Irã diz que está pronto para
desmantelar instalações nucleares subterrâneas
O Presidente Rouhani pode
aceitar fechar as instalações de FORDO caso o Ocidente suspenda as sanções,
segundo a matéria da revistal alemã Der
Spiegel, com base em fontes de inteligência. Israel ainda não se manifestou
a respeito
Francisco Vianna
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Uma imagem de satélite das
instalações nucleares de FORDO de enriquecimento de urânio. Foto: AP/Digital
Globe
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A revista alemã, citando uma
fonte de inteligência, reportou que o novo presidente iraniano, Hassan Rouhani,
pode considerar o fechamento e destivação das instalações nucleares
subterrâneas de FORDO, intensamente fortificadas, perto da “cidade sagrada” de
Qom, e permitir que os observadores internacionais da AIEA da ONU supervisem de
forma irrestrita suas centrífugas de enriquecimento de urânio para a produção
de combustível nuclear para fazer funcionar os reatores para produzir energia
elétrica e isótopos de uso médico, caso o Ocidente levante as sanções impostas
pelo Conselho de Segurança da ONU e que afeta primordialmente a indústria
petrolífera do Irã e o Banco Central do país.
Rouhani poderá fazer a oferta
no fim deste mês de setembro na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, disse a
reportagem da revista.
A descrita vontade do Irã em
se comprometer foi suscitada logo depois do acordo russo-americano para
destruir o arsenal químico da Síria de Bashar al-Assad, assinado em Washington
após a movimentação militar americana no Mediterrâneo e com a finalidade de
evitar um ataque mesmo que limitado à Síria.
Apesar das autoridades
israelenses não terem comentado publicamente a matéria jornalística da ‘Der
Spiegel’, comenta-se extraoficialmente que elas não acreditam nessa “abertura
iraniana”, com base na tática habitual de Teerã de criar “falsos recuos e
falsas expectativas” apenas com o objetivo de ganhar mais tempo na sua corrida
para obter enriquecimento crítico capaz de produzir um artefato bélico
termonuclear. De fato, uma autoridade israelense de primeiro escalão havia
predito, em Jerusalém, na semana passada, que a primeira providência do novo
presidente persa seria a de fazer semelhante oferta com o objetivo de aliviar
as referidas sanções. A principal exigência israelense, já de longa data, tem
sido a parada do Irã de enriquecer urânio e a remoção de todo esse material
enriquecido do território iraniano a ser mantido sob custódia da ONU. O
material pode já ter produzido uma quantidade considerável de plutônio em
FORDO, suficiente para a produção de uma bomba termonuclear.
Recentemente, o Primeiro-ministro
de Israel, Netanyahu, disse que “Israel está determinado em insistir com as
exigências suas e da comunidade internacional de, primeiro, parar toda a
atividade de enriquecimento de urânio; segundo, remover todo o material
enriquecido, e, terceiro, fechar e desativar as instalações nucleares ilegais
de FORDO em Qom. Acreditamos que agora, mais do que nunca, em face dos
progressos iranianos nucleares, é importante não apenas intensificar as sanções
econômicas já impostas, como também estabelecer uma clara opção militar
destinada ao Irã”.
O atual Ministro das Relações
Exteriores, Javad Zarif, está agendado se encontrar com seu par da UE,
Catherine Ashton, no próximo domingo em Nova Iorque a quem explicará a oferta
de Teerã em maiores detalhes, segundo a revista alemã. A esperada medida de
Rouhani poderá por em movimento um processo de negociações que poderá culminar
no restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irã e os EUA, escreveu a
revista.
A possível predisposição de se
comprometer em abrir suas atividades nucleares de forma irrestrita à supervisão
da AIEA se deve provavelmente à situação catastrófica em que se encontra a
economia iraniana, amplamente asfixiada pelas sanções internacionais. Citando
as mesmas fontes de inteligência, o articulista da Der Spiegel, Erich Follath,
escreveu que o Irã só poderá evitar a falência caso as sanções impostas pela
comunidade internacional sejam levantadas e dinheiro novo possa fluir para o
país.
Entretanto, Follath também
descreveu um possível acordo com o Irã como sendo um truque do regime
islamofascista de Teerã, uma vez que permanece obscuro quem iria monitorar e
desmantelar as instalações de FORDO e se os 185 quilos de urânio já
enriquecidos em poder de Teerã passariam para a custódia da ONU para ser usado
apenas na geração vigiada de eletricidade por geradores iranianos.
Também permanece a necessidade
de se constatar quais as intenções iranianas com relação ao reator instalado em
Arak, que o Ocidente desconfia que pode estar a enriquecer plutônio, um passo
essencial para a fabricação de uma arma nuclear já em 2014. “Os iranianos,
amigos ou inimigos hão de concordar que são mestres em tais manobras táticas
para ganhar tempo”, escreveu Follath.
FORDO, um complexo nuclear
subterrâneo fortificado, encravado numa área montanhosa ao sul da capital
Teerã, foi construído secretamente e apenas revelado ao mundo graças a
inteligência e capacidade de observação ocidental em 2009. Presentemente,
cientistas iranianos estão a enriquecer urânio lá, com o uso de 696
centrífugas.
No último domingo, o
presidente estadunidense Barack Obama advertiu Teerã de que o acordo
patrocinado pela Rússia para evitar um ataque militar planejado e limitado à
Síria não deveria ser interpretado como uma falta de vontade de Washington em
adotar uma solução militar também para o impasse atual da ameaça nuclear
iraniana.
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O presidente iraniano Hasan Rouhani a falar no Parlamento
em Teerã, Irã, em 15 de agosto último. Foto: AP/Ebrahim Noroozi/File
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"Acho que os iranianos
entendem que a questão nuclear é uma questão muito maior para nós do que a
questão das armas químicas na Síria; que a ameaça [...] contra Israel feita
abertamente por um ‘Irã nuclear’ faz com que ela seja tratada com muita prioridade
em face dos nossos mais centrais interesses", disse Obama numa entrevista
para a ABC. Disse ainda que “suspeita que os iranianos, por eventualmente não
termos atacado a Síria, entendam que não atacaremos também o Irã, caso a
segurança do Oriente Médio e a própria estabilidade mundial esteja
iminentemente em risco”.
Obama declarou que trocou
correspondência com Rouhani, mas que ambos ainda não se falaram pessoalmente e
ao vivo. Explicou ainda, a seguir, que acredita que Rouhani entendeu o
potencial de uma solução diplomática para o controverso programa nuclear do seu
país, mas que não se pode “torná-lo, assim de repente, uma coisa fácil de ser
concretizada; se existe uma ameaça crive de uso da força militar, combinada com
um esforço diplomático severo, pode-se chegar a um acordo”. Na segunda-feira
última, a Casa Branca negou que Obama encontrar-se-ia com Rouhani em
oportunidades paralelas à Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.
As declarações de Obama sobre
o programa nuclear do Irã foram ecoadas por Netanyahu, no domingo após uma
reunião com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em Jerusalém.
"O mundo precisa garantir
que regimes radicais não tenham ‘armas de destruição em massa’, porque, como
vemos mais uma vez, na Síria, caso regimes desonestos tenham tais armas, eles
provavelmente irão usá-las", disse Netanyahu. "A determinação da
comunidade internacional exibida no caso da Síria terá um impacto direto sobre
patrono do regime sírio, o Irã. O país persa precisa compreender as
consequências de seu desafio contínuo à comunidade internacional, por sua busca
em direção às armas nucleares... Caso a diplomacia tenha alguma chance de
trabalhar, seus esforços devem ser apoiados por uma ameaça militar crível e dissuasiva".
A inteligência e ministro de
Assuntos Estratégicos Yuval Steinitz, de Israel, em agosto último previram que
Rouhani tentaria conquistar o Ocidente, oferecendo a suspensão e o
enriquecimento de urânio em troca de uma redução das sanções.
"Ele dirá ao Ocidente,
exatamente como fez em 2003 [quando Rouhani foi o principal negociador nuclear
do Irã]: 'Vamos fazer um acordo interino. Vou fazer algumas concessões aqui...
Vocês façam algumas concessões aí", disse Steinitz à imprensa. "Só
que, depois disso, [Rouhani] vai solicitar reciprocidade... E é extremamente
importante que não lhe seja dado tal margem de manobra".
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 19-9-2013
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