terça-feira, 3 de setembro de 2019

[Para que servem as borboletas?] Suspensão de juízo... Resvalando para a mística...

Valdemar Habitzreuter

O que entendemos por juízo? Grosso modo, significa julgar, avaliar, opinar sobre algo... Nossa lide com o mundo nos impõe que tenhamos juízos sobre fatos e coisas para viabilizar nossa vida prática.

É natural que façamos juízos da realidade a nossa volta. Mas, nem sempre nossos julgamentos são definições corretas das coisas. Incorremos em erro porque, as mais das vezes, julgamos segundo nossos interesses e não vislumbramos a essência do fenômeno que se nos apresenta.

Daí a proposta husserliana (Husserl) de suspender o juízo do mundo real, de tudo que nos cerca como realidade. Não que duvidemos da existência das coisas, mas que façamos de conta como se não houvesse o mundo concreto; não emitir, portanto, juízo ou julgamento sobre o que nos cerca – suspensão de juízo.

Então, o que acontece com essa atitude? Chegamos a um ponto em que algo se apresenta incontestável: nossa consciência, nosso eu irrefutável do qual não podemos duvidar. Sabemos que o mundo concreto existe, mas dele podemos duvidar como se fosse uma ilusão, mas não há como duvidar do meu eu, pois o vivo e não o observo como se fosse uma exterioridade da qual poderia duvidar.

Assim, descubro uma realidade essencial em mim da qual não posso fugir ou duvidar: minha consciência, meu eu. E as coisas fora de mim são fenômenos (do grego phainestai = aparecer) que aparecem para mim ou se apresentam a minha consciência. Nossa consciência é sempre consciência de algo. 

Com a suspensão do juízo, todo fenômeno que aparecer na consciência é considerado desinteressadamente para que sua essência se revele, o que realmente é em si e não o que faz sentido para nossa vida prática. É ter, portanto, um conhecimento da coisa em si. Exemplo: da minha janela eu vejo um coqueiro. Mais adiante, uma jabuticabeira. São coisas que se apresentam a minha consciência como fenômenos. Qual a essência desses dois fenômenos diferentes? São árvores - essa é sua essência: ser árvore, ter a “arvoridade” ou, latinizando, a “arboridade” como pano de fundo, como substância fundante, sua essência.... Vejo que são belas e que podem me fornecer frutos, mas isso é secundário, acidental; o primordial é saber o que são árvores que, por sinal dão frutos e são belas...   É claro, na vida prática o que me interessa são os frutos que posso comer ou mesmo contemplar sua beleza, mas não dá para comer a “arboridade”....

O filósofo Husserl chamou isso de método fenomenológico que procura descobrir as essências das coisas ou, como dizia, “voltar às coisas mesmas” e vivenciá-las como são em sua essência, à parte de juízos ou julgamentos convenientes que possamos delas fazer. É fazer uma redução eidética (de ideia), isto é, chegar à ideia primordial da coisa. Reduzir a coisa até chegar ao seu cerne, à ideia fundamental que permanece absoluta sem mudança. O coqueiro e a jabuticabeira podem apresentar mudanças ao longo do tempo em suas aparências externas, mas sua essência, a ideia “arboridade” é perene, sem mudança.

O mais interessante é refletir sobre nosso eu, fazermos a redução eidética de nós mesmos, do nosso eu. Adentramos aí, a meu ver, no campo do misticismo. Creio (sem certeza se interpreto genuinamente Husserl neste ponto), creio que Husserl foi um místico, como outros filósofos que adotaram a fenomenologia como método filosófico, como Heidegger também com sua investigação sobre o ser (é o meu feeling, posso estar enganado) ...

Experienciar-se como ser é adentrar num mundo novo, desvincular-se da matéria e estabelecer-se no ser. Resvala-se, então para mística. Mística é uma experiência direta sem a intermediação dos sentidos; é viabilizada pela intuição que é experiência do espírito, tão concreta quanto a experiência sensível. Investigar o que é o eu é descobrir nossa essência que é ser. Temos a consciência de ser e quanto mais rédeas dermos em profundidade a essa consciência do eu ser ser, mais ela se enche do Ser que é o Absoluto. Esta é uma experiência mística que poucos conseguem; é uma experiência inefável, indescritível. Só aquele que a experiencia sabe o que é...

Bom, caro leitor, tente ser um místico e mergulharás no Oceano do Ser Absoluto... Como diz outro filósofo de viés místico, Bergson: “NO ABSOLUTO AGIMOS E NOS MOVEMOS”
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 3-9-2019

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Um comentário:

  1. Infelizmente os filósofos antigos carecem de conhecimento sobre a consciência. Sei que haverão réplicas e tréplicas sobre isso.
    A consciência é o resultado das informações recebidas pelos nossos 5 sentidos.
    Os filósofos antigos e alguns modernos desconhecem essa concepção biológica.
    Existem pessoas que nunca possuíram a visão, a audição, o olfato e até mesmo o tato, ou a mobilidade.
    Sentidos que formam a consciência, sendo que a mobilidade transforma caráteres.
    As imagens, os sons, o odor e o sentido táctil são princípios fundamentais para ter-se consciência.
    São fundamentais para força magistral do intelecto.
    Como poder-se-ia analisar o antagonismo dos tempos sobre o intelecto?
    Defendo com unhas, dentes e alma o controle universal da natalidade, como forma de diminuir-se a pobreza e a poluição.
    Com os avanços tecnológicos haverão nos próximos anos um desemprego em massa no mundo.
    Haverá fome e lutas sociais.
    A formação do intelecto já está sendo reduzida.
    A maioria dos filósofos contemporâneos só falam de amor, de ajuda social e de sexo.
    Quanto mais falam aumenta ainda mais o número dos que necessitam ajuda sociais.
    Muitos falam dos Estados Unidos que possui 4575 presídios o Brasil 1456, com taxa de 197% de lotação. Mesmo que construíssemos 1 presídio por dia não conseguiríamos sermos social com nosso presos.
    Desculpa-me pela troca de assunto, mas inevitavelmente sem o controle natal seremos vitimas sociais nos próximos anos.
    Nenhuma filosofia me dará paz e sossego.
    EU VIVO PRISIONEIRO DE MUIM MESMO.
    bom dia...

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