sábado, 3 de março de 2012

Seguro exige, não aceita, recusa e pede

António Ribeiro Ferreira
É a lengalenga do líder da oposição sobre tudo e sobre nada. Sem nada para dizer
Uma larga maioria dos portugueses não está nada satisfeita com o governo. É natural. Mas cerca de 70% dos inquiridos numa sondagem recente consideram que não há qualquer alternativa credível. E percebe-se porquê. A actuação do líder do PS explica bem este resultado e revela como o sistema político português está em coma e ainda não deu por isso.
António José Seguro não tem uma ideia, uma proposta, nada de novo para uma crise profunda e diferente, não apresenta uma única alternativa inovadora às políticas do governo. É tudo requentado, mais do mesmo, como se o PS tivesse parado no tempo e só por obrigação andasse por aí a debitar receitas velhas, ultrapassadas, que felizmente para os portugueses e para o país não voltam mais. O drama, diga-se em abono da verdade, não é apenas lusitano. Atinge em cheio a velha esquerda socialista europeia. O último manifesto assinado por um triste conjunto de líderes socialistas é um atestado de falência total de um projecto de sociedade baseado no investimento público e no defunto estado social, criado nos tempos em que havia dinheiro, muito dinheiro na Europa.
No tempo em que alguns se atreviam a dizer que o horário de trabalho podia ser muito reduzido e que, no limite, os cidadãos europeus podiam não trabalhar que havia dinheiro para continuar a pagar-lhes uma vida de lazer e conforto. Tudo isto acabou, só os socialistas ainda não perceberam.
E António José Seguro, obviamente, está entre os que ainda não entenderam que já pertencem a um passado que a crise ajudou a enterrar rapidamente e em força. É por isso que Seguro anda por essas estradas a dizer lugares-comuns só para mostrar que ainda está vivo. Mas, sinceramente, não havia necessidade. Seguro exige explicações sobre os prejuízos das empresas públicas, exige apoios imediatos aos agricultores, exige austeridade inteligente, exige esclarecimentos sobre as obras do Túnel do Marão, exige esclarecimentos sobre umas alegadas escutas, exige que Passos explique a conversa entre Gaspar e o ministro alemão, exige que Passos diga quem paga a dívida da Madeira e exige um plano nacional de emprego.
É por isso que Seguro não aceita uma saúde para ricos e outra para pobres, não aceita o fim do feriado do 5 de Outubro e não aceita um limite para o défice na Constituição. É por isso que Seguro recusa a reforma do poder local, recusa a redução de salários, a revisão constitucional e até responder às críticas internas. É por isso que Seguro pede à troika mais um ano para Portugal consolidar as contas, pede explicações ao governo sobre o caso BPN e pede apoio às exportações. Mais mais importantes que as exigências, as recusas e os pedidos são mesmo as promessas.
Com uma em lugar de destaque, reveladora de todo um programa político. Seguro promete uma abstenção violenta mas construtiva. Ainda bem. Portugal só tem a ganhar com um PS que não atrapalhe a redução do Estado e a tentativa de libertar a economia da burocracia e da corrupção oficial. Portugal, aliás, tinha tudo a ganhar se todos os partidos optassem pela abstenção. Violenta, claro está.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 03-03-2012
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