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Cristina Kirchner, foto: Marcos Brindicci/Reuters |
Peter Wilm Rosenfeld
Acompanho o Mercosul desde
antes da entidade começar a funcionar, como membro que era do Conselho de
Comércio Exterior de uma Federação de Indústrias (deixo de citar a entidade por
razões óbvias).
Sempre externei abertamente as
minhas dúvidas de que a organização cuja instalação se cogitava funcionasse,
por mais de uma razão, mas a mais importante me parecia o fato da Argentina não
ser confiável.
Poder-se-ia pensar que o
Mercosul não funcionaria pela grande disparidade de tamanho entre seus
participantes, o que pareceria lógico (mas não aconteceu); pelos antecedentes
éticos dos países, onde a diferença entre, por exemplo, o Uruguai e o Paraguai
era monumental; o primeiro um país sério, cumpridor de seus deveres e
obrigações e o Paraguai o paraíso dos “trambiques”, onde nada acontecia se não
se pagasse um “por fora” adequado.
Não estou nada preocupado em
ser mal visto, pois o comportamento a que refiro era de conhecimento geral.
Mas pouca gente mencionava
abertamente o problema argentino como entrave ao bom funcionamento de uma
entidade de escopo internacional.
Tenho a convicção de que
muitos pensavam como eu, e só não o externavam para não ficarem mal com os
“hermanos”.
Mas pensemos bem: uma nação
que já fora a quinta maior economia do mundo; que, em muitos aspectos, queria
se assemelhar à Grã-Bretanha, com seus costumes, seus trajes, seus esportes e
que, efetivamente, tinha sido a maior potência das Américas Central e do Sul,
não podia aceitar tranquilamente o fato de ter retrogredido muitas posições e
de ter, em seu próprio continente, um Brasil que, no concerto das nações, havia
se tornado muito mais importante do que a Argentina.
Assim como não podia aceitar
que em uma organização internacional, ter um voto igual ao dos países
considerados pequenos, Uruguai e Paraguai.
Se bem que, com sua soberba,
os argentinos sempre terem se julgado superiores do que o próprio Brasil.
Aliás, do que a própria Grã-Bretanha, ao ponto de em dado momento recente terem
decidido brigar pela posse das Ilhas Malvinas, ou Falklands.
A diferença atual entre a
Argentina e o Brasil é monumental.
A Argentina teve muito de seu
poderio agrícola, industrial e, como consequência, comercial, destruído pela
ditadura do Gal. Peron e de sua mulher Evita, que queria ser mais popular do
que seu marido.
Felizmente o ditador
brasileiro contemporâneo, Getúlio Vargas, não sofreu a concorrência da Sra.
Vargas que, nem por isso, deixou de fazer o que qualquer “primeira-dama” que
mereça o nome faça: se dedique a obras sociais e beneficentes sem tentar
ofuscar a atuação do marido.
De mais a mais, é natural que
em um mundo em que as comunicações se tornam cada vez mais modernas e
eficientes, um país de tamanho pequeno, para concorrer com um grande (em
tamanho territorial e populacional), precisa estar muito, mas muito à frente
dos demais. No mundo tem uns poucos exemplos a demonstrarem o que acabo de
afirmar.
A troco de que abordo o
assunto deste texto?
Faço-o tendo em vista o
comportamento da Argentina no licenciamento de importações de produtos
brasileiros, produtos que integram as listas recíprocas, cuja importação
deveria ser automaticamente autorizada, procedimento que a Argentina simplesmente
ignora, sem qualquer razão se não a de prejudicar o Brasil.
E, mais do que evidentemente,
não aceita que o Brasil reciproque!
De acordo com artigo no jornal
Zero Hora de Porto Alegre (02/08/2011), estima-se o prejuízo em mais de UR$ 1 bilhão!
O mesmo jornal ainda informa que a Argentina sequer respeita o prazo de 60 dias
para licenças não-automáticas. E ainda têm o topete de pedir que lhes demos uma
trégua para que a Presidente argentina consiga se reeleger... Em minha visão, é
muita cara de pau...
Os prejuízos de
produtores/exportadores brasileiros já atingem somas tais que, ao fim e ao
cabo, acaba sendo mais barato transferir uma fábrica inteira para a Argentina
do que arcar com o prejuízo de ter produtos parados na fronteira durante
semanas, sem qualquer possibilidade de se ressarcir do prejuízo moral perante o
cliente e os empregados e econômico-financeiro perante bancos e entidades
financiadoras.
Claro que os dirigentes do
Brasil, desde a Presidência da República até os Ministérios envolvidos no problema,
nada sofrem. Sequer foi tema a ser discutido no encontro desta semana entre as
duas Senhoras! Ao contrário, os argentinos paparicam e até acariciam os
brasileiros e vice-versa (vide fotos da recente visita da Sra. Presidente
argentina ao Brasil e o ar de prazer, quase de amor, da Sra. Presidente do
Brasil reciprocando!).
Para os que realmente se
preocupam com o que está acontecendo aqui; para os industriais e empregados de
empresas que já transferiram operações para território argentino, tais demonstrações
de afeto são um deboche intolerável.
O que o Brasil pode ganhar com
isso? Nada, se não o sorriso de superioridade dos “hermanos”, por mais uma vez
terem passado a perna nos brasileiros.
Ah, sim, talvez ganhe o tão
sonhado (pelo Sr. da Silva) assento no Conselho de Segurança da ONU, hipótese
bastante improvável como já deu a entender o Presidente americano Sr. Barack
Obama (a Índia é mais confiável, em sua opinião; tendo a concordar com
isso...).
Volto a dizer: meus amigos
argentinos que me perdoem, mas isso é demais para minha bolinha, como se diz
popularmente.
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre (RS), 03 de julho de 2011
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