Um gesto aparente de boa
vontade ou mais manobras diplomáticas para ganhar tempo?
Francisco Vianna
O Irã convida os inspetores da
AIEA da ONU a fiscalizarem o reator nuclear da usina de Arak, onde centenas de
centrífugas têm enriquecido urânio a até 20 por cento na produção de tório e
plutônio.
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Imagem de satélite desatualizada, de 2004, do reator de água pesada de Arak, no Irã |
O dirigente da AIEA da ONU, o
japonês Yukiya Amano, ao anunciar o convite feito na quinta-feira de hoje,
disse que a agência vai aceitá-lo e irá visitar as instalações de água pesada
no centro da cidade de Arak. O fato ocorre extensivamente às 35 nações que
formam o Conselho da AIEA há menos de uma semana depois de um acordo nuclear
entre o Irã e G5+1 ter sido assinado.
Amano disse também que sua
agência será encarregada de supervisionar o cumprimento do acordo assinado em
Genebra no último fim de semana por parte do Irã. O diretor não deu uma data
para a AIEA começar a por em prática o seu papel previsto no acordo, mas sugeriu
que isso levaria algum tempo, em parte porque sua agência não foi informada com
a anterioridade necessária para que se preparasse para a missão. Há motivos
para se crer que, enquanto isso não ocorrer, nada mudará na atividade da usina
nuclear.
O convite feito para 08 de
dezembro não faz parte do acordo assinado com o G5+1, pelo qual o Irã se
compromete a congelar seu programa nuclear, durante seis meses, enriquecendo
urânio a no máximo 5 por cento, o suficiente para produzir combustível para
seus geradores de água pesada, em troca de um alívio limitado das sanções
econômicas. Isso tem sido visto pelos analistas especializados como uma mostra
de que Teerã esteja começando a cumprir com sua parte nos diferentes
compromissos para abrir uma fiscalização irrestrita dos inspetores da AIEA ao
seu programa nuclear. O status das instalações de Arak tem sido um dos
principais problemas durante as negociações que levaram ao acordo nuclear.
Mohammad Javad Zarif, Ministro
das Relações Exteriores do Irã, declarou na quarta-feira de anteontem que
algumas obras em Arak vão continuar e quando o complexo tiver sido concluído
poderá produzir plutônio suficiente para ser usado em armas nucleares. Mas, ele
insiste em afirmar que “esse não é o objetivo e que seu programa nuclear é
apenas para fins pacíficos, para a produção de energia elétrica e para a
investigação científica e médica”. O Irã tinha programado a conclusão do complexo
de ISIS em Arak para o próximo ano, uma ambição maior que a própria capacidade
do país mesmo levando as obras a toque de caixa.
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Vista externa parcial do novo reator de água pesada da usina de Arak, no Irã |
O porta-voz do Departamento de
Estado dos EUA, Jen Psaki, disse que os comentários de Zarif não constituem uma
violação do acordo, embora o Irã efetivamente tenha se comprometido em congelar
o avanço das obras de complementação do complexo.
A decisão do Irã em permitir
que os inspetores da ONU visitem a usina de Arak e seu novo reator de água
pesada visa dar a esses inspetores uma imagem mais clara do quanto de material
crítico a usina está a produzir e outros detalhes técnicos.
O reator, que fica a uns 150
km a sudoeste de Teerã, já foi parcialmente visitado por alguns funcionários
fiscalizadores da AIEA, mas eles não foram capazes de inspecionar in loco a
usina desde 2011. As barras de urânio enriquecido têm sua atividade radioativa
controlada em parte pela água pesada em reatores desse tipo.
O Irã tem outras usinas
nucleares, como a de Qom e de Bushenir, onde a AIEA sabe que estão instaladas
centrífugas capazes de enriquecer urânio a até 10 por cento, o que, segundo
especialistas, já é capaz de produzir artefatos nucleares conhecidos como
“bombas sujas”, que têm pouco potencial destrutivo, mas que espalham radioatividade
em níveis letais por toda uma área em torno da explosão, cuja extensão varia
com o vento e outros fatores atmosféricos.
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A usina nuclear de Bushenir, à
beira do Mar Negro, já há algum tempo tem capacidade de enriquecer urânio a até
10 por cento e também de há muito não é fiscalizada pela AIEA
|
Uma autoridade iraniana disse
ontem que o seu país vai aumentar o seu enriquecimento de urânio de baixo nível
(até 5 por cento) para produzir combustível de reatores e isótopos nucleares
para uso médico e científico. Ali Akhbar Salehi, chefe do programa nuclear
persa, contou à agência de notícias estatal IRNA que as centrífugas
anteriormente utilizadas para enriquecimento de urânio a nível superior seriam
agora voltadas à produção de urânio pouco enriquecido para combustível de
reatores. No então, não deu maiores detalhes sobre o assunto, lembrando apenas
que o acordo assinado por Teerã com o G%+1 em Genebra não proíbe o Irã de fazer
urânio mais enriquecido (até o limite de 20 por cento). Estipula apenas que
todo o material recém-produzido deva ser transformado em óxido, que é difícil
de ser reconvertido em material sensível.
“Provavelmente, a AIEA da ONU
não vai estar pronta para dar início à parte que lhe compete no acordo assinado
senão a partir de janeiro do ano que vem”, disseram alguns diplomatas à AP na
última quarta-feira. Ao não estabelecer uma data para tal, Amano confirmou
indiretamente alguns atrasos, explicando, na reunião de quinta-feira última,
que tal atividade vai "demorar algum tempo". “O importante é não
haver afobação numa tarefa bastante complicada onde uma boa preparação é
essencial para se levar a cabo um bom trabalho”, completou o diretor da AIEA.
Em todo o caso, a partir de
janeiro próximo, o país persa poderá demonstrar sobejamente o que afirma sobre
o seu programa nuclear e convencer de vez o Ocidente de sua sinceridade, o que,
certamente, caso aconteça, poderá inclusive receber ajuda do G5+1. Afinal, como
se diz, é mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo...
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional especializada), 29-11-2013
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