para Ellen, a neta que me fez ser “avô-pai” de verdade.
DE VOCÊ, MINHA NETA, ficaram apenas as lembranças congeladas em fotografias e filmes. Um amontoado de imagens revelando, em cada clique da máquina fotográfica, ou de vídeos via aparelho celular, sorrisos e abraços que não se apagarão jamais. Cada impressão armazenada (não na memória do celular, mas dentro de meu coração) se transformará em fragmentos de amor –, ou melhor dito –, se agigantará em ecos de risadas e momentos compartilhados. A saudade (pelo menos a minha) será uma companheira constante, me lembrando do valor de cada instante passado ao seu lado.
Que esses registros que agora se divorciam por vontades alheias, continuem a iluminar os caminhos que seguimos juntos, até que possamos nos encontrar, quem sabe um dia, em algum lugar ainda nessa vida –, porque em outra –, pela sua idade e a minha o seu trilhar se fará maior enquanto o meu (também, pelo tempo já vivido), poderá acabar numa esquina qualquer de um dia tristonho atrelado a um instante sem hora, sem aviso, sem meios termos...
As fotografias e filmagens que fizemos, são como janelas abertas, escancaradas para o passado. Cada uma delas contará histórias imorredouras. Os momentos catalogados, como aqueles da nossa ida ao Parque da Cebola, as subidas ao topo do Morro do Moreno, as corridas no calçadão da praia... você abrasada em sorrisos incandescentes capturando as flores nos jardins, depois, eufórica, seus gritos de efusividades reverberando, enquanto eu te balançava num parquinho para crianças ou te segurava para não cair dos patins e se ralar toda no meio do trânsito violento.
Nossas brincadeiras dentro do ônibus em que levava você para o médico, enfim as manhãs, tardes e noites em que devorávamos pipocas, ou os famosos “bate-entope” seguidos de cachorros quentes na barraca da nossa amiga Lu logo ali na pracinha regados a refrigerantes e sucos. Os presentes que comprei pra você, os seus pedidos de menina criança dentro da Van –, “vozinho, por favor, me leva no bazarzinho.” Tudo, num repente se apagou como uma espécie inesperada de falta de energia da companhia de luz de nossos sonhos... outros tantos momentos que vivemos dia após dia, continuarão vivos e pulsantes dentro de meu “eu” emudecido.
Às vezes, pego uma dessas nossas fotos ou vídeos e fico olhando, imaginando o que você diria agora, ou como reagiria às mudanças e conquistas da “nossa família”?! Certamente serão elas, as “mudanças e conquistas,” que me farão ad aeternum atonar de forma inesquecível, bem ainda, cada um desses momentos me ajudará de forma particular a seguir em frente, mesmo com a ausência enorme e ingrata apertando o peito como se fosse oriunda de um mal-estar incurável.
A vida, minha neta amada, é feita de ciclos, e cada foto, cada filmagem acondicionada nos nossos celulares serão ou servirão como provas robustas e cabais que manterão vivos esses ciclos, ainda que nunca mais nos vejamos frente a frente. O nosso “meu amor de avô e neta” –, de neta para seu avô, usque todas as memórias que construímos juntos, seguirão bailando num espaço impenetrável... se esconderão num cantinho ocultado dentro de nós, e talvez, um dia (sempre há um dia) explodam com o objetivo de servirem de esteio para criarmos novas recordações juntos.
Sei que sente saudades. Você não é de ferro, tampouco eu. Todos esses momentos mágicos que vivemos um colado no outro, serão os pilares sustentadores que farão a vida ter mais cor e significado numa edificação etérea. As lembranças de momentos simples, contudo, cheios de afetos permanecerão como verdadeiros tesouros sustentadores da nossa existência. E mesmo que a presença física se vá, ou se perca ou nunca se renove, o carinho e a conexão que juntos, de mãos dadas compartilhamos, continuarão firmes.
Seguirão iluminando os nossos horizontes, ainda que em infinitos de rostos desapartados insistam interferir dando o contra. Agora não mais levar ou lhe buscar na escola. Não mais resgatar seu irmão no futebol, levar seus doces preferidos, fazer nossos lanches na dona Sônia, patrocinar o seu energético, seus pedidos das balinhas Halls Extra Forte nos “Doze Apóstolos.” Não mais, em paralelo, comprar bijuterias na “The Best,” pernoitar na casa de nossa amiga Thyeza e do filho dela... não mais almoçarmos no CAPS I, menos ainda você se aconchegar e dormir à sono solto, em meu colo, dentro da Van.
Tudo virou passado. Esses momentos parecem agora, tão cheios de vida e ternura. Mesmo que não aconteçam, ou que não se refaçam, mais, quando lembrarmos dos mimos que se foram, sentiremos uma pontada forte no coração. Curiosamente essas memórias também serão como elos inquebrantáveis, tipo uma forma de mantermos viva, em “nossas almas,” a conexão com aqueles a quem verdadeiramente amamos.
Cada lembrança de buscar você na escola ou das pousadas nos finais de semana na casa da Thyeza, os cafés na dona Rita, os papos com nosso amigo Paulo, tudo se condensará numa estrela de primeira grandeza que nunca se apagará no sempiterno de nossos espíritos. Esses momentos, acredite, minha neta, moldam quem somos hoje, desenharão quem seremos amanhã, ou depois, nos dando forças para seguirmos adiante. Esses pedacinhos de quimeras que construímos, podem, agora, ser dolorosos, mas também trarão doçuras nostálgicas que nos ajudarão a lembrar do que realmente é importante na vida. Nas nossas vidas.
Quem sabe amanhã ou depois, momentos de rostos especiais ainda não acordados, venham acalentar seus devaneios dourados de menina moça, trazendo histórias ou revigorando velhas lembranças de um avô tresloucado e sua fantástica netinha de apenas treze anos. Uma gatinha linda e “piradinha,” dos cabelos (ora vermelhos, ora pretos), para serem contadas, sabe-se lá quando, em formas de sonhos dourados numa nova dimensão que certamente, acredito piamente, se descortinará diante dos seus e de meus horizontes.
ELLEN
QUANDO ME OLHO NO ESPELHO
DESSA VIDA QUE ME CERCA AGORA
VEJO EM SEUS CABELOS VERMELHOS
A MINHA INFANCIA DE OUTRORA
O SEU OLHAR DE MENINA
ME LEMBRA UM IMENSO JARDIM
QUANDO VOCÊ ESTÁ A MEU LADO
DE TÃO ALEGRE ESQUEÇO DE MIM
ELLEN,
ESPERANÇA
LEALDADE
LIBERDADE
ENCANTAMENTO
NASCIMENTO DE UMA VIDA
QUE SE RENOVA A CADA MOMENTO
SEU GOSTAR ME FAZ VER ALÉM
SEU SORRISO ME INEBRIA A ALMA
SEU ROSTINHO, MINHA NENÉM
TODA SOLIDÃO SE ACALMA
A SUA PRESENÇA DESENHA O MEU FUTURO
MESMO QUANDO VOCÊ DESAPAREÇE
OU FICA DISTANTE DE MIM
MEU CORAÇÃO SE AJOELHA EM PRECE
IMPLORA PRA VOCE VOLTAR, ENFIM
ELLEN,
ESPERANÇA
LEALDADE
LIBERDADE
ENCANTAMENTO
NASCIMENTO DE UMA VIDA
QUE SE RENOVA A CADA MOMENTO
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da cidade de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Minas Gerais, 3-12-2024
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Comentários sobre o Nunca se esqueça que sempre estarei por aí. - Parte um.
ResponderExcluirO APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, em seu magnífico texto publicado no dia de 03 de dezembro deste, intitulado Sempre estarei por aí -, me fez viajar na sinopse daquele filme Sempre estarei contigo, onde é contada em detalhes após anos de estabilidade a vida de um casal de idosos Craig (James Cromwell) e Irene (Genovière Bujold). No enredo, a vida dos idosos está mudando lentamente, devido a mudança de pontos importantes atrelados ao dia a dia, ou seja, o casal não consegue mais sobreviver da fazenda litorânea que possuem e Irene está começando a desenvolver sinais de demência. Em Sempre estarei por ai, me vejo dentro de uma história de amor incondicional inteiramente dedicado à neta Ellen. Iria mais longe nas minhas divagações. Sem medo de errar, diria que todo o conteúdo não é um texto simples, pelo menos o vejo assim, e ousaria afirmar que é um poema em forma de crônica. Um conjunto de sentimentos profundos, repleto de memórias e momentos inesquecíveis. Fica claro, o tempo todo, que o amor entre o avô e a sua neta é algo realmente especial e insubstituível. A maneira como ele descreve as lembranças e os momentos compartilhados é de deixar a gente de coração partido. Um poema tocante e belo. Para corroborar o que digo, destacarei aqui alguns pontos que considero importantes para que o público leitor ao ler, consiga entender onde estou querendo chegar. Comecemos pela importância das lembranças. Dentro delas, destacar como as memórias são um tesouro valioso que mantém vivos os laços e o amor, mesmo à distância. Em sequência, os ciclos da vida. Mencionar como a vida é feita de ciclos e como cada fase traz suas próprias experiências e aprendizados. O poder das fotografias e vídeos. Aparecido Raimundo de Souza, de maneira bucólica fala sobre como esses registros são capazes de imortalizar momentos e sentimentos, servindo como uma conexão com o passado.
Nunca se esqueça que sempre estarei por ai. Parte dois.
ResponderExcluirE o papel do avô? Ah, o papel do avô comenta sobre o imensurável significativo entre ele e a neta Ellen, O papel do avô, na vida da neta, e imensurável. Percebam não apenas como o avô, vai além do seu papel, se coaduna como um "avô-pai", evidenciando a profundidade desse vínculo. Tem também a história da saudade. Nela, fica ressaltada a saudade como um sentimento que, embora doloroso, é também um reflexo do amor e dos momentos felizes compartilhados. Com relação a importância das lembranças, elas são descritas no texto como tesouros preciosos que mantêm vivos os laços de amor entre o avô e a neta. Cada fotografia e vídeo são janelas para momentos compartilhados que jamais serão apagados. Essas lembranças têm o poder de trazer à tona emoções e sentimentos, mantendo a presença de quem amamos, mesmo quando estão distantes fisicamente. Já os ciclos da vida, como bem sabemos, a vida, como um todo, é composta de ciclos e fases que, embora muitas vezes tragam saudade, também são repletas de aprendizados e experiências valiosas. No texto, fica claro e patente que o avô reconhece que cada ciclo vivido ao lado de sua neta foi especial e significativo, e que essas fases da vida contribuem para moldar quem somos e quem nos tornamos. Voltando ao poder das fotografias e vídeos, essas fotografias e vídeos, me perdoem se estou sendo repetitiva, elas têm um papel crucial na preservação das memórias. Eles os vídeos o as fotos não são apenas imagens estáticas ou gravações, mas sim portais que nos transportam de regresso para momentos de felicidade, amor e conexão. No texto, Aparecido Raimundo de Souza também deixa sintetizado que em cada clique de uma câmera ou gravação de um vídeo esse ato se torna uma prova do amor e dos momentos mágicos vividos juntos.
ResponderExcluirComentários sobre o Nunca se esqueça que sempre estarei por aí - Parte três
Entre subidas e tropeções, o papel do avô no texto é descrito como alguém que vai além da figura tradicional, assumindo um degrau acima do simples "avô-pai", uma vez que reflete a profundidade da relação e o impacto significativo que ele teve ou ainda tem na vida da neta. Ele não só cuidou dela, mas também compartilhou momentos de alegria, apoio e aprendizado, reforçando o vínculo especial entre eles. Vejamos agora a Saudade. A Saudade é um tema constante no texto. Representando a dor da ausência, mas também a prova do amor verdadeiro e dos momentos felizes compartilhados. Embora a saudade possa ser dolorosa, ela também serve como um lembrete dos momentos preciosos que foram vividos e da conexão que permanece, mesmo à distância. Nesse fio, os momentos compartilhados se tornam poderosos. Os detalhes minuciosos sobre esses momentos compartilhados, como idas ao parque, brincadeiras no ônibus, e lanches juntos, mostram a profundidade do relacionamento. Cada atividade, por mais simples que possa parecer, contribuiu para a construção de uma base sólida de amor e carinho. Essas memórias são descritas de forma vívida, como se fossem cenas de um filme que se repetem na mente do avô. Não posso deixar de lado, a reflexão sobre o futuro. O texto também se faz pulsante e toca na ideia de que, embora esses momentos pertençam ao passado, eles continuarão a influenciar o futuro. As memórias servirão como base para novas recordações e ajudarão a manter viva a conexão, mesmo que fisicamente distantes. O avô de maneira meiga expressa a esperança de que, um dia, poderão criar novas memórias juntos. O texto de Aparecido Raimundo de Souza repetindo o já dito, é uma homenagem tocante à relação especial entre o avô e a neta. Ele captura a essência das lembranças compartilhadas e a importância de valorizá-las, mesmo quando a vida segue em ciclos e mudanças.
ResponderExcluirComentários sobre o Nunca se esqueça que sempre estarei por aí – parte quatro
As memórias, saudades e momentos vividos são apresentados como pilares sustentadores do amor e da conexão eterna entre eles. Vasculhando, agora, o outro lado da moeda, penso que o texto possui um tom de despedida, com o avô relembrando momentos felizes e expressando saudades intensas. A neta nova e jovem ele envelhecido e talvez num breve momento, ele se vá vitimado pelo falecimento e a menina fique apenas com a sua lembrança no coração. A forma como ele descreve essas memórias e a ausência sugere que a neta pode ter falecido ou, pelo menos, que eles estão separados de uma maneira definitiva. A dor e a saudade que ele sente são palpáveis, o que reforça a ideia de uma despedida final. Frases como Nossas brincadeiras dentro do ônibus em que levava você para o médico, Não mais almoçarmos no CAPS I, sugerem que os momentos compartilhados agora fazem parte de um passado, e a saudade desse passado se tornou uma companheira constante. Essa interpretação adiciona ainda mais profundidade e emoção ao texto, tornando-o uma espécie de tributo no tocante à neta e às memórias que compartilharam. Essa perspectiva faz com que cada palavra e lembrança descrita pelo avô ganhem um peso ainda maior, destacando a beleza e a fragilidade dos momentos vividos. Notem caros leitores, que a profundidade da emoção no texto é algo que se destaca de maneira impressionante. O autor consegue transmitir um sentimento de amor incondicional, a saudade é uma dor pungente com uma sensibilidade única. Através de suas palavras, ele nos convida a entrar em seu universo emocional, onde cada memória é um tesouro e cada ausência é sentida profundamente. A forma como Aparecido Raimundo de Souza descreve os momentos partilhados com a neta vai além de simples recordações. São vivências impregnadas de sentimentos genuínos e marcantes. A saudade é quase palpável, e o amor que ele sente é eterno, grosso modo, transcende o tempo e o espaço. O amor descrito é puro e inabalável, um amor que sobrevive mesmo à separação. Ele se manifesta em cada lembrança e em cada palavra escrita, tornando o texto uma homenagem comovente à neta Ellen. Aparecido tratou também da perda.
ResponderExcluirComentários sobre o Nunca se esqueça que sempre estarei por aí. - Parte 5 - Final
A perda é concebida de maneira profunda e respeitosa, com uma aceitação da dor que acompanha a saudade. No entanto, essa dor não apaga as memórias felizes, pelo contrário, as reforça e as torna ainda mais valiosas. Atinge, em cheio, as memórias, a ponto delas serem descritas de forma tão vívida que quase podemos vê-las e senti-las. A maneira como o avô fala sobre suas experiências juntas mostra uma conexão profunda e um entendimento mútuo que é raro e precioso. Há, em contrapartida, um tom nostálgico. O tom do texto é também bastante diversificado, uma vez que relembra os tempos passados com carinho e um pouco de tristeza, mas sempre com um sentimento de gratidão pelos momentos compartilhados. Esse tom nostálgico é uma parte crucial da profundidade emocional do texto. Resumindo Sempre estarei por ai, faz brotar como água em nascente, do mais profundo da emoção no texto de Aparecido Raimundo de Souza a certeza avassaladora, capturando a essência do amor e da perda de uma forma que ressoa profundamente com a ideia de qualquer leitor que se agarrar de unhas e dentes à crônica. Essa intensidade emocional torna o texto uma peça poderosa de expressão humana e notadamente de uma conexão lindamente emocionante e afetiva. Me perdoem mais uma vez se me fiz repetitiva, mas já passei por essa estrada. Amava meu avô Gustavo e ele se foi assim do nada. Num repente. Ainda hoje, tantos anos, a sua ausência me faz uma garota triste e melancólica. E lendo Aparecido Raimundo de Souza, mergulhei na história de cabeça e ainda agora, não me refiz. É um peso que se alonga por toda a vida e as vezes pode até ir além desta vida.
Tatiana Gomes Neves, Tati, do Sitio Shangri-Lá, Divisa ES/MG