Henrique Monteiro
Não sei se foi Paulo Portas
quem começou a conversa, mas hoje em dia tornou-se viral. Cada português que
fala sobre Portugal coloca um ar sério e diz que estamos num regime de
protetorado.
Sobre isto convém dizer
algumas coisas que ficam escondidas.
1) O 'protetorado' foi chamado
por nós - o Governo anterior pediu ajuda à troika porque não
tinha dinheiro;
2) A troika empresta-nos
dinheiro a juros muito mais baixos do que qualquer outra entidade do planeta
(depende dos mercados, mas chega a ser menos de metade);
3) A troika tem-nos
sugerido reformas que há muito andavam a ser discutidas entre nós, mas ninguém
tinha a coragem de as fazer. Mais: a troika serve de desculpa
para políticos cobardes proporem medidas que, caso não fossem cobardes,
proporiam de qualquer modo.
4) Portugal é livre de romper
com a troika a qualquer momento, pelo que o 'protetorado' não
nos é imposto, ao contrário do que se diz.
Por isto e por muitos outros
argumentos, é errado dizer que Portugal vive sob um 'protetorado'. Portugal é
um país soberano (e convém que o número dois do Governo o saiba) com
instituições soberanas que decidiu soberanamente aderir a certos organismos
supranacionais e pedir ajuda a determinadas organizações internacionais. Em
qualquer momento pode mandá-los passear.
O que nos falta não é
soberania, é coragem para enfrentar como nosso o falhanço de anos e anos de
medidas erradas. E esse falhanço não é do reformado comum, do funcionário
público, do trabalhador ou do desempregado. Mas curiosamente são pessoas assim
que hoje (tanto à esquerda como à direita), enganadas por quem sempre as
ludibriou, vêm em defesa daqueles que falharam, culpando Frankfurt, Bruxelas,
Washington e várias figuras e países espalhados pelo mundo, pelos sacrifícios
que fazemos.
A consequência mais óbvia
deste tipo de pensamento é concluir-se que, saindo a troika,
terminado o 'protetorado' poderemos voltar à vida que tínhamos, com as
garantias e as regalias que tínhamos. Ora não há maior nem mais perniciosa
mentira do que esta.
PS - A propósito de
confusões deliberadas ou não. Soares (e outras pessoas) vêm dizer que o Papa
Francisco também "apelou" à violência por ter dito que o que disse
sobre o capital financeiro, a desigualdade, a exclusão e a violência social que
tudo isto gera. Peço desculpa por discordar de tão ilustres iluminados, mas o
Papa não pediu a demissão de ninguém e menos ainda recomendou a qualquer
político ou dirigente que saísse pelo seu próprio pé, sugerindo que podiam ser
corridos à' paulada' dos cargos em que estão. O Papa apelou à consciência de
cada um - dos dirigentes e dos que não o são; dos que estão no mundo financeiro
e dos que estão no mundo do trabalho. Enfim, de todos, como lhe compete... E
alertou para os perigos das crises que geram conflitos e guerras. Acreditar ou
confundir isto com a mensagem que passou na Aula Magna é como dar por certo que
Soares se converteu aos milagres de Nossa Senhora de Fátima... mas, enfim!
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