O país vive hoje do consumo de
suas reservas em moeda forte e ouro uma vez que a sua produção já é inferior à sua
demanda.
Francisco Vianna
Segundo a emissora
novaiorquina Bloomberg News, a
financeira ianque Goldman Sachs e o Bank
of America estão entre as empresas de Wall Street que se
ofereceram para ajudar a Venezuela a obter dólares em função do esgotamento das
reservas internacionais provocado pela má gestão econômica do regime socialista
bolivariano do país sulamericano.
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A Goldman Sachs está em
conversações com o governo de Caracas para conseguir um intercâmbio de reservas
de ouro por dólares. Foto: Jin
Lee/Bloomberg
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Acenado com a possibilidade de
uma operação de swap, proposta pela Goldman Sachs, o governo de Maduro
levantaria 1,68 bilhão de dólares em espécie e a operação estaria respaldada
por 1,85 bilhão das reservas de ouro do banco central venezuelano, conforme
documentos obtidos pela Bloomberg News. O Bank of America disse que poderá ser o intermediário para outorgar
3 bilhões de dólares em pagamentos a empresas que buscam dólares, como mostram
os documentos. Nenhuma das duas operações foi concluída, disse um funcionário
do governo de Caracas com conhecimento direto do assunto e que pediu para
permanecer no anonimato porque as conversações são privadas.
Os dólares estão se
escasseando na Venezuela, que limita o fornecimento da moeda e
Consequentemente dos produtos de consumo, que vão desde medicamentos a papel
higiênico, num país que importa cerca de três quartas partes dos bens que
consome. Pelo fato de o país manter cerca de 70 por cento de suas reservas em
ouro e o preço do metal ter caído algo em torno de 26 por cento nos últimos
nove anos, as reservas internacionais em moeda forte caíram 28 por cento este
ano chegando neste mês ao nível de 20,7 bilhões de dólares, seu nível mais
baixo na década.
O economista Robert Abad, que
ajuda a supervisionar uma dívida de 53 bilhões de dólares com mercados
emergentes pelo seu escritório da empresa Western
Asset Management Co., disse que “o fato de haver escassez de dólares é
sintomático de una economia que está no fundo do poço, completamente quebrada”,
numa conversa telefônica na terça-feira de anteontem falando de Pasadena, na
Califórnia. “Isto é algo que é incrivelmente desnecessário, muito infeliz, e
que vitima a economia real, de pessoas de verdade”.
CÂMBIO – O retorno
total da operação da Goldman Sachs, conhecida como “total return swap”, poderá render juros de 7,5 por cento acima da
taxa Libor de três meses, para un total de 818 milhões de dólares em custos de
financiamento estimados em sete anos, como mostram os documentos. A operação
permitiria a Venezuela manter sua participação no mercado do ouro, com o
país se obrigando a depositar o metal precioso ou efetivo correspondente numa
conta marginal caso o preço baixe, e a Goldman Sachs abastecendo mais dólares
caso o preço suba. “Esta é a clássica estória não transparente dos mercados
emergentes”, disse Abad ao se referir à possibilidade da Venezuela buscar
monetarizar suas reservas em ouro. “Tem-se que usar a dedução para se tentar
estimar até onde as coisas vão”.
O falecido presidente Hugo
Chávez apostou no ouro para a Venezuela num esforço para se safar do que
chamava de “ditadura do dólar”, mas se deu mal. Desde 1999, o primeiro ano de
Chávez no poder, até 2012, a Venezuela comprou 75,3 toneladas métricas de ouro,
de acordo com dados do website do FMI - Fundo Monetário Internacional. Essas
compras custaram 1 bilhão de dólares com base nos preços médios do ouro e
estarão valorizadas em 3,03 bilhões de dólares ao preço de hoje (1.251,96
dólares por onça), dando um lucro de 2,03 bilhões. O país também vendeu 13,1
toneladas de lingotes de ouro durante esse período, segundo os dados do FMI.
OURO, DÓLAR E PETRÓLEO - As
reservas de ouro da Venezuela totalizam 367,6 toneladas métricas do metal, o
que equivale à décima quarta maior posição de um país, conforme o Conselho
Mundial do Ouro, com sede em Londres. O ouro representa 70 por cento das
reservas internacionais do país, comparado com 7,6 por cento da Argentina e
menos de 1 por cento do Brasil.
“É o nosso ouro”, berrava
Chávez, o socialista que estatizou centenas de empresas e impôs limites às
transações em moeda estrangeira no país, numa mensagem pela TV estatal em
novembro de 2011. “É a reserva econômica de nossas crianças. Está crescendo e
vai continuar crescendo, tanto o oro como as reservas em moedas”.
A instituição que controla as
transações em moeda estrangeira na Venezuela, conhecida como CADIVI, vende
dólares à taxa oficial de 6,3 bolívares, muito embora, no câmbio negro ou
paralelo a moeda americana tem sido vendida a uma média de 60 bolívares. O
governo, que desvalorizou o bolívar em 32 por cento em fevereiro, não conseguiu
deter a que da cotização no mercado negro, onde empresas e pessoas “não
autorizadas a usar a taxa oficial” são obrigadas a pagara quase dez vezes mais
pelo dólar.
Com isso, o CADVI tem atrasado
os pagamentos às empresas e no entanto tem que ‘distribuir’ algo em torno de
8,2 bilhões de dólares que já foram autorizados, segundo informações cedidas
por Asdrúbal Oliveros, diretor da consultoria ECOANALÍTICA, numa entrevista
telefônica de Caracas.
O presidente Nicolás Maduro,
que sucedeu Chávez, utilizou este mês os militares para ordenar as lojas que
reduzissem os preços “na marra” depois que a inflação anual acelerou e chegou a
54 por cento em outubro, a taxa mais alta em 16 anos e a de crescimento mais
rápido do mundo. O mandatário, um pelego sindical e ex-motorista de ônibus,
obteve em 19 de novembro a autorização do Congresso para formular leis em
matéria econômica mediante decretos executivos, a chamada “lei habilitante”.
Os preços médios das
exportações venezuelanas de petróleo cru, responsáveis por 95 por cento da
arrecadação do país em moeda estrangeira forte, caíram este mês ao nível mais
baixo em 16 meses e terminaram na semana passada em $93,98 dólares por barril.
Cada queda de 1 dólar no preço do barril custa à Venezuela algo em torno de 700
milhões de dólares por ano, segundo avaliações da estatal Petróleos de
Venezuela SA. (PDVSA)
O total da dívida venezuelana,
no entanto, caiu 7,7 por cento este mês ao passo que os custos de financiamento
atingiram seu maior ápice em 22 meses e foi da ordem de 14,56 por cento,
conforme os relatórios da JPMorgan Chase & Co.
A compensação adicional que os
investidores exigem para terem bônus venezuelanos ao invés de bônus do Tesouro
dos Estados Unidos, subiu a 11,68 pontos este mês, a maior dos mercados
emergentes, segundo a JPMorgan. A PDVSA vendeu este mês 4,5 bilhões de novos
bônus numa colocação privada aos provedores do banco central e serviços
petroleiros. Esta foi a primeira venda feita pela entidade desde maio de 2012
Título e Texto: Francisco Vianna, 28-11-2013
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