A segunda
ameaça de expulsão ocorreu numa das lojas (dos meus pais) que gerenciava.
Acabava de abrir a loja, entra um cliente. Havia uma pilha de cobertores
embalados com plástico transparente. Em cima da pilha um cobertor desembalado
como amostra; para os clientes poderem ver melhor, avaliarem o tamanho. O cara
desembala dois, sim, dois, e depois pega um e vem até à caixa, onde eu estava.
Aí, já viu, né? Não prestou. “Qual é, cara, então você desembalou dois
cobertores e quer levar este?! Não, não, tu vais levar um dos que tu
desembrulhaste!!” O cara, que muito provavelmente fez aquilo para provocar,
resmungava que eu era branco, português, colonialista, imperialista,
salazarista, etc…
A expulsão dos
cidadãos brancos ("europeus colonialistas") tinha um rito sumário e
constrangedor; conta-se que um deles, grego, dono de um armazém, havia sido
obrigado a desfilar em cuecas na delegacia para onde foi levado…
A ameaça de
expulsão era, portanto, corrente. Claro, todos os dias o presidente arengava
contra o imperialismo, o colonialismo. Era a dialética oficial e única. Os
“outros” eram os inimigos, os responsáveis pela miséria, etc. Não se construía
nada. Não se cuidava do povo. Faziam-se discursos contra o inimigo externo. Só! Pegou?
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Um dos tantos quadros que o pessoal vendia nas ruas |
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