quinta-feira, 19 de setembro de 2013

No País da Infringência

Rosa Maria

Num primeiro momento, diante do resultado positivo (6X5) do julgamento do Supremo Tribunal Federal, sobre a admissibilidade dos “embargos infringentes”, minha sensação foi de nocaute e indignação. 

Nocaute é consequência direta de pancada muito forte (e até golpe baixo!) que tem o poder de nos tirar a consciência e nos afastar da luta. Indignação é o sentimento de repugnância provocado por uma ação iníqua e humilhante, que nos faz perder o respeito e a crença nas pessoas e instituições.

Num segundo momento, ao recobrar a consciência e me dar conta da realidade, tão distante do sonho sonhado, procurei ver com mais clareza o panorama que nos cerca e quais as possibilidades que nos restam de recuperar a autoestima e seguir em frente, de cabeça erguida.

Ter conhecimento e consciência não nos livra da vileza e da ignomínia existente no mundo e na mente de muitas pessoas. Somos todos seres humanos, dotados de inteligência e com a capacidade de refletir sobre as questões da vida. Somos também seres sensíveis e intuitivos. Por isso criamos sistemas de valores e procuramos seguir no caminho que achamos mais apropriado. Mas não somos todos iguais, pois não frequentamos a mesma escola e tampouco temos a mesma ‘formação’, desde o berço. Não nascemos ‘prontos’. Somos seres aculturados e resultados de tudo o que aprendemos com a experiência e com os estudos.

Acontece que vivemos, desde sempre, num mundo de desigualdade, num mundo dividido, num mundo onde os próprios seres humanos exploram-se uns aos outros. Isso acontece na família, na escola, nas instituições sociais e governamentais criadas para reunir as pessoas e, na maior parte das vezes, facilitar a exploração de uns sobre os outros. Assim foi e assim é.

Assim continuará sendo?

Se aceitamos a ideia da Criação do Mundo conforme a Bíblia - muito antes da criação dos 10 mandamentos – ficamos sabendo que o Criador do Jardim de Éden, além de oferecer aos ditosos filhos (Adão e Eva) um lugar paradisíaco para viver, os contemplou também com o fruto proibido (maçã) e com a presença da serpente (tentação), representante do Diabo (o poder paralelo - uma espécie de Ministro da Casa civil nos tempos modernos). De acordo com a Lei do Criador, se Adão e Eva caíssem em tentação e comessem o fruto proibido, seriam expulsos do paraíso. E não deu outra! Essa é a nossa herança, objetiva e subjetiva, através da história e dos tempos.

Sem direito a viver no Paraíso, os descendentes de Adão e Eva foram enviados ao Purgatório, onde poderiam viver numa relativa paz, com a promessa de receber uma passagem para o Reino dos Céus, depois da morte, desde que obedecessem aos 10 mandamentos. Caso contrário, iriam todos para o Inferno. E assim foram vivendo os seres humanos, no eterno dilema de seguir ou não as leis sagradas, mesmo sem provas de que o céu e o inferno existam de fato.

Com o passar do tempo e com a multiplicação dos filhos de Adão e Eva, para manter um mínimo possível de ordem no purgatório, novas leis foram criadas. Vale lembrar que os conflitos existem desde o início da história familiar bíblica, pois é sabido que Caim assassinou seu irmão Abel. Isso nos mostra a fragilidade e vulnerabilidade da condição humana. Apesar das leis, as guerras, os assassinatos e crimes de todo tipo, foram se multiplicando na sociedade. Novas leis vão sendo criadas todo dia, na tentativa vã de conter a criminalidade e dar proteção à integridade física das pessoas e também ao patrimônio individual e coletivo...

Apesar do progresso cultural, científico e tecnológico, a HUMANIDADE parece não ter evoluído o suficiente para viver com equilíbrio, harmonia e respeito. A exploração do ser humano pelo próprio ser humano, agora feita com mais requinte, ainda faz parte da nossa triste realidade. Os milhões de vidas sacrificadas, nos milênios de nossa HISTÓRIA da CIVILIZAÇÃO HUMANA, não foram suficientes para nos livrar da vileza e da ignomínia existente no mundo e na mente de muitas pessoas.

Hoje, escolados e escaldados, nós que fazemos parte da base da pirâmide do poder, sabemos que as leis que nos obrigam a cumprir, sob a ameaça de ferro e fogo, não são feitas para todos. As leis também estão a serviço da exploração social e humana. Os aparatos do governo, nos três poderes da nossa REPÚBLICA, não conseguem mais esconder a distância que existe entre a teoria (aquilo que pregam e querem que acreditemos) e a prática (aquilo que eles, nossos representantes, fazem de fato).

Infelizmente, uma parte dos integrantes do STF está aliada ao poder. Isso ficou bem claro com o resultado positivo (6X5) do julgamento do Supremo Tribunal Federal, sobre a admissibilidade dos “embargos infringentes”, que beneficiou os ‘quadrilheiros’ e ‘lesas-pátrias’ infiltrados no governo brasileiro. Infringir significa violar, transgredir, postergar, desrespeitar. Graças ao PT, estamos vivendo no País da Infringência.

Para aumentar a autoestima dos cidadãos brasileiros, ordeiros e trabalhadores, que querem viver num mundo melhor e mais justo, só resta a participação mais eficiente na vida social e pública. Participar dos movimentos contra a corrupção (já conseguimos a Lei da Ficha Limpa); fiscalizar os trabalhos de nossos representantes eleitos; participar na conscientização dos eleitores; exigir mais comprometimento dos políticos e governantes com as questões relevantes da vida social - saúde, saneamento básico, moradia, educação e trabalho.

Para concluir, e seguir em frente de cabeça erguida, podemos ajudar a escrever um novo roteiro para a HISTÓRIA DE NOSSAS VIDAS e HISTÓRIA DO NOSSO MUNDO! 
Título e Texto: Rosa Maria Custódio, Imortal da ABM, 19-9-2013
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8 comentários:

  1. Jonathas Filho
    Infelizmente o dia será memorável apesar de deplorável. O texto merece aplausos e os faço de pé! Por isso tudo, sugiro o que segue:
    - Assim como o 1º de Abril é Dia da Mentira e o 23 de Agosto é o Dia do Inimigo, sugiro que a data de ontem, Dia 18 de Setembro 2013 seja denominada como o “Dia do Deucano” por ter sido nesta data que um Senhor conhecido como Decano, “deu o cano” na pontaria e ao invés de acertar o alvo da Justiça, o pretenso míope, acertou nos brasileiros uma estúpida paulada na moleira que poderá fazê-los perder o pouco de consciência que lhes resta.
    Jonathas Filho

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  2. O texto não se aplica ao mundo todo, aplica-se a alguns países onde seus habitantes não têm noção de dignidade humana e muito menos cultura suficiente que lhe permita escolher o melhor caminho. Não aprecio esta tendência dos escribas brasileiros de achar que o resto do mundo é igual ao Brasil. Não é não. O Brasil é igual a muitas republiquetas bananeiras e ditaduras grosseiras que existem por ai e, junto com elas, constituem a periferia da civilização. É como se fossem as favelas dos países evoluídos. Conheço alguns países onde a mentalidade, a cultura e o sentimento da população não podem ser comparadas às do povo brasileiro. Eu moro num país, a Austrália, que é a antítese do Brasil em todos os sentidos e em todos os aspectos. Portanto, recomendo a esses escribas brasileiros não generalisar achando que os males que afetam o Brasil são os males de todo o planeta.
    Otacílio

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  3. O Celso de Mello se rendeu, O Zé Dirceu venceu, o Judiciário perdeu, e o povo se fu&@#.
    Idacil Amarilho

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    1. resumiu bem !!! sem novidades,mas correto !!sempre foi e, pelo jeito, à não ser que quebremos tudo no país,sempre será assim...o povo se f...dendo !!!

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  4. Olá Jonathas, Otacílio, Idacil, Ingrid!
    - Agradeço ao Jonathas, os aplausos, as palavras e sugestões.
    - Ao Otacílio, quero dizer que, no texto acima, exerci o direito que tenho de expressar com as minhas palavras o que penso e sinto. Sou brasileira, nasci numa pequena cidade do interior, comecei a trabalhar ainda na adolescência e estudei à noite no meio de adultos, que também trabalhavam durante o dia... Depois, sempre trabalhando, cursei e custeei cursos superiores. Não sou escriba, não devo nada a ninguém e sei muito bem o que é DIGNIDADE! Viajei muito pelo mundo, leio em vários idiomas e, assim, absorvi o pensamento de muitos autores estrangeiros. Conheço a riqueza e um pouco da cultura dos países conhecidos como “de primeiro mundo”. Provavelmente seria mais feliz se tivesse nascido num deles. Os obstáculos e as dificuldades que enfrentei e ainda enfrento seriam bem menores. O Brasil também é um país que poderia ter outro destino (como os EUA, o Canadá e até a Austrália) se a História de sua formação não estivesse ligada à espoliação que sofreu de países europeus... Esses que você, e todo mundo, considera “civilizados”. A supremacia econômica de muitos desses países, ainda nos dias de hoje, se deve à exploração das republiquetas que existem por aí. Você sabe por que existem favelas? Porque existe a exploração do homem pelo homem e isso vem de longe. A sociedade humana não preza, no sentido universal, a “dignidade humana”. Por isso existem as guerras, a indústria de armamentos e todo tipo de vileza contra milhões de pessoas... Você deveria estar morando em Dubai - a cidade da ostentação da riqueza e do luxo combinaria com seu ego. Só que, depois de pouco tempo, você compreenderia que “nem tudo que reluz é ouro”. Quando escrevi o texto acima, não imaginei que teria leitores tão sagazes quanto você! Agradeço seus comentários - são críticas construtivas que foram bem digeridas!
    - Ao Idacil: “Em poucas palavras você resumiu o tema central do meu texto! Parabéns pelo seu poder de síntese! Num futuro próximo é assim que a maioria das pessoas vai se comunicar. Não teremos mais linguistas e, provavelmente, nem língua-pátria”.
    - E você, Ingrid, achou que eu fiz um resumo... sem novidades... Mas ignorou minha mensagem final (nos dois últimos parágrafos). A solução que você apresenta (“a não ser que quebremos tudo”) é, no meu entender, a continuação de tudo o que a humanidade já testemunhou ao longo de milênios: violência e destruição. Acho que chegou a hora de nos tornarmos pacíficos e cidadãos responsáveis – civilizados e humanos de fato!

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    1. desculpe se pareceu que meu comentário foi para você, foi para o Idacil Amarilho,na verdade, quando concordo com ele que ( O Celso de Mello se rendeu, O Zé Dirceu venceu, o Judiciário perdeu, e o povo se fu&@#.),nisso não há novidade, já que poucos esperavam outra coisa do Celso de Mello e qdo falo que só quebrando tudo, é porque, convenhamos, só qdo o Brasil foi às ruas e literalmente começou a quebrar coisas, que os dirigentes do país tiveram um pouuuuuuco, muito pouco medo do que poderia acontecer! Não que EU seja a favor de violência ou quebra-quebra ,mas , sinceramente, não levo fé nenhuma de que ,pacificamente,eles nos devolvam o que é nosso de direito! Eles perderam completamente a vergonha ,se nos dizem uma coisa agora, e daqui à pouco, fazem exatamente o contrário do prometido, nem ruborizados ficam! Acredite, achei teu texto correto e inteligente,e espero que estejas certa qdo dizes que temos de ser pacíficos, responsáveis e corretos-o contrário dos nossos dirigentes, infelizmente !!

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    2. Olá, Ingrid!
      Muito grata por sua explicação, mas nem precisava se dar a este trabalho. E você tem razão, estamos muito longe de uma vida harmoniosa e pacífica! Não dá para esperar que os atuais dirigentes mudem se não se sentirem ameaçados. Temos que exercitar a cidadania,exigir mudanças e fazer cobranças. Espero que nas próximas eleições tenhamos candidatos mais honestos e decentes. Abraços,

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  5. Jonathas Filho
    Para elucidação: Escribas eram aqueles que escreviam, na antiguidade, como copistas, à mando de quem detinha o poder. Atualmente, pode também ser considerado pejorativo, o que diminui e ofende RM Custodio. Eu acredito que um Senhor com tanta cultura e respeito, tenha cometido um erro de digitação, posto que também vive numa Nação que pode ser considerada como exemplo de "tudo de bom" em termos sócio-políticos. Acrescento que a Educação pode, deve e tem de dar conhecimento, interpretação e entendimento. A consciência, só a sua personalidade é que consente ou não que ela faça parte das suas atitudes.
    Jonathas Filho

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