“A verdadeira cultura transcende sempre as
fronteiras nacionais. Portanto, é com estranheza que se assiste, entre as
várias contradições do antiamericanismo, à condenação do internacionalismo
cultural mesmo quando é a cultura
americana que se inspira na cultura europeia, na asiática, ou noutra. E
mesmo quando essa influência se exerce sobre a cultura de massas.

Para além do espetáculo em questão não ser de
concepção americana, mas britânica, nenhum jornalista ignora, ou deveria
ignorar, que é baseado no célebre romance francês, publicado em 1910, Le Fântome de l’Opéra, da autoria de
Gaston Leroux, que também foi o criador de Rouletabille e de Chéri Bibi.
Deveria pois ser caso de júbilo ver a literatura popular francesa transposta
para os ecrãs de todo o mundo por arte da produção americana. No entanto, como
diz Mario Roy, ‘é claro que os factos não são para ter em conta’.
Deste modo, o ódio contra os Americanos é levado
ao extremo de se transformar em ódio contra nós próprios. Foi o que se viu em
1992, quando a Disneylândia se instalou nos arredores de Paris. O evento foi
denunciado pelos nossos intelectuais como um ‘Chernobyl cultural’. Mas não é
preciso se senhor de grande erudição para perceber que uma grande parte dos
temas inspiradores de Walt Disney, sobretudo as grandes metragens, se socorrem
de fontes europeias. Branca de Neve e os
Sete Anões, A Bela Adormecida, o Pinóquio, de Carlo Collodi, a partitura
musical de Fantasia ou a
reconstituição do navio dos piratas em A
Ilha do Tesouro. De R. L. Stevenson, são tudo empréstimos, e homenagens, da
América ao génio europeu, tal como presta homenagem a outras obras-primas
tradicionais provenientes de outras culturas, como é o caso d’As Mil e Uma Noites.
Que estes contos populares, fruto da imaginação de
tantos povos, ao longo de tantos séculos transmitidos de geração em geração por
via oral, depois fixados sob forma escrita pelos diversos autores que os
recolheram, se tenham por fim materializado, graças à invenção do cinema e do
génio de um artista californiano, não será o exemplo perfeito do percurso e do
imprevisível cruzamento das culturas? A sua dinâmica globalizante recorre aos
instrumentos mais diversos, tanto antigos como modernos e troça do chauvinismo
pudibundo dos protecionistas tacanhos.”
Continua…
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