Carlos Lúcio Gontijo
Não me perguntem aonde ir para
encontrar leitores, pois nunca soube. As bibliotecas estão sempre vazias, as
livrarias repletas de autores estrangeiros e livros de autoajuda, enquanto a
literatura brasileira sobrevive com a simples e costumeira citação de grandes
autores, que verdadeiramente também são muito pouco lidos. Não entendo também
de busca de recursos para se editarem livros, porque nunca obtive sucesso nessa
empreitada, consciente de que a política cultural brasileira só favorece aos
que se acham sob os holofotes da mídia, o que determina fluxo volumoso de
recursos para as mesmíssimas celebridades e famosos de sempre. Todavia, em
torno desse assunto, as discussões se prendem mais ao calor obscurantista do
fogaréu das vaidades que à luz da real busca de soluções.
Houve um tempo em que
concursos literários lançavam novos talentos, mas hoje eles só servem para
propiciar alguma pequena edição ao ganhador, o que representa significativa
glória num país em que as editores não investem nem apostam em novos autores
(digo isso no tocante ao ato de se fazer conhecido, uma vez que existe gente
com idade avançada e sem qualquer trabalho editado), obrigando aos que
pretendem tirar a sua obra da gaveta, em tempo de democrática ditadura de
intensa propagação do grotesco ou, no mínimo, de valor cultural duvidoso, que
por sua vez leva adultos, adolescentes e crianças a dançarem na boquinha da
garrafa. Infelizmente, entre nós, o esmero tecnológico da imagem digital chegou
às “nossas” televisões antes de as mesmas implantarem qualidade em sua rede de
programação.
Se eu fosse tangido pela busca
de fama e sucesso não estaria me movendo para editar o meu 14º livro nem
disposto a investir quantia, para mim volumosa, em meu site, que agora em junho
próximo, neste ano de 2012, completará sete anos. Uma vez que, hoje, o que determina
notoriedade são a inventiva e o comportamento esdrúxulo ou completamente
anômalo e contrário aos chamados bons costumes, tratados como desnecessários
ditames ultrapassados.
A dilapidação promovida ao
senso comum que norteia a convivência em sociedade vem exatamente dos órgãos
que deveriam atuar em sua defesa. Os poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário se consideram (e se põem) acima da nação brasileira, que sabiamente
os julga pelo produto final que a ela é apresentado. Vem daí a generalização da
reclamação popular, pois quando uma prestação de serviço não é satisfatória o
consumidor recorre ao PROCON contra a loja vendedora ou a fábrica produtora,
não lhe sendo exigida a indicação de nomes – ao produtor da mercadoria
defeituosa cabe, se assim o desejar, a descoberta do funcionário responsável
pela ocorrência!
Ou seja, a má prestação de
serviço advinda da ação dos Três Poderes é problema relativo a todos aqueles
que o integram. Cabe a cada um deles e mais especificamente aos que se nos
apresentam como a parte boa, reclamando da constante acusação generalizada,
agirem em prol da devida apuração. Afinal, não se trata de seres inanimados;
não são maçãs sadias enfiadas, involuntariamente, em saco de aniagem em meio a
frutos putrefatos...
Em ambiente assim perverso, no
qual os que deveriam dar o exemplo insistem em não dá-lo, assisto ao cotidiano
crescimento da cultura do levar vantagem em tudo, que vai levando a tudo de
roldão. Para onde olho eu vejo podridão: é político com dinheiro na cueca, na
meia, no porta-malas, no banco do carro; são favorecimentos e desvios de
recursos públicos em montante inimaginável, mas que pode ser dimensionado pela
paisagem de abissais carências sociais que nos rodeia.
Quem sou eu, pequeno escriba,
para perder o fio da meada, abandonar a literatura menor que realizo (mas que é
a minha vida) à beira do caminho, depois de tão longa caminhada. Só me resta
mesmo impor-me alguns sacrifícios em nome do invisível, do que não se vê: a energia
imaterial do halo da alegria de efetivar o exercício de um dom, ainda que as
palavras me pareçam jogadas ao léu. E é exatamente sob esse sentimento que
lançarei meu novo trabalho literário, o romance “Quando a vez é do mar” (um
livro de 400 páginas), no dia 27 de abril, às 19:30, na Associação Mineira de
Imprensa, à Rua da Bahia, 1.450, em Belo Horizonte.
Enfim, sou brasileiro comum.
Faço parte desse povo que, apesar dos governantes e dos podres poderes,
consegue sobreviver e driblar as pedras atiradas em seu caminho. Termino então
repetindo reflexão de Sigmund Freud, grande explorador da alma humana: “Mas
posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.”
Título e Texto: Carlos Lúcio
Gontijo, Poeta, escritor e jornalista
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