Paulo Hasse Paixão
Num desenvolvimento não
totalmente surpreendente, uma conversa telefónica que caiu no domínio público
revelou que os líderes europeus consideram que Washington está a tentar “trair”
o Presidente Zelensky ao tentar um acordo de paz que acabe com a guerra na
Ucrânia.
O Presidente francês, Emmanuel
Macron, expressou durante a conversa a sua opinião de que existe “um grande
perigo” para Zelensky, acrescentando:
“Existe a possibilidade de
os Estados Unidos abandonarem a Ucrânia em questões territoriais sem fornecer
clareza sobre as garantias de segurança.”
No entanto, o gabinete de
Macron procurou esclarecer posteriormente que “o presidente não usou essas
palavras”.
A transcrição que foi
divulgada da conversa entre os líderes europeus sobre as estratégias para
proteger o governo de Zelensky e os interesses de Kiev, contrariando a agenda
da Casa Branca, foi publicada na quinta-feira passada pela revista alemã
Der Spiegel.
UKRAINE: Leaked call shows EU leaders fighting to block Trump’s peace talks. Merz, Macron, Stubb, and Rutte all pressured Zelensky to avoid any US brokered deal. Europe is 100% against peace because they want the war to drag on.
— @amuse (@amuse) December 4, 2025
Der Spiegel obtained notes from a confidential… pic.twitter.com/PzADrFQXNj
Na conversa participaram também, segundo consta, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Friedrich Merz, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, o presidente finlandês, Alexander Stubb, e, claro, Zelensky.
Merz concordou, durante o
diálogo, que Zelensky deveria ser “extremamente cauteloso nos próximos dias” e
avisou o líder ucraniano de que “estão a brincar consigo e conosco”.
O presidente finlandês Stubb
acrescentou:
“Não podemos deixar a
Ucrânia e Volodymyr sozinhos com estes tipos.”
Depois, o secretário-geral da
NATO, Rutte, concordou:
“Concordo com Alexander. Devemos proteger Volodymyr”.
O contexto desta parte da
conversa é particularmente interessante, dado que parece centrar-se nos
enviados de Trump, Steve Witkoff e Jared Kushner, que estiveram recentemente em
Moscovo reunidos com Putin e estão a liderar os esforços para aprovar o plano
de paz de 28 pontos de Trump (ou 19 pontos, com base em relatos de uma
versão revista).
Seja como for, não deixa de
ser cômico que o chefe civil da NATO esteja a conspirar contra a estratégia do
presidente dos Estados Unidos, considerando que a existência da NATO se deve
quase exclusivamente à América.
A revista Der Spiegel admite
na sua reportagem que
“Estas e outras declarações
reproduzidas nas notas da conversa ilustram a profunda desconfiança dos
europeus em relação aos dois confidentes de Trump”.
Michael Weiss, um dos autores
da reportagem, mostrou o seu rigor jornalístico e objetividade inatacável
quando enquadrou tudo isto assim:
“Trata-se de combater as
artimanhas sujas americanas para acabar com a guerra”.
Os esforços de Washington para
alcançar rapidamente, se bem que atabalhoadamente, a paz, constituem uma
espécie de batota imoral, à luz do pensamento de Weiss, que fica nitidamente
horrorizado com a hipótese de alguém “acabar com a guerra”. É espantoso. A
posição do “jornalista”, por si só, liberta a hipótese de que a fuga de
informação tenha partido das próprias autoridades europeias.
Um aspecto relevante da
conversa foi o consenso entre os líderes sobre a questão dos ativos russos
congelados detidos em bancos da UE, que consideram ser uma prerrogativa
puramente europeia, no contexto de relatos recentes de que os EUA estão prontos
para os devolver a Moscovo como parte de um acordo de paz finalizado com a
Ucrânia.
O gabinete de Zelensky, por
sua vez, não confirmou nem negou a veracidade da transcrição que foi divulgada.
Um diplomata ucraniano, que preferiu não ser identificado, respondeu assim,
quando questionado sobre o assunto:
“Em geral, apenas os russos
beneficiam de qualquer divisão entre a Europa e os Estados Unidos, pelo que a
nossa posição consistente é que a unidade transatlântica deve ser mantida.”
Mas a realidade é que Zelensky tem resistido
constantemente à ideia de forjar a paz sem a supervisão e participação direta
da Ucrânia, recusando em simultâneo e consistentemente concessões
territoriais, e os seus apoiantes europeus também se têm oposto a esta parte
fundamental do plano de Trump. O Kremlin insiste atualmente que o seu
controlo sobre o Donbass e a Crimeia não só seja considerado factual e
inegociável, como exige o pleno reconhecimento jurídico internacional de que
estes territórios estão sob a jurisdição da Federação Russa.
Aliás e de qualquer forma, as tentativas da Casa Branca para alcançar um acordo de paz serão infrutíferas. Depois de dez meses de diplomacia errática da Casa Branca e de bem-sucedidas operações de sabotagem a qualquer iniciativa de paz, por parte do aparelho globalista europeu, o conflito na Ucrânia vai resolver-se no terreno, com argumentos militares.
Título, Imagem e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 11-12-2025

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