quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Permanece a histórica tendência da jihad na Europa


Francisco Vianna
A ameaça do retorno de militantes islâmicos experientes à Europa, vindos do combate no Norte da África e no Oriente Médio, está provocando o debate sobre a imigração e a integração dessas hordas na Europa e reforçando os sentimentos europeus xenofóbicos e nacionalistas. Não se trata de um sentimento novo para europeus quando vão para o exterior lutar. Têm circulado relatos, há meses, sobre o crescente número de estrangeiros lutando lado a lado com islâmicos jihadistas em locais tais como a Líbia e a Síria. Mais recentemente, o jornal espanhol El Mundo relatou, em 5 deste mês, que vazamentos em serviços de inteligência europeus não especificados advertiram que organizações terroristas na Síria poderiam estar a preparar diversos atentados internacionais, em particular na Europa.

Na medida em que novas informações de inteligência vêm à tona – sobre se essas ameaças são legítimas ou não –, as autoridades europeias estão a intensificar os esforços contraterroristas e os controles de imigração numa iniciativa para frustrar possíveis atentados. Porém, em função da já enorme e crescente população muçulmana existente na Europa e a facilidade das pessoas viajarem por todo o continente, evitar tais atentados não vai ser uma tarefa fácil.
A matéria publicada pelo ‘El Mundo’ identificou o grupo rebelde sírio Jaish al-Muhajireen wal Ansar (Exército de Emigrantes e Auxiliares), que era previamente conhecido como a Brigada Muhajireen, e esclareceu que se trata de um grupo que conta com a adesão de muitos militantes estrangeiros. Criado no verão de 2012 por guerrilheiros estrangeiros e liderado por chechenos, o grupo tem recrutado participantes estrangeiros de todo o mundo e se fundiu com duas outras facções rebeldes sírias, a Brigada Khattab e o Exército de Maomé, em fevereiro último. Segundo a agência de notícias chechena ‘Centro Kavkaz’, o grupo consiste de aproximadamente 1.000 guerrilheiros e tem perpetrado assaltos nas províncias sírias de Aleppo, Latakia e Idlib, entre outras.

Polícia grega em Atenas tentando dispersar um grupo de manifestantes muçulmanos em setembro de 2012. Foto: AFP/Getty Images
Em abril deste ano, o Coordenador de Contraterrorismo da União Europeia, Gilles de Kerchove, calculou que cerca de 500 cidadãos europeus estavam a lutar na Síria, a maioria deles vinda do Reino Unido, da França e da Irlanda. Um estudo observacional do Centro Internacional de Estudo da Radicalização, no Colégio Real de Londres (King's College of London) concluiu que mais de 600 europeus de 14 países, incluindo a Áustria, a Espanha, a Suécia, a Grã-Bretanha e a Alemanha, participaram e ainda participam do conflito sírio desde o seu início em começos de 2011, representando aproximadamente 7 a 11 por cento do número total de estrangeiros em luta na Síria. O estudo mostrou que o maior contingente de guerrilheiros estrangeiros – algo entre 28 e 134 – veio do Reino Unido (O número de guerrilheiros estrangeiros pode ser maior a se considerar que muitos provavelmente circulam pelas frentes de batalha e retornam aos seus países em períodos muito curtos).

Embora ninguém saiba com exatidão qual seja o número de guerrilheiros estrangeiros que militam nos grupos jihadistas, relatos surgem ocasionalmente descrevendo estrangeiros mortos em ação na Síria, na Somália, na Líbia e no Iêmen, entre outros países. Em março último,por exemplo, um homem sueco conhecido pelo nome de guerra Abu Kamal As Swedee e um dinamarquês chamado Abdul Malik al-Dinmarki, ambos membros do Jaish al-Muhajireen wal Ansar, foram relatadamente mortos num ataque à bomba suicida na Síria.

O Instituto Washington para Políticas do Oriente Médio e Parceiros Globais para Áreas Críticas (Washington Institute for Near East and Flashpoint Global Partners) levou a cabo um estudo conjunto neste ano que monitorou os websites de extremistas (islâmicos ou não) e analisou as origens nacionais de 280 guerrilheiros estrangeiros que foram relatados como tendo morrido lutando junto e ao lado de rebeldes na Síria entre julho de 2012 e maio de 2013. O estudo concluiu que 60 destas baixas provieram da Líbia, 47 da Tunísia e 44 da Arábia Saudita. O custo em vidas também incluiu guerrilheiros únicos de países tais como a Dinamarca, a França, o Uzbequistão, a Irlanda, o Marrocos, a Turquia, o Reino Unido e os Estados Unidos da América.

Comunidades muçulmanas têm existido na Europa por séculos, porém acordos de trabalhadores convidados e o relaxamento das políticas de imigração na década de 1960 acarretaram ondas de imigrantes muçulmanos da Turquia para a Alemanha, da Argélia para a França e do Paquistão para a Grã-Bretanha. As restrições para o cruzamento das fronteiras da União Europeia para quem viaja são mínimas, e algumas autoridades europeias tentam o máximo que podem não perturbar as comunidades muçulmanas na esperança de que tal inação possa salvaguardar a Europa dos atentados de islamitas radicais. Faz parte do problema o fato de o retorno de guerrilheiros jihadistas ser mais frequente do que o retorno de cidadãos não europeus, os quais são usualmente não pegos pelos controles padronizados da fiscalização de imigração.
Daí, não tem sido difícil para os islamitas europeus jihadistas receber apoio de pessoas e grupos do Oriente Médio e do Norte da África de forma amplamente não detectada. Tais conexões podem então ser usadas para se tentar levar a cabo atentados terroristas dentro da Europa. Segue abaixo uma breve descrição dos mais recentes atentados bem-sucedidos envolvendo jihadistas europeus:

§ Março de 2013:  Uma unidade da Força de Antiterrorismo da Polícia Federal da Bélgica parou um carro suspeito de crime, o que resultou num tiroteio com seus ocupantes e acabou matando Hakim Benladghem, um ‘cidadão francês’ de descendência argelina. Benladghem era conhecido por ter sido treinado como paraquedista pela Legião Estrangeira francesa. A polícia descobriu um depósito de armas e explosivos no seu apartamento e acreditou que a intenção de Benladghem era a de perpetrar um assalto armado em algum lugar da Europa.
§ Agosto de 2012: As polícias, espanhola e francesa, frustraram um complô da al Qaeda em andamento por dois chechenos, Eldar Magomedov e Mohamed Ankari Adamov, e um turco chamado Cengiz Yalcin. Seu alegado plano era o de atirar mecanismos explosivos improvisados a partir de asas delta e paraglides em voo sobre alvos britânicos e estadunidenses na Espanha, na França e alhures na Europa durante os Jogos Olímpicos de Londres. Todos os três suspeitos eram considerados agentes da al Qaeda que receberam treinamento no Paquistão.
§ Julho de 2012: Um sueco descendente de libaneses, Abu Abdurraham, planejou explodir um jato americano de passageiros durante as Olimpíadas de Londres. Abdurraham foi considerado como tendo se convertido ao islã em 2008 e foi recrutado para tal operação num campo de treinamento terrorista no Iêmen.
§ Março de 2012:  Um franco-argelino chamado Mohammed Merah atirou e matou um rabino e três crianças no lado de fora de uma escola judaica em Toulouse, na França. Uma semana antes do atentado, Merah escalou como alvo um grupo de paraquedistas franceses, matando quatro deles. Sua ação contra pessoal do exército relatadamente se deu por causa do seu envolvimento com grupos militantes desconhecidos na guerra do Afeganistão.

Na França e no Reino Unido, a ameaça representada pelos islâmicos radicais já se tornou um importante problema de segurança pública, tornando ambos os países hesitantes em fornecer armas aos rebeldes sírios ao invés de como faziam antes para por fim a um embargo a tal apoio. Ambos os países estão também bem cientes de que os grandes enclaves de muçulmanos se expandindo pelo continente a fora criam condições atraentes para os jihadistas europeus que têm recebido treino terrorista em locais tais como o Paquistão, a Síria, o Afeganistão, o Iêmen e o norte da África. Tais comunas fornecem ambientes efetivos para a radicalização, por causa de seu relativo isolamento e pelas ligações culturais e religiosas que promovem em larga escala o aproveitamento de populações imigrantes.

Com tudo isso, está crescendo fortemente o sentimento anti-imigração na Europa continental. Tal estado de espírito deverá afetar não apenas os terroristas em potencial, mas também outros viajantes muçulmanos e europeus. Tal situação poderia aumentar a pressão sobre países como os balcânicos – muitos dos quais não pertencem à União Europeia, embora tenham fronteiras com países do bloco e descritivamente têm constatado extensivas hordas de guerrilheiro indo lutar na Síria – para aumentar a sua preocupação geral com seus esforços de segurança. Países da Europa ocidental provavelmente darão ajuda pecuniária, enviando pessoal e material para os que necessitarem.

Em muitos países europeus, os imigrantes tem sido foco de atenção e de ressentimento em função do desemprego crescente. Partidos de ‘direita’ (leia-se antissocialistas), como a Frente Nacional Francesa e o Partido da Liberdade na Holanda, estão ganhando popularidade à luz da crise europeia por suas propostas de segregação e repatriamento de imigrantes, que poderá alimentar o medo de que os jihadistas europeus retornem do campo de batalha para perpetrar atentados na Europa. Isso poderá levar a maiores críticas às comunidades muçulmanas na Europa em função da sua falta de integração. Com o desemprego aumentando e combinado com a ameaça jihadista potencial, a pressão só irá aumentar sobre os governos europeus para que apertem o torniquete das políticas de imigração.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia europeia), 22-8-2013

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