sábado, 14 de dezembro de 2013

O fundo do poço

José Manuel
Há oito anos passados, éramos felizes, estávamos de bem com a vida, nossos amigos nos adoravam, viajávamos a lazer com uma certa frequência, nossos planos de saúde estavam pagos, nossas bocas em perfeito estado, as cirurgias inerentes à idade eram marcadas com bastante antecedência, a estimativa de vida de todos era bastante alta, nossos filhos estavam se formando e os netos seguindo a sua vida escolar regular.

Era o mais perfeito dos mundos, até porque nós tínhamos direito a tudo isso pois havíamos trabalhado, havíamos produzido para o país, tínhamos a nossa parcela na construção de uma sociedade.

Aí, com a vida correndo dentro de uma normalidade e o horizonte cor de rosa nos cobrindo de felicidade, fomos passear no campo, e desprovidos de qualquer maldade resolvemos acampar perto de um poço natural, muito largo e tão profundo que não conseguíamos divisar a extensão de sua profundidade e tampouco se havia água ou não.
Como estávamos no campo, ao ar livre e sem compromissos com a vida, fizemos um grande piquenique, pois todos haviam levado seus farnéis, suas bebidas estavam devidamente geladas nos isopores e as toalhas foram estendidas ao redor do poço, sob a sombra de frondosas árvores que o rodeavam. Foi uma beleza de confraternização, pois todos contavam seus idílicos anos, suas viagens, seus percalços com a vida, quando lá pela metade do tempo que corria, alguém sugeriu que aquele poço enorme, poderia ser o famoso poço dos desejos.

Poço Iniciático, Quinta da Regaleira, Sintra, Portugal. Foto: CM Sintra
A partir deste momento, a curiosidade inerente ao ser humano prevaleceu sobre a alegre refeição e todos começaram a sugerir que fossem jogadas moedas no intuito de se pedir um desejo àquele que tão próximo e tão fácil se apresentava. Então todos resolveram se posicionar à volta daquele poço enorme para jogar as moedas e fazer os pedidos. Eram muitas pessoas e as bordas de sustentação acabaram não resistindo, fazendo com que todos sem exceção caíssem naquele poço profundo e escuro. Foi como se a vida tivesse se perdido num piscar de olhos, caído num vazio imenso, e todos, além de machucados pelo tombo inacreditável, ficamos sem saber o que fazer diante do inesperado. Tudo, absolutamente tudo, os anos trabalhados, as conquistas, haviam se perdido, na busca por um simples desejo. O de ser feliz.
E assim estamos há oito anos, no fundo do poço sem encontrar uma saída que nos leve de volta ao paraíso em que vivíamos.

Apesar desta situação péssima em que nos encontramos, alguns, poucos, diga-se de passagem, estão tentando divisar uma luz e uma maneira de sair desse poço sem futuro. Alguns, em desespero, é claro, mas conscientes, começaram a escalar as paredes desse poço, que apresentam saliências e reentrâncias capazes de proporcionar essa escalada e o retorno à superfície. E estão conseguindo, pois mais de dois terços do caminho já foram trilhados, e a sua perseverança vai fazer com que alcancem o objetivo. O problema maior é que sem a ajuda de todos, essa escalada fica difícil, pois simplesmente as vozes daqueles que não resolveram subir já ajudariam em muito a certeza da chegada.

Mas até as vozes estão caladas, e quando as vozes se calam isto é um prenúncio de derrota.
As vozes, quando convenientemente usadas são o fio de luz, o eco que nos levará à superfície. O nosso grito em uníssono é que irá fazer com que aqueles que estão longe do poço finalmente nos escutem, e venham nos socorrer.
Portanto não basta que apenas alguns façam essa escalada. É urgente que todos gritem a plenos pulmões, para que nos ouçam e nos salvem.
Anexo a este, (abaixo) um pequeno filme mostra como é fácil ajudar aqueles que carregam a esperança.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante VARIG, 67 anos e escalando o poço com muita esperança.


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3 comentários:

  1. Querido Jose Manoel

    Muito lucido e triste seu comentario.
    Vozes que se calaram..... Pessoas tao atuantes que de repente se ausentam.
    Por algum motivo, certamente!
    No momento de confraternizacoes, nossa fantasia seria de momentos alegres e felizes!
    Este seria o nosso MAIOR presente!

    Abracos a todos, milagres podem acontecer!
    Ilda

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  2. Amigos de sofrimento ETERNO do Aerus.
    Mais um texto brilhante de nosso colega/guerreiro José Manuel.
    Muitos de seus textos já me derrubaram, levando-me às lágrimas.
    Mas este, especialmente, foi como se eu levasse um soco de Anderson Silva. Fui derrubado literalmente. Estou no chão. Sinto-me de verdade no fundo do poço.
    São 7 anos, 8 meses e 2 dias de sofrimento, angústia, espera, enganações, mentiras de um governo que se intitula PT, que deveria significar Partido dos Trabalhadores.
    Acho que representaria melhor se fosse chamado PCT ,Partido Contra os Trabalhadores.
    Estamos sendo iludidos, enganados há quase 8 anos. Pensem que 8 anos na vida de idosos representam 24 anos para os jovens. E como bem disse José Manuel estamos no fundo do poço.
    Será que alguém ainda acredita que o governo do PT vai encontrar uma solução para este drama? Eles sabem que há aposentados com 83 anos ( Zoroastro) , com 79 anos ( Amaury) e muitos outros nesta faixa de idade. Eles sabem que mais de 900 já morreram, muitos pela grave situação que se encontravam, eles sabem que cinco não resistiram e cometeram suicídio. Eles sabem que dos que restaram muitos não dispõem de recursos sequer para alimentação e remédios. E o que fizeram nestes quase 8 anos? Promessas e mais promessas.
    A última promessa foi há 4 meses, quando "dizem" que Dilma se sensibilizou com nosso drama e determinou uma solução imediata. Será que isso aconteceu mesmo? Não será possível que ao ser perguntada sobre o drama do Aerus ela tenha dito : " Aerus, o que é isso, é uma nova empresa de aviação?" Não duvido que isso tenha ocorrido, tamanho o desprezo que estamos recebendo do governo do PT há quase 8 anos.
    Admitindo que seja verdade que Dilma determinou uma solução para o problema por que essa solução não foi encontrada? Que país é esse que uma presidente dá uma ordem que não é cumprida?
    Enfim, já terminou o ano de 2013, e assim como nos anos anteriores uma solução será discutida no próximo ano. Isso vem acontecendo desde 2007. Será que a estratégia do governo
    é esperar que o último aposentado MORRA. Se for isso podem se considerar felizes e satisfeitos, pois eu já me considero MORTO !!!
    Rubens de Freitas

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  3. Amigos,
    O texto e anexo do Amigo José Manuel, é uma realidade que vivemos e muitos desconhecem o sentido de que seja “Solidariedade” e/ou, lutar pelos seus direitos conquistados ao longo de uma vida profissional e como é o nosso caso, como aposentados e pensionistas Participantes do Fundo AERUS.

    Quando participo de uma Manifestação Pacifica ou de uma Reunião, fico amargurado em ver que 99% não comparecem, pois, parece-me desacreditarem que é lutando que se vence uma batalha, mas para isso, o numero de batalhadores terá que ser forte e em numero que impressionem os “Passantes e ao Governo que ai esta fazendo de nos coro de tamborim.

    É revoltante ver a resignação de que nossos companheiros, que parecem serem participantes do piquenique em torno do “Poço”.

    Pelo Comunicado AERUS nº 028/2013, se vê que algumas Participadoras já estão raspando o fundo do taxo, o que leva-me crer aumentar o numero de apelantes a “Bolsas Família e outras” venha aumentar e o endeusamento do governo que ai esta será maior, garantindo a permanência de tantas falcatruas feitas com a dinheirama dos impostos cobrados dos contribuintes.

    Fico pensando que o Povo Ucraniano, realmente são destemidos enfrentando o Governo abaixo de neve, para manterem-se na União Europeia que lhes é mais conveniente.

    Enquanto isso, no Brasil o Povo se mata por futebol, carnaval e circo, o restante que se dane.

    Desculpem-me se atingi “ Alguns Pávidos”, minha intenção é seguir a solidariedade da tartaruga e que não mediu esforções para desvirar a outra que certamente morreria se não fosse socorrida.

    Nelson Schuler, Aeroviário Aposentado – Brasileiro indignado

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