quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Argentina & Brasil

Cristina Kirchner, foto:  Marcos Brindicci/Reuters

Peter Wilm Rosenfeld
Acompanho o Mercosul desde antes da entidade começar a funcionar, como membro que era do Conselho de Comércio Exterior de uma Federação de Indústrias (deixo de citar a entidade por razões óbvias).
Sempre externei abertamente as minhas dúvidas de que a organização cuja instalação se cogitava funcionasse, por mais de uma razão, mas a mais importante me parecia o fato da Argentina não ser confiável.
Poder-se-ia pensar que o Mercosul não funcionaria pela grande disparidade de tamanho entre seus participantes, o que pareceria lógico (mas não aconteceu); pelos antecedentes éticos dos países, onde a diferença entre, por exemplo, o Uruguai e o Paraguai era monumental; o primeiro um país sério, cumpridor de seus deveres e obrigações e o Paraguai o paraíso dos “trambiques”, onde nada acontecia se não se pagasse um “por fora” adequado.
Não estou nada preocupado em ser mal visto, pois o comportamento a que refiro era de conhecimento geral.
Mas pouca gente mencionava abertamente o problema argentino como entrave ao bom funcionamento de uma entidade de escopo internacional.
Tenho a convicção de que muitos pensavam como eu, e só não o externavam para não ficarem mal com os “hermanos”.
Mas pensemos bem: uma nação que já fora a quinta maior economia do mundo; que, em muitos aspectos, queria se assemelhar à Grã-Bretanha, com seus costumes, seus trajes, seus esportes e que, efetivamente, tinha sido a maior potência das Américas Central e do Sul, não podia aceitar tranquilamente o fato de ter retrogredido muitas posições e de ter, em seu próprio continente, um Brasil que, no concerto das nações, havia se tornado muito mais importante do que a Argentina.

Assim como não podia aceitar que em uma organização internacional, ter um voto igual ao dos países considerados pequenos, Uruguai e Paraguai.
Se bem que, com sua soberba, os argentinos sempre terem se julgado superiores do que o próprio Brasil. Aliás, do que a própria Grã-Bretanha, ao ponto de em dado momento recente terem decidido brigar pela posse das Ilhas Malvinas, ou Falklands.
A diferença atual entre a Argentina e o Brasil é monumental.
A Argentina teve muito de seu poderio agrícola, industrial e, como consequência, comercial, destruído pela ditadura do Gal. Peron e de sua mulher Evita, que queria ser mais popular do que seu marido.
Felizmente o ditador brasileiro contemporâneo, Getúlio Vargas, não sofreu a concorrência da Sra. Vargas que, nem por isso, deixou de fazer o que qualquer “primeira-dama” que mereça o nome faça: se dedique a obras sociais e beneficentes sem tentar ofuscar a atuação do marido.
De mais a mais, é natural que em um mundo em que as comunicações se tornam cada vez mais modernas e eficientes, um país de tamanho pequeno, para concorrer com um grande (em tamanho territorial e populacional), precisa estar muito, mas muito à frente dos demais. No mundo tem uns poucos exemplos a demonstrarem o que acabo de afirmar.
A troco de que abordo o assunto deste texto?
Faço-o tendo em vista o comportamento da Argentina no licenciamento de importações de produtos brasileiros, produtos que integram as listas recíprocas, cuja importação deveria ser automaticamente autorizada, procedimento que a Argentina simplesmente ignora, sem qualquer razão se não a de prejudicar o Brasil.
E, mais do que evidentemente, não aceita que o Brasil reciproque!
De acordo com artigo no jornal Zero Hora de Porto Alegre (02/08/2011), estima-se o prejuízo em mais de UR$ 1 bilhão! O mesmo jornal ainda informa que a Argentina sequer respeita o prazo de 60 dias para licenças não-automáticas. E ainda têm o topete de pedir que lhes demos uma trégua para que a Presidente argentina consiga se reeleger... Em minha visão, é muita cara de pau...
Os prejuízos de produtores/exportadores brasileiros já atingem somas tais que, ao fim e ao cabo, acaba sendo mais barato transferir uma fábrica inteira para a Argentina do que arcar com o prejuízo de ter produtos parados na fronteira durante semanas, sem qualquer possibilidade de se ressarcir do prejuízo moral perante o cliente e os empregados e econômico-financeiro perante bancos e entidades financiadoras.
Claro que os dirigentes do Brasil, desde a Presidência da República até os Ministérios envolvidos no problema, nada sofrem. Sequer foi tema a ser discutido no encontro desta semana entre as duas Senhoras! Ao contrário, os argentinos paparicam e até acariciam os brasileiros e vice-versa (vide fotos da recente visita da Sra. Presidente argentina ao Brasil e o ar de prazer, quase de amor, da Sra. Presidente do Brasil reciprocando!).
Para os que realmente se preocupam com o que está acontecendo aqui; para os industriais e empregados de empresas que já transferiram operações para território argentino, tais demonstrações de afeto são um deboche intolerável.
O que o Brasil pode ganhar com isso? Nada, se não o sorriso de superioridade dos “hermanos”, por mais uma vez terem passado a perna nos brasileiros.
Ah, sim, talvez ganhe o tão sonhado (pelo Sr. da Silva) assento no Conselho de Segurança da ONU, hipótese bastante improvável como já deu a entender o Presidente americano Sr. Barack Obama (a Índia é mais confiável, em sua opinião; tendo a concordar com isso...).
Volto a dizer: meus amigos argentinos que me perdoem, mas isso é demais para minha bolinha, como se diz popularmente.
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 03 de julho de 2011

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