O Brasil, que cancelou sua vinda por causa dos vazamentos de
informações secretas da NSA...
Taylor Barnes
A presidente brasileira Dilma
Rousseff suspendeu as medidas preliminares para a sua “visita de estado” a
Washington, marcada para outubro próximo, alegando motivos de espionagem
americana em sua correspondência pessoal, o que pode reverter uma tendência que
vinha aumentando de tornar as relações entre Brasil e EUA mais positivas.
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Foto: Pablo Martinez
Monsivais/AP
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A Presidente Rousseff cancelou
os trabalhos iniciais de sua equipe avançada de logística que preparava o
terreno para a única “visita de estado” a ser recebida pela agenda da
administração Obama para este ano. Tal visita é uma honraria reservada apenas
aos melhores sócios de Washington – incluindo um jantar ‘black-tie’ e uma
recepção militar – e o convite feito pela Casa Branca em maio último a Brasília
foi visto como um avanço em termos de relações bilaterais entre os dois países.
Mas essas relações azedaram e
se tornaram tensas depois que vazamentos ocorridos em julho último de alegadas
interceptações de milhões de telefonemas e e-mails enviados por cidadãos pelo
Brasil afora, foram em seguida denunciadas nesta semana. Após a edição do último
domingo do amplamente assistido programa ‘Fantástico’ da TV Globo, foi ao ar as
alegações de que os EUA também espionaram a correspondência pessoal da
Presidente Rousseff e de seus assessores, e o seu governo elevou o tom de
indignação, enviando claros sinais de que a visita de outubro poderia ser
cancelada.
”A indignação de Dilma
Rousseff vai além da postura de quem quer ganhar poder de barganha com os EUA”,
diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. “Ela é
bem genuína, uma vez que ela é uma pessoa de ‘pavio curto’ e destemperada”,
complementa o Sr. Fleischer.
Um “jantar estatal” de tal
alto escalão de compromisso internacional, sendo cancelado, poderia vir a ser
um golpe para o prestígio de Obama; este jornal não encontrou precedentes na
história de que tal “visita de estado”, uma vez anunciada, tenha jamais sido
cancelada antes.
Evitar o fechamento de portas
Os documentos usados para
substanciar as alegações de espionagem nesta semana vieram do ex-contratante da
NSA (National Security Agency), Edward Snowden. Eles não mostram mensagens
específicas que alegam terem sido interceptadas – como foi o caso do ocorrido
com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto – entretanto, houve afirmações que
sugeriram ter a espionagem realmente ocorrida. Um dos slides dizia, “crescente
compreensão de métodos de comunicação”, de Dilma Rousseff e seus assessores,
era um “objetivo da agência”, que foi acompanhado por outra referência a certa
equipe de dados que “foi capaz de aplicar com sucesso esta técnica contra alvos
de alto perfil de eficácia da OPSEC brasileiros e mexicanos”.
O Ministro Paulo Bernardo, das
Comunicações, de Dilma Rousseff, tem acusado os EUA de dar falsas explicações
ao Brasil desde que a primeira estória de espionagem veio a público. “Tudo que
nos foi dito à guisa de explicações desde o início desses episódios foi
comprovadamente falso, tanto o que foi dito pelas embaixadas americanas quanto
o que a nossa equipe escutou em sua visita aos EUA”, disse Bernardo. “Trata-se de
espionagem de caráter comercial e industrial, pois é do interesse dos EUA saber
sobre as reservas de petróleo do pré-sial e outros assuntos de peso econômico e
comercial”, acrescentou o ministro, destacando que é risível a alegação
americana de que a espionagem faz partes das medidas americanas contra o
terrorismo.
Rousseff e Obama se
encontraram extraoficialmente durante os intervalos da cúpula do G-20 em São
Petersburgo, quinta-feira, na Rússia, onde o presidente americano prometeu dar
maiores explicações ao governo brasileiro até 11 de setembro próximo. Rousseff
disse também que irá propor a criação, na ONU, de um sistema de supervisão
contra espionagem internacional.
Rousseff acha que “necessita
dar uma resposta política forte aos EUA”, mas está também “cuidadosa em evitar
fechar portas a um diálogo melhor”, escreveu Maurício Santoro, um cientista
político de direitos humanos, conselheiro da Anistia Internacional, num e-mail.
Além da NSA, a proposta do Presidente Barack Obama de um ataque americano à
Síria – ao qual o Brasil se opõe – tem também criado tensão entre ambos os
países, escreveu Santoro.
Repercussões
A visita de Dilma Rousseff em
outubro teria o objetivo de tratar de assuntos importantes para os interesses
dos EUA. Dilma Rousseff planejava fechar um acordo pronto com Obama que
permitiria que os EUA usassem a base de lançamento de satélites de Alcântara,
no Maranhão, uma área que os EUA por muito tempo vêm tentando obter acesso,
segundo divulgado pela mídia brasileira. Um acordo assinado pelo então
Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2000, foi tão favorável aos EUA –
permitindo, por exemplo, acesso exclusivo a partes da base onde os brasileiros
estariam proibidos de entrar – que o Congresso brasileiro nunca aprovou o
acordo.
As revelações de espionagem
por parte da NSA também são esperadas provocar um retrocesso nos esforços
americanos de assinar um acordo para vender ao Brasil caças a jato numa
transação interestatal no valor de 4 bilhões de dólares. “Não podemos falar dos
jatos agora… Não se pode assinar um contrato como esse com um país em que não
se pode confiar”, disse uma autoridade brasileira de alto escalão falando sob a
condição de anonimato à Reuters.
O embaixador estadunidense no
Brasil, Thomas Shannon, pediu demissão nesta semana, alimentando os boatos de
que estava sob pressão pelo vazamento das informações da NSA. Embora sua
partida tivesse sido planejada, o “timing” de sua demissão causou surpresa.
Apesar de tais desdobramentos,
Fleischer disse que não está convencido ainda de que a visita será cancelada.
“Apesar da ‘mise-en-scène’ da
presidência brasileira, há muita coisa em jogo para ambos os lados que dependem
de manterem e melhorarem seu relacionamento”, disse ele.
Título e Texto: Taylor Barnes, Correspondente do “The Christian Science MONITOR” September 6, 2013.
Tradução: Francisco Vianna
Tradução: Francisco Vianna
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