Rodrigo Adão da Fonseca
A esquerda caviar, e a direita
patusca, andam muito incomodadas com a recente campanha do Pingo Doce. Lê-se
que os consumidores são “mortos-vivos”, que rastejam esfomeados atrás de uma
promoção, como quem come as migalhas do capitalismo. Há ainda os que confundem
“promoção” com “caridade”: o papão do Pingo Doce “não dá nada a ninguém”, “só
pensa no seu interesse”. Ui, onde já se viu, um empresário que luta pelo seu
interesse? “E esse povinho, que horror, a atacar as prateleiras”.
À esquerda e à direita,
ouvimos e lemos frases de lamentação: “Ai, o povo, o povo, quem deixou o povo
sair da gaiola? Onde já se viu, deixarem o povo à solta, em liberdade?”.
Eu, que percebo pouco dessas
coisas de direita e esquerda, por mais que me esforce não consigo ver
indignidade em alguém aproveitar umas horas do seu feriado para comprar
produtos com 50% de desconto, pagando o preço com o fruto do seu trabalho, que
isto de viver do trabalho custa bastante, e dá sempre jeito poupar uns trocos.
Por mais voltas que dê, não percebo qual o problema das pessoas procurarem
simplesmente poupar. Também não sei porque é que o Pingo Doce deve ser censurado,
por servir o seu interesse, servindo os seus clientes. Dando-lhes uma opção.
Cada um luta pelos seus interesses, diria, é assim que crescem as economias
saudáveis: em liberdade, porque só foi ao Pingo Doce quem quis
O grande problema é que há
quem conviva mal com a liberdade dos outros, destes fazerem as suas escolhas.
Que se saiba, ninguém foi ao Pingo Doce obrigado. Indigno é forçar as pessoas a
condicionarem as suas escolhas e a organização das suas vidas, fechando
administrativamente supermercados, limitando preços, regulando tudo e um par de
botas.
Falou-se muito de dignidade.
Os mesmos que enchem a boca com dignidade, são os mesmos que promovem a
solidariedade, a dependência, e a limitação da liberdade, por mão do Estatismo.
São os mesmos que com as suas ideias promovem a ineficiência económica, a
dependência dos mais fracos, e uma sociedade sem direito à diferença e à
escolha.
A esquerda gosta do “Povo”,
sim, mas da ideia abstracta de uma massa que eles querem moldar à sua imagem,
um “povo” insípido, ordeiro, que segue os ditames da elite cultural dominante.
O “Homem Novo”, um ser reumático e com mais de cem anos, continua aí, de
bengala, a impedir que a sociedade evolua. A esquerda adora um certo tipo de
liberdade, a liberdade positiva, ironicamente uma liberdade condicionada, que
tem como limites aqueles que eles próprios prescrevem, em leis que matam a
escolha. O mesmo se passa com boa parte da direita, que gosta de um povo
patusco, ordeiro, subserviente, da esmola e da migalha, que não luta por si e
pelos seus interesses. Unidos numa aliança contra a liberdade, a direita
patusca e conservadora e a esquerda dogmática continuam a projectar sociedades
desenhadas a régua e esquadro, sonhando confortáveis, porque não deixam de se
alimentar da sociedade em que vivem, que capturaram, e que ao mesmo tempo tanto
criticam; estes inimigos da liberdade, à direita e à esquerda, são os
responsáveis pelo atraso endémico do país.
Venham mais promoções,
violações do 1.º de Maio, e possibilidades de escolha. Porque é na escolha que
reside a liberdade. Não uma liberdade qualquer, mas a que interessa, porque
serve directamente aqueles que a exercem.
Título e Texto: Rodrigo Adão da Fonseca, “O Insurgente”, 03-05-2012
Uma correcção: a esquerda não
só gosta como ADORA o povo.
Não gosta é das pessoas.
JP Ribeiro
Eu estou impressionado, muito mal impressionado! Criticar uma promoção comercial, (promoções semelhantes acontecem em outros países), chamar as pessoas que lá foram de "corvos" e de outras coisas mais, não é normal! E pior: propugnar pela punição a essa cadeia de supermercados, algo está podre nesta sociedade!?
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Bem sei qual o mal disto tudo, é a necessidade, não fora isto eu queria ver como era
ResponderExcluirO Mal eu sei, é a inveja!
ResponderExcluirNecessidade?? É "necessidade" aproveitar uma promoção para COMPRAR mais barato??
Necessidade é mendigar, tristemente.
Não vi mendigos no dia 1º de maio, vi consumidores. Espertos e ágeis, não burros como alguns, ou preguiçosos como eu.
Que povo esse país tem!
ResponderExcluirO país com a corda no pescoço e o povo (deve ser rico, creio) esnobando o trabalho e uma boa promoção. QUEM DISSE que o 1º de maio é para ficar recluso em casa? é só um dia em que homenageia-se o trabalho e o trabalhador. Já pensou se médicos resolvessem não trabalhar nesse dia para comemorá-lo?
Verônica