A colunista Míriam Leitão
resolveu atacar Reinaldo Azevedo e esse que vos escreve em seu artigo de
hoje, mas sem coragem para citar os nomes. Criticou o que chamou de miséria do
debate, posando de isenta, neutra, ou pior, acima dos embates ideológicos. É
sempre assim: a nova esquerda finge não ser de esquerda.
Logo de cara, tentou mostrar
uma postura equidistante dos que demonizam o PT e os que demonizam o PSDB,
“acusando-o” de neoliberal:
O Brasil não está ficando
burro. Mas parece, pela indigência de certos debatedores que transformaram a
ofensa e as agressões espetaculosas em argumentos. Por falta de argumentos.
Esses seres surgem na suposta esquerda, muito bem patrocinada pelos anúncios de
estatais, ou na direita hidrófoba que ganha cada vez mais espaço nos
grandes jornais.
É tão falso achar que todo
o mal está no PT quanto o pensamento que demoniza o PSDB. O PT tem defeitos
que ficaram mais evidentes depois de dez anos de poder, mas adotou políticas
sociais que ajudam o país a atenuar velhas perversidades.
O PSDB não é neoliberal,
basta entender o que a expressão significa para concluir isso. A ele, o
Brasil deve a estabilização e conquistas institucionais inegáveis. A
privatização teve defeitos pontuais, mas, no geral, permitiu progressos
consideráveis no país e é uma política vencedora, tanto que continuou sendo
usada pelo governo petista.
O PT não se resume ao
mensalão, ainda que as tramas de alguns de seus dirigentes tenham que ser
punidas para haver alguma chance na luta contra a corrupção. Um dos
grandes ganhos do governo do Partido dos Trabalhadores foi mirar no ataque à
pobreza e à pobreza extrema.
Quanta coisa para rebater!
Vejam como a colunista paira acima dessa disputa política. O PT tem defeitos,
mas não é só o mensalão. O PSDB tem qualidades, e não é neoliberal. Basta
entender o que a expressão significa para concluir isso. É verdade! O PSDB não
é neoliberal, como todo liberal diz. Mas notem como Míriam Leitão acha isso
BOM, e como lida com o termo como se fosse ruim. Ela está, em sua cabeça,
DEFENDENDO os tucanos desse ataque cruel!
O PT mirou no ataque à
pobreza? Mesmo? Ao fazer tais concessões patéticas em nome da covarde postura
neutra, Míriam está endossando uma mentira! As políticas sociais do PT não são
sustentáveis, têm caráter eleitoreiro, criam dependência do estado, são esmolas
que compram votos. Mas ela elogia esse lado “humano” do PT, ajudando a propagar
uma falácia só para parecer bem na foto, contra os “extremos”. Aqui ela se
entrega de vez:
Os epítetos “petralhas” e
“privataria” se igualam na estupidez reducionista. São ofensas
desqualificadoras que nada acrescentam ao debate. São maniqueísmos que não veem
nuances e complexidades. São emburrecedores, mas rendem aos seus inventores a
notoriedade que buscam. Ou algo bem mais sonante.
Como assim, “petralhas” e
“privataria” são termos equivalentes? Petralhas são petistas quadrilheiros, que
justificam quaisquer meios para seus “nobres fins”. Privataria é o que mesmo?
Ah sim, os petistas usam isso para chamar qualquer um que defende… as
privatizações! Ou seja, vender a Vale é “privataria”. Mas para Míriam Leitão, a
isenta, isso é o mesmo que chamar um chefe de quadrilha condenando pelo STF de
“petralha”. Como ela é isenta!
Sobre a tentativa de
intimidação ou quase censura da ombudsman da Folha contra Reinaldo Azevedo, que
até o esquerdista Demétrio Magnoli condenou em sua recente coluna, Míriam toma
o partido da mulher (aliás, ela parece usar tal critério, o gênero, como um dos
mais relevantes, e voltarei a isso em breve). Ela diz:
Recentemente, Suzana Singer foi
muito feliz ao definir como “rottweiller” um recém-contratado pela “Folha de
S.Paulo” para escrever uma coluna semanal. A ombudsman usou essa expressão
forte porque o jornalista em questão escolheu esse estilo. Ele já rosnou para
mim várias vezes, depois se cansou, como fazem os que ladram atrás das
caravanas.
Foi um episódio lamentável de
Suzana, tentar rotular o jornalista logo em seu primeiro artigo, sendo que ele
estava sendo preciso na defesa dos valores democráticos contra os criminosos
dos black blocks! Mas vejam: se você coloca os pingos nos is, você é um
“rotweiller” que não quer um bom nível de debate. Essa gente cai em contradição
com muita facilidade, tentando anular qualquer debate mais sério com
discordância desse politicamente correto patético.
Agora vamos ao trecho em que
ela me ataca, sem citar meu nome (é que sou um estranho qualquer, sabe, que nem
escreve no mesmo jornal que ela há mais de três anos):
Não costumo ler indigências
mentais, porque há sempre muita leitura relevante para escolher, mas outro dia
uma amiga me enviou o texto de um desses articulistas que buscam a fama.
Ele escreveu contra uma coluna em que eu comemorava o fato de que, um século
depois de criado, o Fed terá uma mulher no comando. Além de exibir um
constrangedor desconhecimento do pensamento econômico contemporâneo, ele
escreveu uma grosseria: “O que importa o que a liderança do Fed tem entre as
pernas?” Mostrou que nada tem na cabeça.
Em primeiro lugar, a abjeta
tentativa de desqualificar o outro com base em suas intenções, e isso de alguém
que diz prezar o bom debate: eu busco a fama! Nem vou cobrar de Míriam Leitão
explicações sobre sua visível vaidade, aquela produção toda para falar na TV, e
a ganância que a levou a abandonar a editora Record pela Intrínseca mesmo
depois do sucesso que foi seu livro sobre inflação, premiado até com o Jabuti.
Melhor ficar quieto e ignorar a tentativa pérfida de rótulo das minhas
intenções.
O artigo sobre a Yellen no Fed
foi esse aqui.
Reconheço que apelei um pouco no título, mas foi necessário diante da cartada
sexual lamentável de Míriam Leitão. Afinal, ela estava enaltecendo a escolha,
em boa parte, por causa do gênero. O que isso importa? Yellen
é vista por grande parte do mercado como agressiva demais nos estímulos, o que
é um perigo sério para novas bolhas à frente.
Eis o ponto. Mas para Míriam,
o que importa é que ela seja mulher. E depois tenta desqualificar o meu
conhecimento sobre economia! Logo ela, que é jornalista e que certa vez
escreveu que não compreendia a Embratel valer menos do que tinha em caixa,
ignorando o que tinha do outro lado do balanço, em dívida! Míriam não sabe que
alertei para a estagflação brasileira há três anos? Ela devia estar muito
ocupada defendendo o estilo de vida dos índios na Amazônia…
Agora vamos à hipocrisia
típica da esquerda caviar que Míriam Leitão representa:
Não acho que sou importante a
ponto de ser tema de artigos. Cito esses casos apenas para ilustrar o que me
incomoda: o debate tem emburrecido no Brasil. Bom é quando os
jornalistas divergem e ficam no campo das ideias: com dados, fatos e argumentos.
Isso ajuda o leitor a pensar, escolher, refutar, acrescentar, formar seu
próprio pensamento, que pode ser equidistante dos dois lados.
O que tem feito falta no
Brasil é a contundência culta e a ironia fina. Uma boa polêmica sempre
enriquece o debate. Mas pensamentos rasteiros, argumentos
desqualificadores, ofensas pessoais, de nada servem. São lixo, mas muito
rentável para quem o produz.
Quais foram os dados, os fatos
e os argumentos dessa coluna de Míriam? Não os vi! O que vi foram ataques
chulos e ridículos a dois articulistas que têm tido destaque ao apontar os
absurdos desse desgoverno petista. Para ela, somos da “direita hidrófoba”, seja
lá o que isso signifique. Rótulos, desqualificação das intenções, ataques
vazios, mas logo depois vem posar de triste com a falta de argumentos? Típico…
Certa vez, em 2006, mandei um
email para Míriam Leitão. Não respondeu. Era essa a mensagem:
Cara Miriam Leitão,
Tenho lido e escutado a
senhora repetir que o embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos é incoerente
pois, pelo critério de ditadura, China não deveria ser então o maior parceiro
comercial dos americanos. Venho lembrar-te que, pelo que me consta, o embargo
imposto não é pelo fato de tratar-se de uma ditadura, mas sim pelo fato de
Fidel Castro ter tomado na marra o controle das empresas americanas no passado,
e como reação a tal ato, o embargo foi criado. Creio que seria bastante útil
aos seus leitores compreender tal diferença.
Escrevi dois artigos sobre
Cuba, que você pode encontrar no meu blog: http://rodrigoconstantino.blogspot.com
Grato pela atenção,
Rodrigo.
Mandei outros dois emails
sobre Cuba, questionando como ela podia afirmar que havia avanços sociais
naquela ilha-presídio. Entendo porque não respondeu. Míriam Leitão evoluiu
muito dos dias de socialista. Consta, segundo relatos diretos de alguém
presente, que ela chegou a chorar de tristeza ao ver no que a URSS tinha se
transformado quando foi visitar o país pela primeira vez. O sonho utópico era
um pesadelo na prática. Míriam se livrou do socialismo, mas o ranço permanece
lá. Virou esquerda caviar. Acha que o debate está muito bom entre o PT e o
PSDB, tirando os “extremos”.
Já eu penso que a miséria do
debate brasileiro tem muito a ver com pessoas como Míriam Leitão. O “centrismo”
foi alçado ao patamar de ideal, sendo que nem é centro mesmo, pois é claramente
de esquerda. Ai de um neoliberal que queira entrar nesse debate! Ai de um
conservador que queira entrar nesse debate! Serão logo rotulados e
desqualificados por gente como Míriam Leitão. Tudo em nome do bom debate, sem
os “extremos”. É a extrema cara de pau. É a extrema covardia. É um jogo que só
agrada mesmo aos próprios pertralhas!
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino,
03-11-2013
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