terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Os fascismos de hoje são uma das grandes ameaças à civilização em que vivemos

J. Ventura Leite

Amigas e amigos:

Não apenas nos últimos dias, mas recentemente e a cada dia que passa me é mais penoso escrever e ler aqui no facebook aquilo que me parece não só evidente como algo que indicia um rumo potencialmente muito mau para todos. E o que é isso? ESTAMOS CADA DIA MAIS DIVIDIDOS!

Estarão maioritariamente de acordo comigo sobre a “obviedade” desta frase, mas não estaremos seguramente em sintonia sobre as causas desta crescente divisão social.

Como se pode constatar, essa divisão não é sobretudo ideológica e partidária. A esquerda e a direita só marginalmente explicam essa divisão crescente. Em Inglaterra, pessoas da esquerda e direita estiveram simultaneamente a favor e contra o Brexit. Nos EUA , anteriores eleitores de Barack Obama estiveram do lado de Donald Trump. Esta realidade avança a passos largos, à medida que cada vez mais pessoas chegam à conclusão de que os políticos e instituições responsáveis pela situação atual não serão capazes de corrigi-la e melhorar as perspectivas de futuro das pessoas.

Qual é, então, a possível explicação para esta crescente divisão? Na minha avaliação, a explicação é… o MEDO!


O medo é uma arma dos poderosos para conseguirem determinadas reações e comportamentos de todos nós!

Mas o medo é também uma reação que nos invade autonomamente quando em vez de deixarmos andar as coisas começamos a raciocinar, e as coisas nos parecerem levar um rumo negativo em termos próximos e de futuro.

A larga maioria de nós é generosa quando de barriga cheia. É compreensível e tolerante quando os problemas estão longe da sua casa, do seu posto de trabalho e do seu bairro.

Somos magnânimos e clementes para com criminosos quando não somos nós nem os nossos familiares ou amigos os afetados.

Por fim, somos politicamente grandes democratas quando os nossos ganham. No fundo, não muito diferentes da avaliação que fazemos quando o nosso clube ganha ou perde. Quando ganha somos compreensivos com os árbitros. Quando perdemos já não é bem assim!

Depois de décadas de um modelo de crescimento que trouxe melhorias para a maioria, mesmo que com uma desigualdade crescente na distribuição da riqueza produzida, fomos, no mínimo, tolerantes quando não complacentes com as elites políticas e económicas.

Fomos generosos com uma emigração descontrolada e uma islamização sub-reptícia que ninguém valorizou. Não se vislumbravam problemas que não pudessem ser resolvidos, enquanto os avanços tecnológicos deslumbravam e ofereciam um horizonte luminoso em termos de futuro.
Quem, neste entretanto, quis alertar para um mundo real diferente e para riscos sérios de um futuro problemático foi visto por todos, desde políticos aos cidadãos relaxados, passando por analistas e jornalistas, como pessoas ressentidas com o sistema ou pessimistas militantes ou doentios.

E quando as coisas começam a não ser aceites tal como lhes são vendidas pelos políticos e meios de comunicação social, ou seja, quando muita gente começa a raciocinar em vez de apenas comprar, as dúvidas saltam. E quando as dúvidas ficam sem resposta, ou têm respostas de circunstância, então as pessoas começam finalmente a reagir. E reagem com medo, justamente porque perdem progressivamente confiança naqueles que supostamente deveriam encontrar as soluções para os problemas e desafios.

Por estas razões nunca a confiança nos políticos e nos meios de comunicação social foi tão baixa nas últimas décadas.

Mas neste quadro crescente de desencanto e desconfiança há duas respostas diferentes:

Temos as pessoas que agem, mesmo que de forma diferente do passado, e as pessoas que reagem de forma emocional e pouco ou nada racional.

No primeiro caso temos como consequência resultados eleitorais surpreendentes, e no segundo caso só medo, o que leva a irracionalidade e histeria.

Recentemente, o Brexit ou a eleição de Donald Trump foram exemplos de uma população que respondeu de forma racional aos seus anseios, às suas desconfianças e medos.

No entanto, a eleição de Donald Trump gerou uma reação nos EUA e pela Europa que mostra uma população igualmente com medo… dessa eleição.

Medo de um futuro onde percebem finalmente que trará mudanças e com elas a perda daquilo que tinham dado por adquirido.

Em suma, é o medo que hoje comanda as atitudes dos que fazem novas escolhas políticas e daqueles que depois reagem a essas escolhas políticas.

O que me desconsola nesta altura não é apenas esta divisão, que se acentua, mas a irracionalidade e histeria que toma uma parte da população.

Preocupa-me que pessoas, que considero diferenciadas, não entendam que não é o Brexit, Donald Trump, Marine Le Pen, ou os novos partidos nacionalistas que dividem as pessoas, mas o facto de que as raízes da divisão terem crescido em silêncio com a complacência ou até cumplicidade de muita gente entre os políticos e meios de comunicação social.

Choca-me que muita gente hoje chame fascista a Donald Trump por razões que em Obama não provocaram nenhuma reação nem manifestação! Ou seja, dois pesos e duas medidas!

Que chamem islamofóbico a Trump e finjam não perceber a simpatia clara de Barack Obama pelo islamismo, mas sobretudo a tolerância face ao islamismo radical! Que finjam não perceber, ou não compreender, que Barack Obama se preocupava mais com o presidente sírio do que com o Estado Islâmico!

Que temam o fim do mundo por causa de Trump quando Obama é um dos principais responsáveis pela situação crítica que se vive no Médio Oriente e causou o êxodo de refugiados da Síria e a crise atual na Europa.

Que aceitem o tradicional discurso do medo em relação à Rússia, e agora a Putin, numa altura em que não vivemos nada parecido com a realidade da segunda grande guerra ou da Guerra Fria, e enquanto esquecem a ameaça do islamismo radical.

Sim, amigas e amigos, estamos hoje cada vez mais divididos. Mas as razões da nossa divisão são o medo perante a realidade que cresceu debaixo do nosso nariz, mas que comodamente ignorámos!

E em vez de usarmos a razão e a inteligência deixamo-nos conduzir pela emoção e pânico.

Quando temos um pesadelo durante o sono, o de estarmos sob uma ameaça física à nossa vida, e temos uma arma à nossa disposição, duas situações ocorrem com frequência. Numa delas quando premimos o gatilho a arma não dispara. Noutra situação a arma dispara mas fazemo-lo em pânico e à toa.

Estamos divididos entre os que têm medo do atual presente e falta de perspectivas futuras, querendo por isso uma mudança de rumo no caminho seguido nas últimas décadas, e os que têm medo de perder privilégios da situação presente que julgam sustentável, e não são capazes de entender quem são os responsáveis e entender o que tem que mudar se quisermos sobreviver.

Eu estou do lado dos que têm medo do rumo seguido nas últimas décadas e quero fazer o que estiver ao meu alcance (no tempo que me restar e nas capacidades que me sobrarem) para travar ou alterar esse rumo, ajudar a mudar o que tiver que mudar, correr com os políticos que tiverem que ser corridos, defender o património histórico, cultural, sentimental, familiar, que me une ou liga a pessoas de vários trajetos pessoais, culturais, religiosos ou de nacionalidade, que definem a nossa especificidade e nos trouxeram até aqui, e combater no plano das ideias os fascismos de hoje: o fascismo cultural do politicamente correto, e o fascismo religioso materializado no islamismo radical, uma das grandes ameaças à civilização em que vivemos.

Sim, estamos divididos. Tenho pena! Mas não valorizo nem procuro amizades ou unidades sem princípio, fictícias e enganadoras, ou seja, politicamente corretas, apenas para depois adormecer tranquilo!
Título e Texto: J. Ventura Leite, 31-1-2017

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