1. O sociólogo francês Patrick Champagne ensinava, anos atrás, que
estava ocorrendo uma grave inversão no processo político. As pesquisas de
opinião passaram a ser divulgadas como se fossem a própria opinião pública e
substituiram a opinião qualitativa dos acadêmicos. Esses passaram a ser
comentaristas das pesquisas de opinião, tendo que concordar com seus
resultados.
2. Vamos comparar a situação das presidentes das repúblicas da
Argentina e do Brasil nesta conjuntura. Ambas atingem níveis enormes de
popularidade. Cristina até mais que Dilma. Mas as políticas de Cristina são
percebidas como negativas para a Argentina e assim os analistas internacionais
são duros críticos da presidente.
3. No Brasil, no primeiro ano de governo, oito ministros caíram, no
mínimo por suspeição. Para a escolha do novo ministro do trabalho, o anterior –
demitido por suspeição – foi chamado pela presidente para consulta. O Congresso
está imobilizado e sem rumo há um ano e quatro meses. A ampla maioria de Dilma
não serve para nada, fora liberar emendas e aprovar o que deseja.
4. O escândalo Cachoeira-Delta ocorre nas vísceras do governo, com
um crescimento exponencial das obras da Delta no PAC, cuja “mãe” e controladora
era a super-ministra Dilma. Agora é mãe e pai e a Delta prosseguiu em 2011
surfando. Aliás, ano das fitas dos grampos. O ministro dos transportes foi
demitido e agora o grampo diz que foi um jogo arquitetado pelo Cachoeira.
5. Na Europa e nos EUA se diz que um país está em recessão quando
por três meses seguidos se repete essa situação. O Brasil está em recessão há
seis meses e nos primeiros quatro meses de 2012 o crescimento do PIB ficou
quase a 0%. E não há uma matéria, uma manchete dizendo “Brasil em recessão”. Na
Europa casos – vários – de crescimento até maior, levam a manchetes de
recessão.
6. Trata-se de tudo: juros, poupança, desindustrialização,
resultado fiscal... tudo, mas a palavra certa – RECESSÃO – não entra no discurso
da oposição, nos artigos e colunas e nas matérias da imprensa.
7. A aplicação da “Teoria da Catástrofe”, de René Thom, à política,
indica que quem não avaliar sempre as correntes submarinas e ficar apenas
olhando a tranquilidade aparente da superfície do mar, será surpreendido. Assim
foi com o paraíso dos derivativos. Para não lembrar a Europa dos anos 30. Ou a
decadência do Império Romano. Todos perfeitamente previsíveis olhando para o
fundo do mar. Assim será por aqui se não se der atenção àquilo que ninguém quer
que aconteça, mas – infelizmente – está ocorrendo em terras brasileiras.
Título e Texto: Ex-blog do Cesar Maia, 08-05-2012
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