Os Portugueses estiveram lá
“apenas” 140 anos e saíram há quase 400, mas o papiar kristang continua a ser
falado.
Luís Almeida Martins
Foi em abril de 1511 que o grande estratego Afonso
de Albuquerque largou da cidade indiana de Goa (conquistada quatro meses antes)
rumo a Malaca, no sul da península da Malásia, com uma força de 1 200 homens
embarcada em perto de duas dezenas de navios. Forte e arrogante, a praça-forte
de Malaca dominava as terras em redor e parte da fronteira ilha de Sumatra,
desafiando os Siameses do norte (atual Tailândia) e mantendo em respeito os
Javaneses do Império Majapahita, na Indonésia de hoje. Pois foi essa poderosa
Malaca que Albuquerque conquistou sem grande dificuldade.
Foi ali depois erguida a enorme fortaleza
conhecida por “A Famosa”, de que ainda hoje é visível uma porta importante, e
Malaca tornou-se a base dos múltiplos aventureiros que se dedicaram à prática
do comércio e da pirataria no chamado “Império Sombra” – aquele que ficava já
distante das águas indianas, lá mais para o Oriente, na rota do Vietname, da
China e do Japão. Fernão Mendes Pinto, o autor da Peregrinação, seria um desses portugueses que, enquanto andaram
pelo Oriente, consideravam Malaca a sua terra. Também lá viveu uma temporada
São Francisco Xavier, o Apóstolo do
Oriente.
Em 1641, os Holandeses capturaram a cidade aos
Portugueses, que, ao contrário do que se passou com outras possessões, não
conseguiriam nunca retomá-la. E assim acabou, aparentemente, a história de uma
presença mais que secular. Só na aparência, porque o crioulo português de
Malaca, ou papiá kristang (fala
cristã), ainda hoje é falado por uns cinco mil descendentes dos navegadores e
comerciantes dos séculos XVI e XVII, que, ao cruzarem-se a seguir ao almoço nas
ruas, se saúdam com as palavras bong
atadi e perguntam ou pela muleh
ou pelo maridu.
Além deste, os crioulos do
português mais conhecidos são os de Cabo Verde (existem vários) e o tetum timorense.
Título e Texto: Luís Almeida Martins, in “365 Dias com histórias da História de
Portugal”, páginas 167/168
Digitação: JP
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