segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Porque denuncio o antissemitismo

José António Rodrigues Carmo

A vulgata contra os judeus é vasta e intemporal. A mais palatável, nos dias que correm, e que permte aos antissemitas verbalizarem o ódio, é a "causa palestiniana".

Qdo converso com algumas pessoas sobre este tema, fico sempre espantado pela completa ignorância da história e dos factos, que subjaz a muitas das posições contra os judeus e contra Israel.

Os factos parecem não ter qualquer relevância para pessoas que, quando confrontadas com eles, argumentam que não são antissemitas porque há judeus que dizem o mesmo que elas
É curioso e sintomático que esta gente que odeia genericamente os judeus, não hesite em os citar quando alguns deles dizem coisas que parecem acariciar as suas crenças.

Comecemos por aí: os judeus são pessoas! Há-os que dizem uma coisa e os que dizem outra. Há self-hating jews, como há judeus que se orgulham de o ser. Há Chomsky, Finkelstein, Goldstone, e kapos, como há milhões de outros que não traem o seu povo.

Como os portugueses. Houve em Aljubarrota quem combatesse por Portugal e quem combatesse contra Portugal. Houve Cunhal a defender os interesses da URSS e houve quem defendesse o seu país. Há quem se orgulhe da sua identidade e pertença e há quem tenha vergonha da sua identidade, da sua cultura e dos seus valores.

1-Vamos lá à "causa palestiniana":

Para uma certa esquerda, os árabes da palestina são como crianças, não podem deixar de ser como são e a culpa do que fazem nunca é deles, mas sim da “sociedade”, dos judeus e nossa.

São por isso inimputáveis e a responsabilidade do que fazem ou deixam de fazer por sua livre escolha, não é deles. É dos outros. Matam e aterrorizam, por culpa dos outros. São vítimas!

Isto é uma clara falácia. Os muçulmanos matam-se há séculos entre eles, pelas mais diversas razões e vão continuar a fazê-lo. Os próprios árabes palestinianos morreram que nem tordos às mãos dos seus irmãos da Jordânia (Setembro Negro), e foram encerrados e mantidos em “campos de refugiados”, pelos governos do Líbano, Síria, Jordânia e Egipto.

2-Territórios ocupados.

Na língua de pau politicamente correcta com que certos media nos massacram, Israel ocupou terras da Palestina.

Ora isto é completamente falso.

Até 1967, os territórios de Gaza, da Judeia e da Samaria eram do Egipto e da Jordânia, não da "Palestina".

E foram militarmente ocupados, porque Egipto e Jordânia atacaram Israel a partir deles e perderam a guerra.

Como Israel os não anexou (o que se calhar devia ter feito, uma vez que foi a parte atacada nessa guerra), são na realidade territórios "disputados" e não "ocupados".

E, ao contrário do que o vocabulário panfletista quer fazer crer, não há aqui nada de ilegal, o que quer que seja que se entenda por "legalidade".

À luz do direito da guerra (4ª Convenção de Genebra), e do DI relevante, não há ilegitimidade na colonização de terras obtidas no decurso de uma guerra defensiva, pelo agredido que se defende vitoriosamente.

São terras disputadas que o vencedor gere como muito bem entender (veja-se por exemplo o caso de Gdansk-Danzig).

Israel, de moto próprio, devolveu o Sinai ao Egipto quando fez a paz. E quis devolver Gaza e a Cisjordânia também, ao Egipto e Jordânia que tinham ocupado esses territórios em 1948, numa outra guerra contra Israel.
Isto são factos, não "narrativas".

3-Ah e tal, os refugiados, Israel expulsou os "palestinianos" das suas terras.

Passando por alto a questão de quem é que é dono de que terra, nisto dos refugiados, a mentira cavalga com o freio nos dentes, ao sabor de slogans e estribilhos em que o diabo é judeu e o anjo é árabe, ou, em versão infantil-marxista, o judeu é “opressor” e o árabe “oprimido”.

Os factos, esses, são algo mais complexos:
1-Os refugiados árabes, cerca de 725 000 pessoas, fugiram à frente da guerra desencadeada em 1948, pelos países muçulmanos. Sem invasão árabe não haveria "refugiados".

2- Após a vitória, Israel permitiu o regresso dos árabes, desde que assinassem uma declaração de renúncia à violência e de assumpção da cidadania israelita. 150 000 árabes fizeram-no, juntando-se aos 170 000 que tinham ficado e que hoje são cerca de 1,4 milhões de cidadãos israelitas, com deputados, governantes, juízes no Supremo Tribunal, professores, militares, etc.

Como é que isto se passou?

No Outono de 1947 os árabes já haviam decidido ir para a guerra, pelo que os ricos fecharam as suas casas e retiram-se para Damasco e Beirute, tencionando regressar logo que os judeus fossem lançados ao mar, desfecho de que não duvidavam.

Atrás deles foram os felas, assustados com o que lhes diziam que aí vinha. Foram instalados em campos de refugiados.

Ou seja, esta primeira vaga partiu na antevisão de uma guerra. Na altura não havia guerra, não havia Israel e quem mandava era o Exército Britânico.

Em Dezembro de 1947, logo após o Plano de Partilha (29 de Novembro) começou a guerra e nesta fase a Haganah, à semelhança dos paramilitares árabes, utilizou de facto tácticas intimidatórias para obrigar à fuga de populações árabes hostis nas proximidades de alguns kibbutz, Jaffa e partes de Jerusalém.

Ao mesmo tempo, os líderes árabes exortavam os árabes a abandonar as suas áreas para que os exércitos árabes tivessem caminho livre, garantindo que, assim que a guerra acabasse, poderiam regressar e ocupar as propriedades dos judeus.

“O Secretário-geral da Liga Árabe, Azzam Pasha, garantiu aos árabes que a ocupação seria um passeio militar… Foi dado aos árabes da Palestina o conselho fraterno de deixarem as suas terras, casas e propriedades, para que não fossem trucidados pelos exércitos árabes”
(Al Hoda, NewYork, 8JUN1951)

Com os boatos, centenas de milhares de árabes partiram em pânico para os campos de refugiados, mesmo de cidades protegidas e controladas pelo exército britânico.

Em Março de 1948, os britânicos retiraram e 8 exércitos árabes, passaram ao ataque. Face à derrota árabe, mais árabes fugiram.

Em Fevereiro de 1949, em Rodes, Israel prontificou-se a devolver as terras da Partilha que tinha ocupado na batalha, se os árabes assinassem um tratado de paz. Os refugiados regressariam e o problema terminaria aí.

Os árabes rejeitaram a proposta porque isso equivaleria a reconhecer Israel.

Em Lausana, em Setembro de 1949, Israel ofereceu-se para receber 100 000 refugiados, mesmo sem tratado de paz. Os árabes recusaram pela mesma razão.

É pois evidente que o problema dos refugiados foi criado sobretudo pelos estados árabes que desafiaram a ONU, invadiram Israel, encorajaram os árabes a fugir e os mantiveram deliberadamente num estado de miséria para fins propagandísticos, usando-os como alavanca moral na batalha pelos corações e pelas mentes, tendo em vista a perpetuação do estado de guerra contra Israel.

Até 1967, tanto a faixa de Gaza como a Margem Ocidental estiveram sob ocupação egípcia e jordana, sem que esses países permitissem a criação do estado palestiniano, mantendo os refugiados encerrados nos campos.

A partir de 1967 Israel assumiu o controle desses territórios e acolheu milhares de refugiados vindos da Jordânia, ao abrigo da política de “pontes abertas” ao longo do Rio Jordão, tendo sido criados na Margem Ocidental mais de 250 novos colonatos árabes, cuja população subiu de 650 000 em 1967, para 2 milhões em 1994.

Hoje em dia, quando aos palestinianos exigem o “direito de regresso”, não se referem aos sobreviventes dos 725 000, mas aos seus descendentes, ou seja, cerca de 5 milhões de pessoas, exigência descabida e inaceitável para Israel, porque nenhuma lei internacional a sustenta.

A História ajuda-nos a relativizar este problema:
- Entre 1949 e 1954, como vingança pela derrota de 1948, 800 000 judeus foram expulsos do Iraque, Marrocos, Tunísia, Jordânia, Irão, etc, tendo sido despojados de tudo o que tinham. Muitos deles foram para Israel e integraram-se na sociedade, sem o apoio da ONU, sem choradinhos vitimizadores e sem exigência de "direito de regresso".

Não constam sequer no horizonte mental dos “apoiantes da causa palestiniana”.

Não, o conflito não é tão simples como esta gentinha gosta de o pintar.

Infelizmente, há demasiados tontos que fazem disto uma religião, cheia de dogmas, de certezas, de noções absolutas de bem e de mal, e, abancados na estratosfera das suas limitadas visões ideológicas, recusam-se a conhecer o problema em todas as suas vertentes, porque só o deliberado maniqueísmo lhes permite tanta arrogância no discurso da condenação do judeu.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook, 26-12-2016

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