Márvio dos Anjos

Vou direto ao ponto: sabe-se
que os brasileiros têm menos consoantes mudas (como diretor, seção) e mais
vogais na fala, que consagramos estrangeirismos (turnê em vez de digressão) e
também que preferimos o gerúndio quando nos delongamos em alguma ação (como o
que estou fazendo neste texto, enquanto tu me estás a ler). Mas isso não
significa que um brasileiro não possa ler um livro em europeu (se me permitem o
atalho) – afinal, ler um livro é uma decisão. Logo, aceita-se de antemão a
linguagem do escritor.
Camões, Pessoa, Saramago, Lobo
Antunes, Gonçalo M. Tavares, João Tordo, Manuel de Oliveira, Amália, Mariza,
António Zambujo, esses e outros são consumidos aqui nas palavras que
escolheram, sem prejuízo, assim como os angolanos e moçambicanos. João Pereira
Coutinho, colunista às terças da Folha de S.Paulo, faz-nos poucas concessões em
seu texto, e seu discurso na cadência lusitana é sempre um charme a mais. É
como se nos tocassem num cravo as obras que nos habituamos a ouvir ao piano - e
ainda assim se extraísse um som moderno.
Pode ser que em Portugal essa
percepção não seja tão aguçada, uma vez que nossas novelas e canções são
frequentes aí. Talvez ainda seja preciso abrir mais portas lusas à literatura
contemporânea brasileira. Mas os que gostam do nosso jeito de falar, cantar e
escrever normalmente apontam que há frescor, musical, coloquialidade praieira,
qualquer coisa de Novo Mundo. Os que detestam detestam e ponto.
O que não quer dizer que uma
peça de publicidade escrita em europeu não causaria estranheza, se destinada
fosse a brasileiros. Uma bula de remédio, um rótulo de comida, uma capa de
jornal diário, ou seja, os itens de uma comunicação de necessidade, por assim
dizer, precisam facilitar a compreensão do interlocutor, para que não haja
ruídos nem piadas involuntárias. O mais é preciosismo tolo, ou tola mania de subestimar
o leitor.
Título e Texto: Márvio dos
Anjos, Destak
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