sexta-feira, 23 de abril de 2010

Contos moucos dos loucos (IV)


Mentira
Telefonou-lhe dizendo que havia perdido o avião. Ele acreditou. (Inicialmente).
A certeza chegou-lhe três meses depois: ela se atrasou porque se encontrara, pela segunda vez, com R.


O encontro (I)
 Sentou-se a uma mesa no canto, bem discreta. Não queria ser visto. E também queria ser o primeiro a avistá-la quando ela entrasse no café.
Ansioso ele estava. Seria ela tão bonita quanto parecia na fotinha do perfil?


Bondade suprema
Seu Astrogildo era um velhinho afável e dotado de grande generosidade e muito dinheiro. Ele estava há vários meses na UTI e resolveu mostrar o testamento aos filhos, genros e noras.
O velhinho viu tanta alegria nos olhos dos herdeiros que, quando eles deixaram a UTI, ele não hesitou um instante em dar-lhes a felicidade esperada: enforcou-se na mangueirinha do oxigénio.


O encontro (Fim)
 Ele a viu. Primeiro, como tanto queria. Ainda bem que o café se enchera de gente. Assim, ele pôde sair sem ser visto.

Última oração
"Senhor, protegei-me!", rogava na cama do quarto já saudoso.
Um furacão varrera-lhe a vida. Levara-lhe os rendimentos e o amor.
Era a última oração naquele quarto. No dia seguinte, seria despejado do apartamento.


Defesa
Passeava com o seu cachorro. Este na frente, ele atrás. 
Viu quando o menino a agarrou, a bola. Era uma daquelas de plástico, preta e branca, mimetizando a oficial.
O menino exultou. Evitara um gol!


- "Puxa, que qüeres?", perguntou ele.
- "Nada", respondeu ela.
- "Então, deixa-me dormir." E voltou a dormir.

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