Cristina Miranda
Há um silêncio ensurdecedor à
volta do que se passa na Venezuela. A começar pela comunicação social, essa
aliada do governo em ofuscar, omitir ou atenuar tudo o que possa beliscar quem
manda agora neste país. Eles que não nos poupam com o Trump seja porque
bebeu água com as duas mãos, seja por causa de uns exames médicos que fez, seja
por umas calinadas linguísticas, aqui tudo é importante escrutinar TODOS OS
DIAS (tudo que não seja positivo, claro) sobre essa criatura. E a
Venezuela com mais de 500 mil luso-descendentes a morrer à fome, miséria,
opressão, não interessa? Onde estão agora, também, os intelectuais e
os políticos que tinham em Maduro uma referência política? Ficaram mudos por quê?
Estes portugueses não interessam a ninguém?
A Venezuela está a ser
assassinada por um louco que mata a economia apesar de ser um grande produtor
de petróleo (mas que ironia!), provocando escassez severa de alimentos com uma
inflação de mais de 2,300%. Que mata opositores, entre eles Oscar Perez. Que
mata o povo por falta de assistência médica. Que mata crianças por falta de
comida. Um louco fanático que para não reconhecer o fracasso das suas
políticas de esquerda rejeita apoio internacional. Mas um louco com
lucidez suficiente para desarmar a população e aceitar ajuda de Cuba com
milícias da sua tropa de elite, as “Vespas Negras “, para oprimir movimentos
populares usando qualquer método dissuasivo como tortura ou morte. Com lucidez
suficiente para comprar pessoas com caixas de comida barata para assegurar
votos sob coação e manter-se eternamente no poder (não sei o que isto me
lembra).
Entretanto há trinta e um
milhões de pessoas desesperadas para sobreviver à morte certa. Fugas em massa com quilómetros de fila para a Colômbia, assaltos a supermercados e armazéns de comida, apedrejamento de vacas em propriedades privadas para matar a fome, a comerem do lixo, a comerem alimento para cães, com a ONU a observar, observar, observar… que é o que de
melhor sabe fazer. Observar. No meio deste observatório todo, marca
debates, uns atrás dos outros, e vejam só, até houve lugar a elogios ao esforço da Venezuela ao introduzir
uma série de medidas em linha com as que foram recomendadas por Alfred de
Zayas, (especialista independente da ONU para a promoção de uma ordem
internacional democrática e equitativa), para melhorar a distribuição de
alimentos e medicamentos. Está-se mesmo a ver o esforço de Maduro. Até lhe
sinto o suor daqui… Francamente!
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María Carolina Merchán (á direita), que pesa 29kg, com sua filha Marianyerlis, de seis anos, na casa da família em Ocumaré de Tuy, na Venezuela. Foto: Meredith Kohut/The New York Times |
A História já nos
demonstrou que com loucos tem de haver uma ação drástica por parte da
Comunidade Internacional para resgatar os povos da morte e não esta
hipocrisia monumental do “faz de conta que não é assim tão grave”. Lembram-se
do holocausto nazi? Enquanto decorria quem conseguiu escapar denunciou a
chacina. Revelou os campos de concentração. Que fizeram os aliados? No imediato, nada. Só
dois anos e meio depois. Porque se o tivessem feito, muitas vidas teriam sido
poupadas. Factos.
Nem mesmo com as evidências
todas de uma nação literalmente a morrer de fome (veja aqui) a
Comunidade Internacional se mexe para acudir a esta catástrofe
humanitária. Onde andam os histéricos defensores dos direitos do homem? Não
andam. Sumiram.
Quem sabe se isto fosse antes
um caso de pseudo assédio de artistas de Hollywood ou uma manifestação contra
Trump ou alguém a manifestar-se contra a islamização da Europa, a agitação não
fosse maior e aí já teria destaque no “prime time” televisivo. A toda a hora.
Quem sabe?
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
19-1-2018
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Resposta ao título do texto: escondidos na própria couraça da hipocrisia. Na verdade, os direitos humanos, para esse seguimento de crianças desamparadas, não existe. Direitos humanos existe, para os ricos, os poderosos, os filhinhos de papai, os santinhos do pau-oco.
ResponderExcluirO resto, é pura história pra boi dormir.
Aparecido Raimundo de Souza, 64 anos, jornalista.