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O Manifesto Comunista, originalmente denominado Manifesto do Partido Comunista (em alemão: Manifest der Kommunistischen Partei), publicado pela primeira vez
em 21 de Fevereiro de 1848
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Carlos Guimarães Pinto
Tudo começou em 2009, enquanto
alguns começavam a avisar para os perigos do crescimento da dívida pública, uns
economistas de esquerda inauguraram a moda dos manifestos com o “Manifesto pela Despesa Pública”. Mais tarde, já em plena crise da dívida soberana,
alguns membros desse grupo lançaram o “Manifesto dos economistas aterrados”.
Alguém que interpretasse o título de forma mais literal poderia depreender que
o manifesto fosse um pedido de desculpas em forma de sacrifício físico. Mas
não, a única coisa que aqueles economistas tinham enterrada era a cabeça na
areia, porque continuavam a pedir exactamente o mesmo tipo de políticas que
tinha despoletado a crise.
O hábito dos manifestos de
esquerda espalhou-se entretanto. Alguns com títulos muito específicos como o“Portugal necessita de investimento público estratégico. Parar é sacrificar o futuro” ou
o “Manifesto contra a directiva de retorno”, outros menos como o “Manifesto para um mundo melhor” (como não assinar?).
2011 foi um ano grande para os
manifestadeiros, mas, a certa altura, passaram-se quase 3 dias sem manifestos e
a esquerda ficou impaciente lançando de imediato o “Manifesto contra a resignação”.
Seguiram-se os manifestos
elitistas do bloco de esquerda como o “Manifesto de 51 economistas e cientistas sociais” que, qual nightclub da moda, restringiu logo no
título o número e tipo de pessoas que poderiam participar. O PCP respondeu de
imediato com o manifesto “E o povo, pá?”. Mas não é só de lutas à esquerda que se faz a história
dos manifestos. Quando todos os meses do ano tinham já acordado assinar um
armistício, surgiu o manifesto “Abril não desarma”,
colocando de lado qualquer esperança de paz entre os meses.
A cultura é o tema preferido
dos manifestadores. Tivemos o “Manifesto – Por Uma Cultura Para o Século XXI” e umas dezenas de manifestos em
específicos para o cinema, entre os quais um com o nome criativo de “Manifesto pelo cinema português”. Claro que a cultura não vive de manifestos, mas de
acção (é preciso levantar o rabo do sofá e ir ver esses nacos de cultura que se
querem ver subsidiados). Talvez com receio da acusação de preguiça, foi lançado
o “Manifesto em defesa da cultura (o manifesto que quer ser movimento)”. Não sei
ao certo se o manifesto obteve as suas pretensões, mas espero que sim.
Mas a criatividade que muitas
vezes escasseia entre os nossos agentes culturais subsidiodependentes, não
falta aos manifestadeiros. Alguns manifestos têm títulos irónicos, como aquele
manifesto aprovado por meia dúzia de sem-abrigo no Rossio que visava contrariar
os resultados de umas eleições onde tinham votado 5 milhões pessoas, ao qual
resolveram chamar “Manifesto plural”. Alguns rimam, como o “Manifesto contra a escalada neoliberal, por uma nova agenda sindical”. Com Portugal em extâse pela
declaração do fado como património mundial, a esquerda aproveitou para lançar o
“Manifesto pela desclassificação do Douro como Património da Humanidade”. Foi nesta
altura que meio país se começou a questionar como é que a malta de esquerda
tinha tanto tempo para escrever manifestos. Eles trataram de dar a resposta –
imagine o leitor como – com o “Manifesto dos sem emprego”.
Mais recentemente, quando um
grupo de fanáticos benfiquistas homenageou o seu presidente baptizando todas as
ruas de Lisboa com o seu nome (“Rua Vieira” lia-se um pouco por todo o lado), a
esquerda não se ficou e de imediato lançou o manifesto “A rua é nossa”.
Entretanto parece que há aí
outro manifesto, que só consegui ler no Arrastão porque quando me enviaram para
o e-mail foi apanhado no filtro de spam. Chama-se “Manifesto por uma esquerda livre”.
Livre de manifestos, esperamos todos.
Título e Texto: Carlos Guimarães Pinto, no blogue “O Insurgente”, 16-05-2012
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