É evidente que o estado de
saúde de Roberto Jefferson inspira cuidados. Não se trata de fazer uma competição com José
Genoino para saber quem está mais doente. São males distintos. Essas questões demandam respostas de
natureza técnica — são as únicas aceitáveis na esfera da Justiça. Juízes
precisam ter parâmetros. Se estamos falando da saúde dos presos, então a voz
abalizada é a dos médicos. Por mim, já escrevi aqui, os dois cumpririam prisão
domiciliar. Mas eu não sou o juiz de execuções penais; eu posso fazer escolhas
— no caso, meramente hipotéticas — sem repercussão nenhuma.
Cumpre destacar, e não tenho
simpatia nenhuma por suas escolhas ao longo de sua trajetória política, que
Jefferson, no que concerne à saúde, tem um comportamento muito mais digno do
que Genoino. Até agora, que eu tenha percebido ao menos, não espetaculariza a
própria doença; não a transforma em causa política ou fator de mobilização de
simpatizantes. Basta olhar para ele para saber que o tratamento impõe
sofrimento e desconforto. As coisas falam por si.
Sem entrar no mérito das
motivações — penso apenas nas consequências —, acho que ele deveria ter sido
merecedor de alguma compensação da Justiça. Prestou, à sua maneira, um serviço
para o Brasil. E não teve, como se nota, nenhum benefício por isso; tampouco
continuou a lucrar com as práticas que o levaram à condenação. Por que escrevo
isso?
Não acho que o Brasil deva
abrir mão do estatuto da delação premiada, mas acho que é preciso pensar essa
questão com calma. Como merece reflexão o tal “acordo de leniência” que a
Siemens, por exemplo, assinou com o Cade. Se a empresa admite ter participado
de cartel, sabendo que transgredia a lei — e nem entro aqui no mérito do
alcance da contaminação da prática criminosa na estrutura de governo (que se
apure) —, parece-me um excesso de facilidade que o principal beneficiário de um
crime passe à condição de denunciante, mas preservando o status que lhe
propiciou praticar o delito. É preciso que acordos de leniência e delações
premiadas não se transformem num refúgio de canalhas que têm tal disposição
para a delinquência que, quando criminosos, traem o povo; quando supostamente
virtuosos, traem até seus próprios parceiros.
Jefferson sabia que também
estava confessando um crime quando botou a boca no trombone. É advogado e nunca
foi idiota. Mas volto ao ponto. Na saúde, ele e Genoino fizeram o que fizeram.
Na doença, ele se comporta, com dignidade. Sabe que nem o STF nem Joaquim
Barbosa são culpados pelo mal que o aflige. Não é o caso de Genoino e de seus
amigos.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 30-11-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-