Francisco Vianna
A ameaça do retorno de militantes islâmicos experientes à Europa,
vindos do combate no Norte da África e no Oriente Médio, está provocando o
debate sobre a imigração e a integração dessas hordas na Europa e reforçando os
sentimentos europeus xenofóbicos e nacionalistas. Não se trata de um sentimento
novo para europeus quando vão para o exterior lutar. Têm circulado relatos, há
meses, sobre o crescente número de estrangeiros lutando lado a lado com
islâmicos jihadistas em locais tais
como a Líbia e a Síria. Mais recentemente, o jornal espanhol El Mundo relatou, em 5 deste mês, que vazamentos
em serviços de inteligência europeus não especificados advertiram que
organizações terroristas na Síria poderiam estar a preparar diversos atentados
internacionais, em particular na Europa.
Na medida em que novas
informações de inteligência vêm à tona – sobre se essas ameaças são legítimas
ou não –, as autoridades europeias estão a intensificar os esforços
contraterroristas e os controles de imigração numa iniciativa para frustrar
possíveis atentados. Porém, em função da já enorme e crescente população
muçulmana existente na Europa e a facilidade das pessoas viajarem por todo o
continente, evitar tais atentados não vai ser uma tarefa fácil.
A matéria publicada pelo ‘El
Mundo’ identificou o grupo rebelde sírio Jaish
al-Muhajireen wal Ansar (Exército de Emigrantes e Auxiliares), que era
previamente conhecido como a Brigada
Muhajireen, e esclareceu que se trata de um grupo que conta com a adesão de
muitos militantes estrangeiros. Criado no verão de 2012 por guerrilheiros
estrangeiros e liderado por chechenos, o grupo tem recrutado participantes
estrangeiros de todo o mundo e se fundiu com duas outras facções rebeldes
sírias, a Brigada Khattab e o Exército de Maomé, em fevereiro último. Segundo a
agência de notícias chechena ‘Centro Kavkaz’, o grupo consiste de
aproximadamente 1.000 guerrilheiros e tem perpetrado assaltos nas províncias
sírias de Aleppo, Latakia e Idlib, entre outras.
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Polícia grega em Atenas
tentando dispersar um grupo de manifestantes muçulmanos em setembro de 2012. Foto:
AFP/Getty Images
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Embora ninguém saiba com
exatidão qual seja o número de guerrilheiros estrangeiros que militam nos
grupos jihadistas, relatos surgem
ocasionalmente descrevendo estrangeiros mortos em ação na Síria, na Somália, na
Líbia e no Iêmen, entre outros países. Em março último,por exemplo, um homem
sueco conhecido pelo nome de guerra Abu Kamal As Swedee e um dinamarquês
chamado Abdul Malik al-Dinmarki, ambos membros do Jaish al-Muhajireen wal
Ansar, foram relatadamente mortos num ataque à bomba suicida na Síria.
O Instituto Washington para
Políticas do Oriente Médio e Parceiros Globais para Áreas Críticas (Washington Institute for Near East and
Flashpoint Global Partners) levou a cabo um estudo conjunto neste ano que
monitorou os websites de extremistas (islâmicos ou não) e analisou as origens
nacionais de 280 guerrilheiros estrangeiros que foram relatados como tendo
morrido lutando junto e ao lado de rebeldes na Síria entre julho de 2012 e maio
de 2013. O estudo concluiu que 60 destas baixas provieram da Líbia, 47 da
Tunísia e 44 da Arábia Saudita. O custo em vidas também incluiu guerrilheiros
únicos de países tais como a Dinamarca, a França, o Uzbequistão, a Irlanda, o
Marrocos, a Turquia, o Reino Unido e os Estados Unidos da América.
Comunidades muçulmanas têm
existido na Europa por séculos, porém acordos de trabalhadores convidados e o
relaxamento das políticas de imigração na década de 1960 acarretaram ondas de
imigrantes muçulmanos da Turquia para a Alemanha, da Argélia para a França e do
Paquistão para a Grã-Bretanha. As restrições para o cruzamento das fronteiras
da União Europeia para quem viaja são mínimas, e algumas autoridades europeias
tentam o máximo que podem não perturbar as comunidades muçulmanas na esperança
de que tal inação possa salvaguardar a Europa dos atentados de islamitas
radicais. Faz parte do problema o fato de o retorno de guerrilheiros jihadistas ser mais frequente do que o
retorno de cidadãos não europeus, os quais são usualmente não pegos pelos
controles padronizados da fiscalização de imigração.
Daí, não tem sido difícil para
os islamitas europeus jihadistas receber apoio de pessoas e grupos do Oriente
Médio e do Norte da África de forma amplamente não detectada. Tais conexões
podem então ser usadas para se tentar levar a cabo atentados terroristas dentro
da Europa. Segue abaixo uma breve descrição dos mais recentes atentados bem-sucedidos
envolvendo jihadistas europeus:
§ Março de 2013:
Uma unidade da Força de Antiterrorismo da Polícia Federal da Bélgica parou um
carro suspeito de crime, o que resultou num tiroteio com seus ocupantes e
acabou matando Hakim Benladghem, um ‘cidadão francês’ de descendência argelina.
Benladghem era conhecido por ter sido treinado como paraquedista pela Legião
Estrangeira francesa. A polícia descobriu um depósito de armas e explosivos no
seu apartamento e acreditou que a intenção de Benladghem era a de perpetrar um
assalto armado em algum lugar da Europa.
§ Agosto de 2012: As
polícias, espanhola e francesa, frustraram um complô da al Qaeda em andamento
por dois chechenos, Eldar Magomedov e Mohamed Ankari Adamov, e um turco chamado
Cengiz Yalcin. Seu alegado plano era o de atirar mecanismos explosivos
improvisados a partir de asas delta e paraglides em voo sobre alvos britânicos
e estadunidenses na Espanha, na França e alhures na Europa durante os Jogos
Olímpicos de Londres. Todos os três suspeitos eram
considerados agentes da al Qaeda que receberam treinamento no Paquistão.
§ Julho de 2012: Um
sueco descendente de libaneses, Abu Abdurraham, planejou explodir um jato
americano de passageiros durante as Olimpíadas de Londres. Abdurraham foi
considerado como tendo se convertido ao islã em 2008 e foi recrutado para tal
operação num campo de treinamento terrorista no Iêmen.
§ Março de 2012:
Um franco-argelino chamado Mohammed Merah atirou e matou um rabino e três
crianças no lado de fora de uma escola judaica em Toulouse, na França. Uma
semana antes do atentado, Merah escalou como alvo um grupo de
paraquedistas franceses, matando quatro deles. Sua ação contra pessoal do
exército relatadamente se deu por causa do seu envolvimento com grupos
militantes desconhecidos na guerra do Afeganistão.
Na França e no Reino Unido, a
ameaça representada pelos islâmicos radicais já se tornou um importante
problema de segurança pública, tornando ambos os países hesitantes em fornecer
armas aos rebeldes sírios ao invés de como faziam antes para por fim a um
embargo a tal apoio. Ambos os países estão também bem cientes de que os grandes
enclaves de muçulmanos se expandindo pelo continente a fora criam condições
atraentes para os jihadistas europeus que têm recebido treino terrorista em
locais tais como o Paquistão, a Síria, o Afeganistão, o Iêmen e o norte da
África. Tais comunas fornecem ambientes efetivos para a radicalização,
por causa de seu relativo isolamento e pelas ligações culturais e religiosas
que promovem em larga escala o aproveitamento de populações imigrantes.
Com tudo isso, está crescendo
fortemente o sentimento anti-imigração na Europa continental. Tal estado de
espírito deverá afetar não apenas os terroristas em potencial, mas também
outros viajantes muçulmanos e europeus. Tal situação poderia aumentar a pressão
sobre países como os balcânicos – muitos dos quais não pertencem à União
Europeia, embora tenham fronteiras com países do bloco e descritivamente têm
constatado extensivas hordas de guerrilheiro indo lutar na Síria – para
aumentar a sua preocupação geral com seus esforços de segurança. Países da
Europa ocidental provavelmente darão ajuda pecuniária, enviando pessoal e
material para os que necessitarem.
Em muitos países europeus, os
imigrantes tem sido foco de atenção e de ressentimento em função do desemprego
crescente. Partidos de ‘direita’ (leia-se antissocialistas), como a Frente
Nacional Francesa e o Partido da Liberdade na Holanda, estão ganhando
popularidade à luz da crise europeia por suas propostas de segregação e
repatriamento de imigrantes, que poderá alimentar o medo de que os jihadistas
europeus retornem do campo de batalha para perpetrar atentados na Europa. Isso
poderá levar a maiores críticas às comunidades muçulmanas na Europa em função
da sua falta de integração. Com o desemprego aumentando e combinado com a
ameaça jihadista potencial, a pressão só irá aumentar sobre os governos
europeus para que apertem o torniquete das políticas de imigração.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia europeia),
22-8-2013
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