quinta-feira, 22 de abril de 2010

Contos moucos dos loucos


Rápida alegria
Caminhava a passos largos. Estava com muita pressa de chegar a tempo de vê-la sair. Chegou e encostou-se à banca de jornais.
De repente, ei-la saindo. Pegou um táxi e foi-se embora.


O guarda-chuva
Chovia quando ela saíu. Abriu o seu guarda-chuva LV. A chuva parou.


Conto interrompido
O baile fervia, na vitrola tocava "Eu vou tirar você desse lugar". Olharam-se. Ele, grande e imponente, rosto redondinho, risquinho no cabelo, ela, mignone, delicada. Ele aproximou-se e perguntou:
 - Boa noite, qual é o seu nome?
 - Amélia.
- E o meu é Bottini, Bottini Jece.
 - ...
- Que bom conhecer uma mulher de verdade, uma guerreira!
Ela se emocionou com aquele piropo, "que gentil!", pensou. Dias depois começaram a namorar. Amasiaram-se então. Foram mais de setenta anos, até que ele foi promovido a Diretor Geral da Confeitaria. Foi então que ele, olhando para todos aqueles pães, pãezinhos, mille-feuilles... impossível continuar este concretista conto porque o autor está debulhado em lágrimas... e Amélia, essa continua mulher de verdade.

Simplesmente
"Por que não escreves?", perguntou-lhe.
"Porque não sei", respondeu-lhe.


Cansaço
Todo o dia levava-lhe o café da manhã à cama até que um dia cansou e não mais lhe levou.

Mudança de cidade
Corria o mês de janeiro quando ela se mudou para Macapá. E lá ficou em fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. Do mesmo ano.

Estação ferroviária
Há muitos anos que ele não ia à Estação de São Bento. Quando criança até à adolescência ia muitas vezes à estação para apreciar o movimento dos trens. Hoje, passados tantos anos, lá estava ele, agora com encanecidos cabelos, esperando o trem que viria de Alcochete. E esperou, esperou, esperou... Passados dezoito dias soube que Alcochete não tinha estação ferroviária.

O reencontro
Kojak lambia o seu pirulito quando avistou Holmes. Parou em fila dupla. Holmes também parou, em cima da calçada. Saudaram-se 'estapafurdiamente'. Kojak perguntou a Holmes pelo paradeiro de Watson. Foi aí que ficou sabendo que Watson se casara com Ellen Church, uma ex-aeromoça da Cruzeiro do Sul. E agora, ambos aposentados - pelo tal de aerus -, viviam debaixo do Viaduto do Chá, lá para os lados de Paciência. Kojak ficou maravilhado com a alvissareira notícia e despediu-se de Holmes.

Prêmio Nobel
Estavam a jantar quando de repente ele perguntou-lhe se já havia lido algum livro de José Saramago Que não respondeu ela não gostava de comunistas ainda mais quer dizer ainda menos daqueles que moravam fora de Portugal então ele não gostava do seu país e ia morar no estrangeiro vociferou Ele disse que ele havia ganho o prêmio Nobel de literatura era uma glória para Portugal Raios que o partam o prêmio nobel ele deu o dinheiro que ganhou para o país não não deu nem para o país nem para os pobres do país Que parvos somos nós em achar muito bonito muito patriota quando alguns nacionais ganham prêmios PARA ELES PRÓPRIOS escrevendo livros que ninguém entende jogando à bola que nem todos gostam de ver gritando ao microfone qualquer parvoíce guiando carros velozes e furiosos construídos lá fora e a mídia criando alimentando ou matando quando não lhes interessa a independência a altivez ou o real patriotismo da celebridade que seca exclamou Tens razão concedeu ele devemos endeusar isso sim aqueles cujas obras ou feitos sejam comprovadamente em benefício do seu país e dos seus habitantes compatriotas quer dizer que façam o pão entendeu Abaixo o circo abaixo o circo abaixo o circo gritou ela rindo e só parou de de gritar de rir quando o rapaz trouxe a notinha.

Porta aberta
Os dois gostavam muito de gatos. Haviam recolhido uma filhotinha de dentro do capô de um carro. Apelidaram-na, imediatamente, de Pretinha.
Ela estava alimentando-a com uma mamadeira (sobras do seu segundo e último filho), quando ela se desprendeu, eriçou-se e fugiu porta afora...

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