A violência jihadista só
serve para exacerbar o medo e o ódio contra os muçulmanos que vivem no Ocidente
Hussein Ibish
A significar alguma coisa, islamofobia deveria ser
sinónimo do medo e/ou ódio que torna difícil aos muçulmanos viverem em
sociedades como as ocidentais, caracterizadas pela diversidade e pela
capacidade de funcionarem com eficácia numa economia e numa cultura
globalizadas. Então, à luz deste critério, quem são, de facto, os piores
islamófobos?

Não são, sequer, políticos dos EUA e de outros países ocidentais, como o [republicano e futuro candidato às presidenciais norte-americanas de 2016] Peter T. King ou [a representante republicana do Minnesota] Michelle Bachmann, que tentaram conquistar votos, apresentando-se como intrépidos lutadores contra uma suposta quinta coluna muçulmana.
Islão e terror não são sinónimos
A despeito de todos os danos que estes partidários
do discurso islamófobo causam, os piores islamófobos – e, na realidade, em
muitos aspetos, os verdadeiros islamófobos – são os extremistas muçulmanos
violentos, que parecem apostados em dar argumentos ao discurso islamófobo.
É ridículo comparar Islão e terrorismo, como se
fossem sinónimos. Há inúmeros outros terroristas e adeptos do assassinato como
forma de política. E, como é evidente, os extremistas muçulmanos violentos são
não apenas uma minoria no mundo islâmico: são uma minoria dentro de uma
minoria.
No entanto, as suas ações são singularmente
nocivas, fazendo pairar a ameaça e conseguindo por vezes exacerbar o medo e o
ódio contra os muçulmanos, no Ocidente e noutras partes do mundo.
A lista das ironias é quase infinita. O jornal The New York Times, por exemplo,
noticiou que Tamerlan Tsarnaev, o instigador do duplo atentado bombista na
maratona de Boston, em 15 de abril, “estava furioso por o mundo considerar o
Islão uma religião violenta”. Por isso, decidiu ajudar a provar que “o mundo”
tinha razão… assassinando ao acaso o maior número de pessoas possível, durante
uma prova de atletismo. Nenhum discurso inflamado de qualquer visionário,
nenhuma ação de propaganda dos instigadores do ódio poderia provocar uma fração
sequer dos danos que Tsarnaev infligiu à causa que, alegadamente, tanto
prezava.
Desde o aparecimento das diversas formas atuais de extremismo político das diversas formas atuais de extremismo político violento sunita e xiita que os seus paladinos se veem como defensores dos oprimidos. A base do seu libelo sempre foi a indignação perante a forma como o Ocidente e outras sociedades não muçulmanas retratam o Islão e os muçulmanos.
Ao fazer jus aos piores estereótipos dos
muçulmanos como fanáticos violentos, Tsarnaev seguiu uma tradição que, no
essencial, data de finais dos anos 70, quando salafitas jihadistas e
khomeinistas tentaram defender, de forma estranha, a integridade e a reputação
do Islão, utilizando-o para justificar o massacre de civis inocentes.
Por que reagir a caricaturas?
Quando as caricaturas dinamarquesas foram
encaradas como “um insulto ao profeta Maomé” e organizações extremistas
aproveitaram para organizar motins violentos, que tiveram resultados fatais,
quem foi o verdadeiro instigador do sentimento antimuçulmano?
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Ilustração: Lars Vilks |
Essa é que foi a verdadeira islamofobia e foi esse
o insulto grave ao Islão e aos muçulmanos.
Este ano, o Reino Unido ficou em choque perante o
brutal assassinato de um soldado britânico (22 de maio) por parte de dois
nigerianos islamitas, em Woolwich. Na diatribe em que se lançaram, após o
crime, os dois utilizaram o habitual discurso paranoico sobre o mundo muçulmano
sitiado pelo Ocidente. E, depois, também se insurgiram por serem rotulados de… extremistas.
Título e Texto: Hussein Ibish, Now, Beirute.
Tradução: Fernanda
Barão, Courrier Internacional, dezembro de 2013
Digitação: JP
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