sábado, 14 de setembro de 2013

O Acordo

Alberto Cavalcanti
Geremias era um cara honesto, piloto de uma empresa aérea e que amava a sua profissão. Um dia, foi convidado para ser Diretor de Operações, onde aliava o útil ao agradável. Com o tempo, notou que apesar de voar lotada de passageiros a empresa estava tendo prejuízo. Então, o presidente da empresa convidou todos os diretores e acionistas para uma grande festa no seu apartamento em Paris. No imenso apartamento, que tinha soberba vista para o rio Sena, o presidente, cercado de lindas mulheres que seguravam taças do mais caro champagne, era um tipo atlético, nos seus 50 anos, tinha barbicha e farto bigode que se juntava a costeletas. No meio da orgia, com todo o mundo "calibrado", o presidente apresentou um documento para que todos assinassem, liquidando a empresa. Devido à frenética movimentação da festa, todos assinaram sem perceber que aquilo era o "último Baile da Ilha Fiscal", como se dizia no Brasil!


Desempregado, com a empresa em liquidação judicial e sem ter recebido salário e indenização, Geremias percorria todas as igrejas acendendo velas e fazendo promessas já que a justiça do trabalho respondeu que ele devia ir reclamar com o Bispo ou na Anac! De repente, contrariando toda a sua fé – que já estava esgotada – Geremias teve a idéia de convocar o diabo para lhe dar uma ajuda! No momento em que ele pensou nisso, deu-se uma explosão e em meio ao cheiro de enxofre uma voz ordenou:
– Entre com uma ação na AGU, lá eu vou te ajudar!

Geremias preparou um requerimento e correu para a AGU, lá foi recebido pelo Diretor. Um senhor bem vestido, porte atlético, cerca de 50 anos, com barbicha e farto bigode que se juntava a costeletas! Ao tentar falar, ele interrompeu dizendo:
– Meu prezado comandante, não precisa falar, já sei de tudo e vou lhe ajudar! Venha comigo que eu vou lhe propor um acordo.
Dizendo isso, ele chamou o Geremias para entrar no elevador e foram até a cobertura, onde o Diretor mantinha uma suite para receber as clientes. Ele parou na borda da cobertura e fitando o espaço vazio perguntou ao Geremias o que mais ele queria na vida. O Geremias respondeu que queria voar. Ele respondeu:
– Eu posso fazer você voar, mas eu te ofereço um acordo.
Geremias perguntou:
– Doutor, qual é o acordo que o senhor me oferece?
O Diretor respondeu:
– Eu faço você voar e tomo posse da sua alma quando você morrer.
Geremias respondeu:
– Aceito, vamos fazer agora!

O Diretor mandou que ele subisse no parapeito e se atirasse no espaço para fazer o primeiro voo. Geremias nem pensou duas vezes, subiu e se atirou no espaço com os braços abertos tentando voar. Nos últimos segundos, antes de se chocar com as pedras portuguesas da calçada, ainda ouviu a gargalhada do diretor gritando:
– Viu, eu não disse que você iria voar? Eu cumpri a minha parte do acordo!!! Ha, ha, ha, ha, ha, ha…
Título e Texto: Alberto José, Imortal da ABM, 14-9-2013

4 comentários:

  1. Vale lembrar o personagem "Zelão" ( Ator Milton Gonçalves) da novela "Saramandaia" , original de 1976 :

    " - Quem tem fé , avoa ! "

    Zelão sobrevoou Saramandaia e encantou aquele povo ...

    Sidnei Oliveira
    Assistido Varig / Aerus - RJ

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    Respostas
    1. Nossa, sinistro tudo isso!

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    2. *nóis* MERECE !!vamos aceitando, esperando...e sempre entregamos a alma ao diabo... e nem con
      seguimos fazer parte da festa !!

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  2. Essa é a resposta para os problemas criados por nós mesmos. No auge do desespero, se faz péssimos acordos onde a salvação é um fim rápido e doloroso. Assim foi o caso da Varig, que tinha uma esperança sempre antes de cada voo, mas a festa acabou e todos já haviam "assinado" sem perceberem. Na ilusão do "acordo", apenas se configuraram as intenções do fim de todos. Infelizmente o que ocorreu foi isso, por esperança e ilusão do desespero, aceitou-se o fim lento e dolorido. Esse é o resumo desta triste novela.

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