Leo Daniele
Numa cúpula informal da
esquerda, desdobram-se os mapas do mundo. Enquanto um de seus membros fala da
importância de não sei que países da América Central, um velho todo enrugado,
que ocupa o centro da mesa, corta-lhe a palavra e diz:
– Que é isso, camarada? Você
não vê que, como se diz vulgarmente, a “bola da vez” é o Brasil? Olhe para este
mapa e compreenda, de uma vez por todas! Veja o tamanho desse gigante! Veja a
pujança que pode explodir de uma hora para outra! Veja a inteligência desse
povo! Se ele for nosso, a América do Sul também o será, pois tem
fronteiras com quase todos os países.
Sem contar a esperteza de seus
homens. Agora haverá eleições lá e, de um jeito ou de outro, a esquerda estará
na frente. Mas não fale por enquanto do finado Chávez, por mais querido que ele
nos seja, nem da Venezuela. Silêncio! Eles têm um apego enorme à própria
soberania e ainda não estão no ponto para formar um bloco conosco! Espere um
pouquinho só!
Como tudo que é fictício, a
imagem dessa reunião dissipou-se nas névoas da minha imaginação. Entretanto, é
certo que na campanha eleitoral pouco ou nada se falou de Chávez, ou de Maduro,
pois aqui essas pessoas não são vistas com simpatia popular. Afinal, ordens são
ordens, e o silêncio se fez. Um silêncio inteiramente lógico do ponto de vista
da esquerda, não é?
Outro silêncio, este não
inteiramente lógico, foi a estranha e “quase completa” omissão da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Como bem observa em recente
comunicado o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, “face aos
rumos para os quais aponta tal quadro eleitoral, é compreensível a perplexidade
dos católicos – e de tantos outros que não o sendo reconhecem o papel
fundamental da Igreja”, ante tal “quase completa omissão”.
O muito oportuno
pronunciamento desse Instituto detalha suas razões: “Era natural que esse
organismo episcopal (a CNBB) fizesse sentir a influência sobrenatural da Santa
Igreja, pela pregação da verdade evangélica, para o bem espiritual, intelectual
e moral daqueles que a ela se abrem. Mas, infelizmente, a CNBB vem relegando
para segundo plano uma série de temas de primordial importância religiosa e
moral no que diz respeito ao bem comum espiritual e temporal do Brasil; e vem
tentando modelar a opinião pública a seu gosto em determinados problemas
políticos e socioeconômico, em incursões em matéria especificamente temporal,
revestidas, por vezes, de uma agressividade voltada para a agitação”.
Mas há mais. Essa perspectiva
se torna mais grave quando se considera que a própria CNBB, em seu documento nº
91, Por uma reforma do Estado, com participação democrática,
“endossa a criação de estruturas de participação popular, questiona a
democracia representativa e propõe uma nova forma de viver a democracia, tudo
em sintonia com o decreto presidencial 8243”.
Com efeito, esse
decreto, a pretexto de participação popular, lança ideias que equivalem a criar
sovietes em nosso País, em substituição à democracia representativa
atualmente vigente.
Um provérbio francês é muito
aplicável a tudo o que diz respeito a esse pleito: A desconfiança é
a mãe da confiança. Bendita desconfiança!
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