João Bosco Leal
Recentemente fui questionado
sobre a coragem necessária para superar os mais diversos tipos de dificuldades
pelos quais já havia passado. No momento da inesperada pergunta, não sabia como
responder, pois nunca havia pensado sobre o assunto.
Procurei então entender que
situação seria essa que, pelo menos naquele momento não me atingia, mas sim a
meu interlocutor, que certamente me questionava em busca uma solução para algo
que o afligia.
As dificuldades a que se
referia poderiam ser financeiras, educacionais, de saúde, emocionais ou muitas
outras, para mim desconhecidos, e precisava me informar melhor para poder
tentar ajudá-lo.
Apesar de reconhecer que a
vida já havia me pregado peças dos mais variados tamanhos e intensidades, tinha
também a consciência de que muitas outras ainda poderiam acontecer sobre temas
para mim ainda desconhecidos ou mesmo repetindo-se algo já vivido.
Por não usar nenhum tipo de
bebida alcoólica ou drogas e nunca haver estado próximo de quem as utiliza,
esses seriam assuntos sobre os quais muito pouco saberia e, mesmo que soubesse,
seria um conhecimento superficial, não profissional ou já vivenciado.
Sobre as dores físicas, sobre
as quais realmente poderia me classificar como uma pessoa com experiência
bastante significativa, só poderia dizer que delas não adianta reclamar, pois
isso só incomodaria nossos próximos, não as aliviando e, portanto, só nos
restaria senti-las sozinho, sabendo que passarão.
As perdas emocionais dos
relacionamentos, com o tempo se aprende, parecem ser o fim, mas sempre são
superadas, normalmente com um novo encontro, uma nova paixão.
Percebendo que o tema objeto
do questionamento era sobre a perda de entes queridos, naquele momento não tive
outra opção a não ser o de dar um exemplo figurativo, da nossa escrita sobre a
página de um caderno escolar, onde escrevemos todas as nossas lições,
experiências e aprendizados.
Respondi que imaginasse um
diário no qual vamos escrevendo a história de nossa vida, linha por linha, dia
por dia e quando a última linha é preenchida, não temos alternativa, precisamos
virar a página para continuar escrevendo.
Não poderíamos deixar de
virá-la e continuar na mesma página, mesmo que voltando para a primeira linha,
pois começaríamos a escrever sobre o que lá já estaria escrito, rasurando o
texto e tornando-o incompreensível.
Assim procedendo, logo
teríamos nos esquecido de determinadas ocorrências que, por terem sido
sobrepostas no caderno, já não poderiam ser revistas, relembradas ou
entendidas. Teríamos assim, perdido nossa própria história.
Após uma perda assim,
principalmente quando, como era o caso comum, pelo menos cronologicamente ela
jamais deveria ocorrer, o único meio de continuarmos nossa vida é virando a
página, mas deixando-a lá, documentada.
Para quem a viveu essa é, e
sempre será, a página mais importante de seu diário. Nenhuma felicidade ou tristeza
posterior será maior que a experiência lá narrada e por isso precisa permanecer
bem escrita, clara, de modo a não deixar nenhuma dúvida e para que possa ser
visitada por seu escritor toda vez que a dor da saudade chegar.
Virar a página não significa esquecer, mas continuar vivendo da única
maneira possível.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural
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