Rui A.
Sempre me entusiasmou a perversidade
implícita (para mim mais do que explícita…) da Bela Adormecida, sobretudo
na versão Disney, onde uma falsa-ingénua loiraça e curvilínea princesa se
deixava seduzir (ou seduzia?…) por um príncipe com evidentes más intenções. O clímax
da história e do filme da Disney é, inegavelmente, a cena em que a dengosa da
Aurora, depois de se deixar picar por uma agulha fálica, desfalece
estrategicamente numa alcova escondida, a aguardar que o seu homem chegasse e
fizesse o que tinha a fazer. O quê, não era da nossa conta…
Se, durante anos, temi pela
minha normalidade emocional, fiquei ontem a saber, que não apenas sou um tipo
mais do que normal, como intuo a realidade das coisas por detrás das
aparências. É que, para além de ver confirmadas as minhas suspeitas lúbricas
sobre a história da Aurora, finalmente percebi que ela encerra também uma séria
lição moral: nunca abuse de uma moça inconsciente. Mesmo que esteja acordada…
Mas se a Bela Adormecida é
fonte de volúpia infanto-juvenil, o que dizer da Cinderela? Como
interpretar a prova do sapato, onde um mancebo (outro príncipe…) força os
limites apertados do seu pezinho para lhe enfiar, à bruta, um sapato? Não
estará aqui um claro apelo à violação feminina? E a Branca de Neve e os
Sete Anões, também ela desfalecida e inconsciente, não graças a uma agulha
fálica, mas a uma maçã bíblica, símbolo do pecado original, a que não resistiu?
Não será uma alegoria óbvia sobre o voyeurismo masculino exercido sobre
raparigas ingénuas? E o que foram os anõezinhos fazer com ela, quando a
apanharam desmaiada? E porque se chama, um desses sete tratantes, «Dengoso»? E
o outro «Sabichão»? Sabes muito, sabes… E o Dumbo, o Elefante Voador?
Porventura enviaria
fotografias da sua tromba hirta a jornalistas suas amigas? Deixam a criançada
ver disto e queixam-se, mais tarde, que a coisa deu para o torto. Isto já para
não falar nas princesas do Aladino, na perversa dominatrix
dos 101 Dálmatas, nas curvas da Pequena Sereia, nos
saltinhos de corça do esvoaçante Peter Pan, no nariz do Pinóquio ou
nos avanços abusivos do deformado patife da Bela e do Monstro.
É preciso tomar cautela com
todas estas sórdidas mensagens sexistas, que são verdadeiras formas de violência
de género contra as mulheres. Esperemos que a Fernanda Câncio, a Rita Ferro
Rodrigues, a Isabel Moreira e as manas Mortágua estejam atentas…
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