Do sertão ao cárcere
A condenação por corrupção é o penúltimo
capítulo de uma biografia que se inicia em um pau de arara, começa a ser
degenerada no movimento sindical, se corrompe em Brasília e pode terminar no
sistema penitenciário
Mário Simas Filho
Lula /Condenado
Quando deixou o Palácio do
Planalto, em janeiro de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
carregava consigo uma aprovação popular recorde de 83% e uma biografia com B
maiúsculo, dessas encadernadas com capa de couro e que poucas personalidades no
mundo conseguem ostentar. Tratava-se da história de uma vida capaz de encantar
dentro e fora do País. Uma trajetória marcada por grandes feitos, embates
quixotescos e, acima de tudo, enormes superações. Claro, havia lá também suas
travessuras. Algumas passagens mal contadas dos anos 1980 e uma mancha
preocupante: o chamado Mensalão. Na quarta-feira 24, depois da condenação por
corrupção em segunda instância a doze anos e um mês de reclusão, a biografia de
Lula, revista e ampliada, ganhou nova coloração. Não é nem um pouco admirável.
Seus desvios éticos, exaustivamente comprovados, superam suas virtudes.
Na história de Lula, os desvios éticos superam as virtudes do
menino que fugiu da seca e virou presidente
Agora, uma vez condenado, Lula
sabe que os últimos capítulos de sua história serão escritos nos tribunais e no
sistema penitenciário. “A biografia do garoto que deixou o sertão em um pau de
arara e se tornou o presidente mais popular que o Brasil já teve não vai
terminar no gabinete presidencial, mas sim em um presídio, como um preso
comum”, disse à ISTOÉ, na manhã da quinta-feira 25, um ex-seminarista que
ajudou Lula a fundar o PT, em 1980.
Sindicalistas, religiosos,
acadêmicos e políticos que estiveram próximos do ex-presidente nas últimas
décadas divergem quando questionados sobre o momento em que Lula começou a
manchar a própria história. Muitos dizem que os desvios éticos começaram quando
Lula se elegeu presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, em
1975, e passou a usufruir de algum poder. “Chegar a ser metalúrgico no ABC era
o máximo da ascensão social para pessoas como ele”, diz Margaret Keck,
cientista social da Universidade Johns Hopkins, no Estados Unidos. Três anos
depois de chegar ao sindicato, Lula já era reconhecido internacionalmente por
sua atuação à frente de mais de 200 mil operários no ABC paulista, liderando as
maiores greves da história do País. “Descobrimos depois de algum tempo que o
comportamento do Lula nas greves não foi nada ético.
Segundo sindicalistas, Lula apresentava um discurso radical aos
grevistas e nas mesas de negociação cedia os interesses patronais
Foi de traição”, afirma um dos
sindicalistas que ajudaram Lula a fundar o PT e chegou a ser candidato a
deputado federal pelo partido. Segundo ele, Lula apresentava um discurso
radical aos grevistas nas enormes assembleias no Estádio da Vila Euclides, mas
nas mesas de negociação com os patrões se comportava de outra maneira. “Ele
radicalizava com os trabalhadores e na Fiesp cedia mais do que os empresários
propunham”, afirma o ex-sindicalista, hoje aposentado. Esse mesmo sindicalista
lembra que boa parte das greves era promovida quando os pátios das montadoras
estavam abarrotados de carros.
“Mantínhamos as greves por
mais de 30 dias. Quando o pátio estava vazio, o ex-ministro Delfin Neto e os
patrões acertavam o reajuste nos preços dos automóveis. Em seguida, Lula
fechava acordos salarias com índices bem inferiores aos reajustes concedidos
para os carros”, explica o sindicalista.
Oposição consentida
“Lula sempre negociou com as
greves. Ele é bom de discurso e iludia as pessoas, depois negociava tanto com
patrões como com o governo. Por isso em plena ditadura militar ele conseguiu
fundar um partido de trabalhadores. Representava a oposição consentida enquanto
outros líderes sindicais precisavam se manter na clandestinidade”, diz um
ex-líder de Comunidade Eclesial de Base que atualmente reside em Maringá (PR).
Já com o PT criado e dividindo
a esquerda com legendas e líderes ainda na clandestinidade, em 1982, Lula
perdeu a disputa pelo governo paulista. Obteve menos de 3% dos votos válidos.
Quatro anos depois, se elegeu deputado e pouco compareceu ao parlamento. Foi
constituinte, mas sob sua liderança o PT votou contra a Constituição. Disputou
e perdeu três eleições presidenciais, em 1989, 1994 e 1998. “Ele é o dono do
partido e jamais permitiu que outras lideranças ocupassem espaço nacional”, diz
uma ex-senadora petista. O retirante que virou líder sindical e presidente de
partido só se elegeu presidente da República em 2002, depois de abandonar o
discurso sindical e fazer alianças com setores empresariais que até então
combatia. É nesse momento, por volta do ano 2000, que, de acordo com um segundo
grupo de antigos companheiros, Lula teria começado a manchar a biografia.
“Para se eleger presidente,
Lula fez exatamente tudo o que combatia até então”, afirma uma deputada que
durante 12 anos foi uma das principais lideranças petistas. “Ele começou a
receber dinheiro de empresários para a campanha e presentes generosos. Muitas
vezes deixou de lado a cachaça para brindar com uísque”, conclui a experiente
deputada. Em conversas reservadas, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, já
afirmou que nunca viu tanto dinheiro em campanha como em 2002.
Um terceiro grupo de
ex-companheiros sustenta que a biografia do metalúrgico foi maculada um pouco
mais tarde, quando Lula chegou ao Palácio do Planalto. “Havia muita dívida de
campanha, inclusive de partidos aliados, e uma enorme pressão de lobistas de
vários setores”, lembra um antigo conselheiro de Lula que chegou a frequentar o
gabinete presidencial. “Veio o Mensalão e a institucionalização de caixa dois
para o partido e também desvios para pessoas físicas”, lembra. “Lula e vários
outros petistas históricos como Zé Dirceu e Antônio Palocci não resistiram aos encantos
do poder e viraram presa fácil de lobistas e empreiteiros. Começaram aceitando
recursos ilícitos para financiar o que chamavam de projeto de poder. Depois
passaram a se beneficiar desses mesmos recursos”, explica o ex-aliado de Lula.
Antigos amigos, no entanto,
são unânimes ao afirmar que a trajetória do menino que deixou Garanhuns, no
sertão pernambucano, até o combatente líder sindical de São Bernardo do Campo é
exemplar. Para fugir da fome e da seca nordestina, em 1954, Lula com oito
irmãos e a mãe penduraram-se em um caminhão pau de arara com destino a São
Paulo. Ele tinha nove anos. Quando chegaram a Vicente de Carvalho, no Guarujá,
a família descobriu que o pai de Lula já vivia com outra mulher. Diante desse
quadro, o menino que sonhava jogar futebol pelo Corinthians passou dois anos
vendendo tapioca, amendoim e laranja nas ruas, até se mudar para um quarto no
fundo de um bar no Ipiranga, bairro na zona Sul de São Paulo. Com 12 anos, o
pequeno retirante foi engraxate e office boy. Aos 14 anos conseguiu registro
profissional em um armazém. De lá foi parar em uma fábrica de parafusos. Fez o
curso de torneiro mecânico no Senai e passou por várias metalúrgicas na região
ao ABC. Com 18 anos, perde um dedo em um acidente de trabalho e em 1966 começa
a fazer politica sindical. Em 1969 é eleito suplente da diretoria do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Bernardo. Em 1975, presidente. Trata-se, de fato, de
uma história de superação. Superação de uma realidade tipicamente brasileira e
que Lula foi incapaz de transformar.
Relacionados:
Demorou demasiadamente! Tempo suficiente para rapar todo o dinheiro dos cofres brasileiros. Deve estar morrendo de rir e assistindo o povo já sofrido se acabar para pagar a conta. Sim, nós pagaremos esta estrondosa conta. Demorou o tempo suficiente para que o plano desse certo para Dirceu, Lula,Dilma e comparsas. A propósito, onde estará Eike Batista ?
ResponderExcluirDizem que colhemos o que plantamos... Não me lembro de ter plantado tanta gente filha da puta.
ResponderExcluirPesquisa na barra lateral direita:
ResponderExcluirVocê acredita que, um dia, Lula da Silva será preso?
Por enquanto vai dando “NÃO”.
Não: 6 votos
Sim: 3 votos
Talvez: 3 votos
Não sei: 1 voto