quarta-feira, 16 de maio de 2012

Uma breve história dos manifestos de esquerda

O Manifesto Comunista, originalmente denominado Manifesto do Partido Comunista (em alemão: Manifest der Kommunistischen Partei), publicado pela primeira vez em 21 de Fevereiro de 1848
Carlos Guimarães Pinto
Tudo começou em 2009, enquanto alguns começavam a avisar para os perigos do crescimento da dívida pública, uns economistas de esquerda inauguraram a moda dos manifestos com o “Manifesto pela Despesa Pública”. Mais tarde, já em plena crise da dívida soberana, alguns membros desse grupo lançaram o “Manifesto dos economistas aterrados”. Alguém que interpretasse o título de forma mais literal poderia depreender que o manifesto fosse um pedido de desculpas em forma de sacrifício físico. Mas não, a única coisa que aqueles economistas tinham enterrada era a cabeça na areia, porque continuavam a pedir exactamente o mesmo tipo de políticas que tinha despoletado a crise.
O hábito dos manifestos de esquerda espalhou-se entretanto. Alguns com títulos muito específicos como o“Portugal necessita de investimento público estratégico. Parar é sacrificar o futuro” ou o “Manifesto contra a directiva de retorno”, outros menos como o “Manifesto para um mundo melhor” (como não assinar?).
2011 foi um ano grande para os manifestadeiros, mas, a certa altura, passaram-se quase 3 dias sem manifestos e a esquerda ficou impaciente lançando de imediato o “Manifesto contra a resignação”.
Seguiram-se os manifestos elitistas do bloco de esquerda como o “Manifesto de 51 economistas e cientistas sociais” que, qual nightclub da moda, restringiu logo no título o número e tipo de pessoas que poderiam participar. O PCP respondeu de imediato com o manifesto “E o povo, pá?”. Mas não é só de lutas à esquerda que se faz a história dos manifestos. Quando todos os meses do ano tinham já acordado assinar um armistício, surgiu o manifesto “Abril não desarma”, colocando de lado qualquer esperança de paz entre os meses.
A cultura é o tema preferido dos manifestadores. Tivemos o “Manifesto – Por Uma Cultura Para o Século XXI” e umas dezenas de manifestos em específicos para o cinema, entre os quais um com o nome criativo de “Manifesto pelo cinema português”. Claro que a cultura não vive de manifestos, mas de acção (é preciso levantar o rabo do sofá e ir ver esses nacos de cultura que se querem ver subsidiados). Talvez com receio da acusação de preguiça, foi lançado o “Manifesto em defesa da cultura (o manifesto que quer ser movimento)”.  Não sei ao certo se o manifesto obteve as suas pretensões, mas espero que sim.
Mas a criatividade que muitas vezes escasseia entre os nossos agentes culturais subsidiodependentes, não falta aos manifestadeiros. Alguns manifestos têm títulos irónicos, como aquele manifesto aprovado por meia dúzia de sem-abrigo no Rossio que visava contrariar os resultados de umas eleições onde tinham votado 5 milhões pessoas, ao qual resolveram chamar “Manifesto plural”. Alguns rimam, como o “Manifesto contra a escalada neoliberal, por uma nova agenda sindical”. Com Portugal em extâse pela declaração do fado como património mundial, a esquerda aproveitou para lançar o  “Manifesto pela desclassificação do Douro como Património da Humanidade”. Foi nesta altura que meio país se começou a questionar como é que a malta de esquerda tinha tanto tempo para escrever manifestos. Eles trataram de dar a resposta – imagine o leitor como – com o “Manifesto dos sem emprego”.
Mais recentemente, quando um grupo de fanáticos benfiquistas homenageou o seu presidente baptizando todas as ruas de Lisboa com o seu nome (“Rua Vieira” lia-se um pouco por todo o lado), a esquerda não se ficou e de imediato lançou o manifesto “A rua é nossa”.
Entretanto parece que há aí outro manifesto, que só consegui ler no Arrastão porque quando me enviaram para o e-mail foi apanhado no filtro de spam. Chama-se “Manifesto por uma esquerda livre”. Livre de manifestos, esperamos todos.
Título e Texto: Carlos Guimarães Pinto, no blogue “O Insurgente”, 16-05-2012

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