terça-feira, 12 de março de 2013

A amizade

Luisa Castel-Branco
Os dias enrolam-se uns nos outros. Como teias de arranha. Como o fio que se dobra e se perde a ponta e se enreda de tal forma que não tem ponta por onde se lhe pegue. As noites são tão longas que parecem não ter fim. O tique-taque do relógio acompanha o bater do coração num silêncio terrível. Negro. Profundo. É assim a vida sem sonhos. É assim que nos sentimos quando baixamos os braços e temos a certeza de que não há força alguma capaz de nos mover. A solidão pesa no corpo como um casaco molhado. Mesmo quando estamos rodeados pelos outros. Nestes tempos de tristeza apenas a amizade nos pode salvar. Não o amor, não que esse pede meças, pede explicações e exige saber se o que demos é igual ao que recebemos. E feitas as contas, no amor saímos sempre a perder. Mas a amizade, quando é pura, quando é verdadeira, é o melhor bálsamo para a vida. Basta saber que contamos com alguém. Que existe um ser humano a quem podemos telefonar a altas horas da madrugada só para dizer nada. Um nada enorme feito do nosso desamparo. Das ilusões perdidas. Da saudade do que fomos, enfim seja do que for. A amizade é uma outra forma de amor. É gostar de alguém a tal ponto que nos esquecemos de nós. É aceitar o outro reconhecendo-lhe todos os defeitos e estar lá. Estar sempre lá disponível. Os dias que se adivinham, mais aqueles que correm, necessitam da amizade tanto como o ar que respiramos.
Título e Texto: Luisa Castel-Branco, Destak, 12-03-2013

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