Cesar Maia
1. Chama-se MS-13, o que significa Mara Salvatrucha 13. “Mara” é um
termo de calão em espanhol da América Latina para gangue. “Salva” é a
abreviatura de salvadorenho e “Trucha”, um sinônimo de malandro. O número 13
tem a ver com a duração em segundos da tarefa coletiva que os recrutas da
quadrilha levam no ato de iniciação.
2. Os seus membros apresentam-se totalmente tatuados, em especial
no rosto. É indiscutivelmente uma das gangues mais sanguinárias do continente
americano, com ramificações desde o Canadá até São Salvador e Honduras,
dedicando-se à extorsão, ao tráfico de droga e de pessoas. O seu lema em
espanhol é “mata, viola, roba, controla”. Dispensa tradução e diz tudo sobre a
forma de atuar do grupo.
3. Chegaram aos Estados Unidos na década de 80, juntamente com
refugiados salvadorenhos fugidos à guerra civil entre as forças governamentais
e a guerrilha da Frente de Libertação Nacional Farabundo Marti, conflito esse
onde a América de Reagan interveio em força, apoiando o lado governamental.
4. O foco inicial da atividade foi Los Angeles, onde a formação do
grupo seguiu o modelo habitual, começando como uma milícia para defender as
gentes do bairro contra os “de fora” (outras gangues, polícia, etc.) e
evoluindo para o tráfico de droga, a extorsão, etc. “Foi desde o início uma
gangue extremamente violenta”, explica Jorga Leap, especialista em grupos
violentos da Universidade de Los Angeles (UCLA).
5. Atualmente, calcula-se que tenha ao todo 30 mil membros nas
Américas do Norte e Central. Está presente em 40 estados dos EUA, tendo sido
considerado desde 2012 pelas autoridades norte-americanas como “organização
criminosa internacional”.
6. Nos últimos 18 meses terão assassinado 17 pessoas em Long
Island, nos subúrbios de Nova Iorque. Foi o caso de dois adolescentes
massacrados à cacetada em setembro do ano passado e de quatro homens retalhados
à espadada e descobertos num parque em abril. O que levou William Sweeeney,
chefe do FBI em Nova Iorque, a dizer à CNN que “se trata de gente para quem a
vida humana não significa nada”.
7. O presidente dos EUA parece agora ter resolvido dar importância
ao MS-13 declarando sexta-feira, durante uma visita à polícia de Long Island,
que “são animais e vamos destruir este cartel infame” não especificando quando
nem como. Onde Donald Trump se mostrou mais concreto foi na interpretação
política dos fatos. Disse que o MS-13 era a consequência das políticas frouxas
de imigração de Barack Obama. Ora as estatísticas da polícia não sugerem um
aumento significativo do efetivo da gangue durante os oito anos de permanência
de Obama na Casa Branca, estabilizado em dez mil. E a história do MS-13 começa,
como se referiu, no tempo de Reagan e da guerra civil salvadorenha.
8. Acresce que, ao longo de décadas, uma das coisas que espalhou o
MS-13 como uma praga foi a política de deportações para o país de origem de
gente condenada nos EUA por pertencer ao grupo.
9. O terreno preferido de recrutamento do MS-13 são jovens
migrantes recém-chegados aos EUA, que não falam inglês e ficam contentes com a
“proteção” que a gangue lhes oferece (a troco da participação em atividades
criminosas, como é óbvio). Ora a pressão acrescida sobre a imigração ilegal da
administração Trump faz com que este tipo de pessoas – das poucas que poderiam
testemunhar e ajudar a polícia a desmantelar o MS-13 – tenha medo de o fazer
com receio de ser deportado.
Título e Texto: Cesar Maia, 4-8-2017
Título e Texto: Cesar Maia, 4-8-2017
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