Rodrigo Constantino
Não é novidade: a mídia
mainstream virou torcedora e deixou a análise de lado para ajudar a derrotar
Trump. Sem sucesso, dobrou a aposta: fala em “fake news” como se não praticasse
ela mesma o que condena, e passou a intensificar os ataques ao presidente
americano, incapaz de qualquer parcialidade na hora de julgar seu primeiro ano
de gestão.
Já vimos “reportagens”
atacando o laquê que Trump usa no cabelo, a forma como segura o copo de água, a
maneira como jogou comida de peixe no Japão, a escrita da primeira-dama, que
denunciaria uma personalidade autoritária, e agora temos uma “análise” da fala do presidente, que seria proporcional à de
uma criança de 8 anos:
Donald Trump pode se chamar
de gênio no Twitter, mas seu vocabulário aponta em outra direção. Uma análise
das 30 mil primeiras palavras do presidente desde a eleição mostra que o
governante fala em um nível um terço menor que qualquer outro presidente desde
1929 — um grau de leitura equivalente ao de uma criança na 7ª série.
O vocabulário e a estrutura
gramática de Trump são “significativamente mais simples e menos diversos” que
qualquer outro presidente desde Herbert Hoover, apontou a análise. A comparação
é baseada em entrevistas, discursos e coletivas de imprensa de todos os
presidentes desde 1929, compilados pela base de dados Facta.se. A análise
compara todos os registros não oficiais desses governantes para trazer esses
dados à tona, o que não leva em conta discursos previamente preparados.
É uma obsessão patética,
doentia, incompatível com um jornalismo de alto nível que se pretende isento.
Não por acaso até David Brooks, colunista “progressista” do ultra esquerdista
NYT, teve que reconhecer o baixo nível dos atuais adversários de
Trump, procurando se afastar dessa tendência um tanto boçal. Diz ele:
Eu menciono essas observações inconvenientes
porque o movimento anti-Trump, do qual sou membro orgulhoso, parece estar
ficando mais burro. Parece estar se transformando em uma versão
de conto de fadas da realidade que filtra informações discordantes. Mais
anti-Trumpers parecem estar se repetindo uma narrativa da “Loucura do Rei
George”: Trump é um louco semiliterado cercado por idiotas que são moral,
intelectual e psicologicamente inferiores a pessoas como nós.
[…]
O movimento anti-Trump sofre de insularidade. A
maioria das pessoas que detestam Trump não conhece quem trabalha com ele ou o apoia.
E se eles têm amigos e familiares que admiram Trump, eles aprenderam a não
falar sobre esse assunto. Então, eles obtêm a maioria de suas informações sobre
o Trumpismo de outros que também detestam o Trumpismo, que é sempre uma receita
para fechamento epistêmico.
Que um “liberal” reconheça
isso é um bom passo, que traz esperanças. Os “progressistas” se fecharam numa
bolha onde só entra gente igual, como naquele cenário do Globo de Ouro com os
poderosos de Hollywood repetindo belas e vazias palavras em prol das
“minorias”. O tema dessa vez foi o feminismo e o abuso sexual, mas não foi
porque aquela turma descobriu escândalos terríveis, e sim porque o
público os descobriu. É muita hipocrisia…
Mas voltando a Trump, ele
seria um idiota cercado por idiotas, mas que mesmo assim venceu todo o poderoso
establishment, contra toda a mídia? Imagina se ele fosse esperto então…
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 9-1-2018
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