a Igreja Católica
de Roma já teve seus períodos de fundamentalismo radical, que ainda subsiste
porém de modo contido.
|
Nota do Tradutor:
A palavra ‘porco’ vem do Latim
porcus, que significa “porco, suíno doméstico”, da raiz proto Indo-Européia
‘pork-’. Esse redondo e útil bichinho tem também outros nomes, como suíno, do
Latim ‘sus’, da raiz Indo-Européia ‘su-‘, de mesmo significado. Também pode ser
chamado de ‘marrano’ ou ‘marrão’, mas essa palavra quase não se usa mais hoje
em dia; há inclusive dicionários que não a incluem, talvez por temor de serem
considerados incorretos nesta época.
Acontece que ‘marrano’ ou
‘marrão’ são palavras que derivam do árabe ‘al-mahram’, que significa “o que é
proibido”, em alusão à antiga proibição da crença israelita de consumir a carne
deste mamífero por considerá-la ‘suja’ ou ‘impura’, crença que se acredita ter
origem na maneira de criá-lo em pocilgas sujas e lamacentas. A proibição teria
também uma justificativa do conhecimento antigo de que o porco era capaz de
transmitir doenças parasitárias tais como a fasciolose (Fasciola hepatica) e a
teníase (T. Soleum), ou solitária do porco, e portanto teria motivos
sanitários.
Em função disso, o termo era
usado como palavrão e xingamento para designar os semitas da época (judeus e
árabes) principalmente após a ‘Santa Inquisição’ católica romana ter coagido os
não cristãos a se converterem ou deixarem a península ibérica de volta ao
Marrocos e ao norte da África de onde os árabes muçulmanos começaram sua
invasão branca da Gália (França) e a Ibéria (Espanha e Portugal) a partir do
século VII da era cristã.
Muita gente pode pensar
inclusive que isso tinha ficado no passado distante, mas o antijudaísmo é tão
dedicado por parte dos socialistas fascistas, como Hugo Chávez Frías, que ele
vai descobrir essas maneiras que pareciam esquecidas de ofender e insultar os
judeus. Uma maneira ofensiva preferida do ditador venezuelano de ofender e
insultar os judeus é chamá-los de ‘cochinos’, ou porcos, mas com caráter
injurioso, insinuando que os mesmos são sujos, talvez por professarem a
religião israelita. A palavra parece ser uma onomatopéia do som feito para se
chamar esses animais quadrúpedes, para comer nos ‘cochos’: “Coch! Coch! Coch!”.
Quem quiser que pegue algumas espigas de milho e chamem os animais dessa forma
a ver se, de fato, uma vara de porcos virá correndo em sua direção... Assim
como Hugo Chávez tem feito com o eleitorado venzuelano.
Já, no Brasil, onde
recentemente os torcedores do Palmeiras foram apelidados de ‘porcos’ e onde o
animal parece ter se tornado o mascote do clube paulista preferido da colônia
italiana, não se sentem os seus ‘inchas’ nada aborrecidos de serem chamados de
‘cochinos’...
Durma-se com um barulho
desses!...
Título e Texto: Beatriz W. de Rittingstein, El Universal
Tradução: Francisco Vianna
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