António Ribeiro Ferreira
É a lengalenga do líder da oposição sobre tudo e sobre nada. Sem nada para dizer
Uma larga maioria dos
portugueses não está nada satisfeita com o governo. É natural. Mas cerca de 70% dos inquiridos numa sondagem recente consideram que não há qualquer alternativa
credível. E percebe-se porquê. A actuação do líder do PS explica bem este resultado
e revela como o sistema político português está em coma e ainda não deu por
isso.
António José Seguro não tem
uma ideia, uma proposta, nada de novo para uma crise profunda e diferente, não
apresenta uma única alternativa inovadora às políticas do governo. É tudo
requentado, mais do mesmo, como se o PS tivesse parado no tempo e só por obrigação
andasse por aí a debitar receitas velhas, ultrapassadas, que felizmente para os
portugueses e para o país não voltam mais. O drama, diga-se em abono da
verdade, não é apenas lusitano. Atinge em cheio a velha esquerda socialista
europeia. O último manifesto assinado por um triste conjunto de líderes
socialistas é um atestado de falência total de um projecto de sociedade baseado
no investimento público e no defunto estado social, criado nos tempos em que
havia dinheiro, muito dinheiro na Europa.
No tempo em que alguns se
atreviam a dizer que o horário de trabalho podia ser muito reduzido e que, no
limite, os cidadãos europeus podiam não trabalhar que havia dinheiro para
continuar a pagar-lhes uma vida de lazer e conforto. Tudo isto acabou, só os
socialistas ainda não perceberam.
E António José Seguro,
obviamente, está entre os que ainda não entenderam que já pertencem a um
passado que a crise ajudou a enterrar rapidamente e em força. É por isso que
Seguro anda por essas estradas a dizer lugares-comuns só para mostrar que ainda
está vivo. Mas, sinceramente, não havia necessidade. Seguro exige explicações
sobre os prejuízos das empresas públicas, exige apoios imediatos aos
agricultores, exige austeridade inteligente, exige esclarecimentos sobre as
obras do Túnel do Marão, exige esclarecimentos sobre umas alegadas escutas,
exige que Passos explique a conversa entre Gaspar e o ministro alemão, exige
que Passos diga quem paga a dívida da Madeira e exige um plano nacional de
emprego.
É por isso que Seguro não
aceita uma saúde para ricos e outra para pobres, não aceita o fim do feriado do
5 de Outubro e não aceita um limite para o défice na Constituição. É por isso
que Seguro recusa a reforma do poder local, recusa a redução de salários, a
revisão constitucional e até responder às críticas internas. É por isso que
Seguro pede à troika mais um ano para Portugal consolidar as contas, pede
explicações ao governo sobre o caso BPN e pede apoio às exportações. Mais mais
importantes que as exigências, as recusas e os pedidos são mesmo as promessas.
Com uma em lugar de destaque,
reveladora de todo um programa político. Seguro promete uma abstenção violenta
mas construtiva. Ainda bem. Portugal só tem a ganhar com um PS que não
atrapalhe a redução do Estado e a tentativa de libertar a economia da
burocracia e da corrupção oficial. Portugal, aliás, tinha tudo a ganhar se
todos os partidos optassem pela abstenção. Violenta, claro está.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 03-03-2012
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