domingo, 8 de dezembro de 2013

Extremismo, o melhor amigo da islamofobia

A violência jihadista só serve para exacerbar o medo e o ódio contra os muçulmanos que vivem no Ocidente
Hussein Ibish
A significar alguma coisa, islamofobia deveria ser sinónimo do medo e/ou ódio que torna difícil aos muçulmanos viverem em sociedades como as ocidentais, caracterizadas pela diversidade e pela capacidade de funcionarem com eficácia numa economia e numa cultura globalizadas. Então, à luz deste critério, quem são, de facto, os piores islamófobos?

Ao contrário do que se poderia pensar, não são aqueles que fazem carreira a demonizar o Islão e os muçulmanos, como o católico e autoproclamado soldado de Deus, Robert Spencer [escritor norte-americano, diretor do sítio Jihad Watch]. Nem aqueles para quem o ódio puro é uma espécie de passatempo demente, caso da judia extremista, Pamela Geller [jornalista norte-americana e também autora de um blogue]. Nem mesmo aqueles que mostram uma intolerância mais moderada, como o cómico norte-americano agnóstico e liberal, Bill Maher, que, não gostando de nenhuma religião, faz do Islão o seu tema favorito de escárnio.



Não são, sequer, políticos dos EUA e de outros países ocidentais, como o [republicano e futuro candidato às presidenciais norte-americanas de 2016] Peter T. King ou [a representante republicana do Minnesota] Michelle Bachmann, que tentaram conquistar votos, apresentando-se como intrépidos lutadores contra uma suposta quinta coluna muçulmana.

Islão e terror não são sinónimos
A despeito de todos os danos que estes partidários do discurso islamófobo causam, os piores islamófobos – e, na realidade, em muitos aspetos, os verdadeiros islamófobos – são os extremistas muçulmanos violentos, que parecem apostados em dar argumentos ao discurso islamófobo.

É ridículo comparar Islão e terrorismo, como se fossem sinónimos. Há inúmeros outros terroristas e adeptos do assassinato como forma de política. E, como é evidente, os extremistas muçulmanos violentos são não apenas uma minoria no mundo islâmico: são uma minoria dentro de uma minoria.

No entanto, as suas ações são singularmente nocivas, fazendo pairar a ameaça e conseguindo por vezes exacerbar o medo e o ódio contra os muçulmanos, no Ocidente e noutras partes do mundo.

A lista das ironias é quase infinita. O jornal The New York Times, por exemplo, noticiou que Tamerlan Tsarnaev, o instigador do duplo atentado bombista na maratona de Boston, em 15 de abril, “estava furioso por o mundo considerar o Islão uma religião violenta”. Por isso, decidiu ajudar a provar que “o mundo” tinha razão… assassinando ao acaso o maior número de pessoas possível, durante uma prova de atletismo. Nenhum discurso inflamado de qualquer visionário, nenhuma ação de propaganda dos instigadores do ódio poderia provocar uma fração sequer dos danos que Tsarnaev infligiu à causa que, alegadamente, tanto prezava.

Desde o aparecimento das diversas formas atuais de extremismo político das diversas formas atuais de extremismo político violento sunita e xiita que os seus paladinos se veem como defensores dos oprimidos. A base do seu libelo sempre foi a indignação perante a forma como o Ocidente e outras sociedades não muçulmanas retratam o Islão e os muçulmanos.

Ao fazer jus aos piores estereótipos dos muçulmanos como fanáticos violentos, Tsarnaev seguiu uma tradição que, no essencial, data de finais dos anos 70, quando salafitas jihadistas e khomeinistas tentaram defender, de forma estranha, a integridade e a reputação do Islão, utilizando-o para justificar o massacre de civis inocentes.

Por que reagir a caricaturas?
Quando as caricaturas dinamarquesas foram encaradas como “um insulto ao profeta Maomé” e organizações extremistas aproveitaram para organizar motins violentos, que tiveram resultados fatais, quem foi o verdadeiro instigador do sentimento antimuçulmano?

Ilustração: Lars Vilks
Algumas das caricaturas eram racistas, outras inteligentes, outras apenas tolas. Se ninguém tivesse reagido, o mais provável seria não ter acontecido nada. Se alguém ligado às caricaturas estivesse, de facto, a tentar fomentar o ódio aos muçulmanos e ao Islão, boa parte desse trabalho foi feito pelos extremistas e pela reação desproporcionada desses grupos.

Essa é que foi a verdadeira islamofobia e foi esse o insulto grave ao Islão e aos muçulmanos.

Este ano, o Reino Unido ficou em choque perante o brutal assassinato de um soldado britânico (22 de maio) por parte de dois nigerianos islamitas, em Woolwich. Na diatribe em que se lançaram, após o crime, os dois utilizaram o habitual discurso paranoico sobre o mundo muçulmano sitiado pelo Ocidente. E, depois, também se insurgiram por serem rotulados de… extremistas.
Título e Texto: Hussein Ibish, Now, Beirute.
Tradução: Fernanda Barão, Courrier Internacional, dezembro de 2013
Digitação: JP

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