quarta-feira, 7 de março de 2012

Álvaro, o Canadiano, prepara um verdadeiro best-seller

António Ribeiro Ferreira
O próximo livro do ministro da Economia só pode ser publicado no estrangeiro


No dia em que Álvaro Santos Pereira regressar ao Canadá depois desta experiência governativa em Portugal, é natural que o professor aproveite a oportunidade para escrever um livro sobre a realidade lusitana, por certo bem mais interessante e revelador do que os que publicou antes de entrar nos meandros da política e da economia nacionais.
O ministro da Economia deve ter todos os dias imensas surpresas. Provavelmente nunca imaginou que o país estivesse como está e que fosse tão difícil, para não dizer impossível, desatar os nós górdios que impedem o desenvolvimento e a criação de riqueza. O ministro ficou com uma pasta imensa. É verdade. Mas não foi por isso que o mundo político, financeiro e dos negócios o escolheu como alvo preferencial. Dizer isso é, mais uma vez, tentar tapar o sol com a peneira para evitar tocar nos cancros que minam Portugal há muitos anos de doce e soalheira democracia. E para evitar gastar muitas velas com os mortos-vivos que engordam à sombra do poder e do Estado, basta ver a imensa lista de beneficiários de subsídios e outras prebendas milionárias nos sectores que Passos Coelho e o destino puseram sob a tutela do ministro da Economia.
A começar na energia, com a poderosa EDP e companhias limitadas, celuloses e outras indústrias que sacam milhões à conta do extraordinário negócio das renováveis, montado e alimentado por Sócrates, que ainda hoje deve ter um lugar muito especial no altar dos amantes exaltados do dinheiro verde, perdão, das chamadas energias verdes. E depois, logo a seguir, vem a rapaziada do betão. Não apenas as construtoras das auto-estradas sem automóveis inventadas pelo engenheiro exilado em Paris.
Também os bancos e os escritórios de advogados que engordaram com o imenso tacho das parcerias público-privadas que agora o odiado Álvaro Santos Pereira, com o empurrão da troika, se prepara para destapar, mesmo que o cheiro previsível seja absolutamente nauseabundo. E depois vêm as empresas públicas, fundamentais como agências de ricos empregos dos partidos do arco da governação e decisivas no financiamento da actividade dos chamados pilares da democracia. E não se podem esquecer nesta interminável lista de gente que sempre viveu à conta do Estado os extraordinários parceiros sociais que são alimentados como burros a pão-de-ló pelo erário público para irem, de quando em vez e quando é preciso mostrar algo para estrangeiro ver, assinar uns acordos com muita pompa e circunstância.
Álvaro Santos Pereira foi colocado por Pedro Passos Coelho no enxame das abelhas lusitanas. E o resultado está à vista. Os zangãos não gostaram que um emigrante canadiano pusesse em causa os privilégios, as mordomias, as prebendas e a péssima qualidade do mel produzido. Começaram por dizer que era mau político, só dizia disparates e ainda por cima, qual crime de lesa-pátria num país a fingir, queria que o tratassem por Álvaro. Acabaram, desesperados, a implorar à rainha-mãe que o expulsasse do enxame. Uma coisa é certa. O novo livro do ministro só pode ser editado no estrangeiro. Mas vai ser, de certeza, um best-seller obrigatório.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 07-02-2012

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