António Ribeiro Ferreira
O próximo livro do ministro da
Economia só pode ser publicado no estrangeiro
No dia em que Álvaro Santos
Pereira regressar ao Canadá depois desta experiência governativa em Portugal, é
natural que o professor aproveite a oportunidade para escrever um livro sobre a
realidade lusitana, por certo bem mais interessante e revelador do que os que
publicou antes de entrar nos meandros da política e da economia nacionais.
O ministro da Economia deve
ter todos os dias imensas surpresas. Provavelmente nunca imaginou que o país
estivesse como está e que fosse tão difícil, para não dizer impossível, desatar
os nós górdios que impedem o desenvolvimento e a criação de riqueza. O ministro
ficou com uma pasta imensa. É verdade. Mas não foi por isso que o mundo
político, financeiro e dos negócios o escolheu como alvo preferencial. Dizer
isso é, mais uma vez, tentar tapar o sol com a peneira para evitar tocar nos
cancros que minam Portugal há muitos anos de doce e soalheira democracia. E
para evitar gastar muitas velas com os mortos-vivos que engordam à sombra do
poder e do Estado, basta ver a imensa lista de beneficiários de subsídios e
outras prebendas milionárias nos sectores que Passos Coelho e o destino puseram
sob a tutela do ministro da Economia.
A começar na energia, com a
poderosa EDP e companhias limitadas, celuloses e outras indústrias que sacam
milhões à conta do extraordinário negócio das renováveis, montado e alimentado
por Sócrates, que ainda hoje deve ter um lugar muito especial no altar dos
amantes exaltados do dinheiro verde, perdão, das chamadas energias verdes. E
depois, logo a seguir, vem a rapaziada do betão. Não apenas as construtoras das
auto-estradas sem automóveis inventadas pelo engenheiro exilado em Paris.
Também os bancos e os
escritórios de advogados que engordaram com o imenso tacho das parcerias
público-privadas que agora o odiado Álvaro Santos Pereira, com o empurrão da
troika, se prepara para destapar, mesmo que o cheiro previsível seja
absolutamente nauseabundo. E depois vêm as empresas públicas, fundamentais como
agências de ricos empregos dos partidos do arco da governação e decisivas no
financiamento da actividade dos chamados pilares da democracia. E não se podem
esquecer nesta interminável lista de gente que sempre viveu à conta do Estado
os extraordinários parceiros sociais que são alimentados como burros a pão-de-ló
pelo erário público para irem, de quando em vez e quando é preciso mostrar algo
para estrangeiro ver, assinar uns acordos com muita pompa e circunstância.
Álvaro Santos Pereira foi
colocado por Pedro Passos Coelho no enxame das abelhas lusitanas. E o resultado
está à vista. Os zangãos não gostaram que um emigrante canadiano pusesse em
causa os privilégios, as mordomias, as prebendas e a péssima qualidade do mel
produzido. Começaram por dizer que era mau político, só dizia disparates e
ainda por cima, qual crime de lesa-pátria num país a fingir, queria que o
tratassem por Álvaro. Acabaram, desesperados, a implorar à rainha-mãe que o
expulsasse do enxame. Uma coisa é certa. O novo livro do ministro só pode ser
editado no estrangeiro. Mas vai ser, de certeza, um best-seller obrigatório.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 07-02-2012
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