A Justiça examinou o processo
e decidiu o destino dos réus. Este jornalista, que de direito só sabe que nada
sabe, não terá a presunção de colegas que nem leram o processo e, se lessem,
não o entenderiam, mas decretaram que está tudo errado. Não há o que discutir:
já houve a condenação. Que a lei seja cumprida.
Mas o clima de mata e esfola
não está na lei. A vigilância para saber se os condenados terão água quente
para o banho -ó, escândalo!- ou se poderão receber comida enviada por sua
família é feroz.
E se, absurdo dos absurdos, os
condenados tiverem a extraordinária mordomia de usar uma privada comum, e não
aquele buraco no chão conhecido como privada turca, aí estará a prova de que
gente poderosa leva vantagem até mesmo na prisão. Até leva, mas não aí.
Terra do samba e do pandeiro,
povo cordial, gente alegre e de boa índole, de fácil confraternização. Mas,
quando o assunto é a punição de um condenado, o que se defende é a mais
medieval das masmorras, de preferência com paredes úmidas. Alimentação: pão e
água, sendo o pão velho e embolorado e a água de beber, ao contrário da do
banho, morna quase quente.
Alguma dúvida? Basta ler a
seção de cartas dos jornais, ou os comentários em redes sociais. Há o esperneio
dos que dizem que, se não foram apanhados todos os corruptos, nenhum deve ser
preso, porque isso é injusto. E há os que, lembrados de que José Genoino tem
problemas de saúde, assinam que não se importam com o que esteja sofrendo.
O que a lei prevê é a privação
de liberdade, em diversos graus. A lei não prevê maus-tratos, não prevê
castigos físicos, não prevê condições inadequadas de prisão.

Não é o caso dos presos do
mensalão: nem promoverão rebeliões violentas, nem parecem deprimidos a ponto de
tentar suicídio. Ao contrário, alguns entraram na prisão com braços erguidos,
parecendo animados ao buscar o papel de símbolos da política, e não da
corrupção.
Por que obrigar pessoas
próximas dos 70 anos a acocorar-se para fazer suas necessidades? Muitos têm
problemas de saúde que os impedem de fazê-lo. Os condenados deveriam ter
pensado nisso antes de cometer os atos que os levaram à prisão? Não -da mesma
forma que ninguém, ao acender um cigarro, ao distrair-se com o celular ao
volante, ao beber além da conta, pensa nas más consequências do ato.
Não é por isso que a sociedade
deve festejar a morte de um motorista bêbado. Deve, isso sim, tentar evitar que
ele se embebede, ou que dirija, e levá-lo para tratamento, se sofrer um
acidente.
Uma sociedade que, mesmo tendo
razão ao reivindicar a aplicação rígida da lei, tenta extrapolar seus limites
para atormentar ainda mais quem já foi punido pela privação da liberdade
precisa se reavaliar. Com a prisão, os infratores foram punidos e a vingança da
sociedade se realizou. Ir além é retroceder a épocas que já deveriam ter sido
superadas.
O título deste artigo foi
copiado do excelente livro de Roberto Campos, que desafiava aquilo que a
opinião pública tinha como verdade.
Título e Texto: Carlos Brickmann, 69, jornalista e
consultor de comunicação, é diretor da Brickmann & Associados. Foi editor e
repórter especial da Folha de S. Paulo, 22-11-2013
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