terça-feira, 20 de março de 2012

A pescadinha-de-rabo-na-boca

Alberto de Freitas
Assemelhamo-nos à “pescadinha-de-rabo-na-boca” na resolução dos problemas: a parte da cabeça faz exigências que, a serem satisfeitas, “comem” mais da outra extremidade. A comunicação social equipara-se a “livro de reclamações”, onde as partes reclamam do todo, como se ele não fosse composto por elas. E os partidos da oposição fazem de balcão de reclamações com soluções na hora, garantindo como certo que o todo é composto pelas partes mais a demagogia. E a teoria da “pescadinha-de-rabo-na-boca” comprova-se no “Estado-dependência”. Tal como a interdependência na relação “passador” versus consumidor. Os políticos são os principais interessados na ideia das obrigações do Estado; não pela defesa dos cidadãos, mas no próprio interesse de quem a sobrevivência da influência e do poder depende dessa adição. Solucionar os “micro-problemas”, é algo acessível à sociedade civil. Receio que a solidariedade de ajudar um invisual no atravessar de uma estrada, seja substituída pela manifestação indignada devido à ausência de solução por parte do Estado. A luta desesperada pela manutenção das pontas dos tentáculos do “polvo” – as Juntas de Freguesia – é o receio que nas pequenas comunidades as populações se entreajudem. Como é possível que um doente a necessitar de ir a um hospital - não tendo os meios – alguém, um vizinho, uma empresa, o grupo recreativo… não colaborem na resolução do problema? O que assistimos perante a comunicação social: populações indignadas; agremiações a pedinchar verbas; políticos a “faturar” e jovens indignados a exigir. O que uma simples coleta para ajudar ao combustível, a disponibilidade de um qualquer veículo sem função, a boa vontade e cedência de um pouco de tempo e o “micro-problema” do tal doente se deslocar ao hospital estaria resolvido. Há velhos a morrer na solidão, casas a desmoronar que são lares de pessoas, famílias a precisar de apoio e, por vezes, o simples tomar conta de uma criança enquanto vão trabalhar. Por acaso, por diminuta percentagem que fosse, das centenas de milhares de jovens sem emprego, surgiu algum grupúsculo para atos de solidariedade? Que se saiba: limitam-se a exigir o inexistente. E que se saiba também, ainda nenhum concerto de rock ficou às moscas e as “noites” de fim-de-semana fervilham. Não que se deva tirar o direito ao divertimento, mas deve assinalar-se que continua acessível… é que pela dimensão da indignação poderia pensar-se que não.
A política ao serviço dos partidos e não o inverso é o nosso calcanhar de Aquiles. Tal como argonautas somos seduzidos pelos melodiosos cantos das sereias partidárias. Cujo som nos promete vidas maravilhosas e futuros risonhos. Uma embriaguez que nos tolda a vista e retira a vontade e nos faz entrar na depressão da vitimização. E nós, tal como a “pescadinha-de-rabo-na-boca”, teremos que nos libertar do círculo infernal para voltar a “nadar”.
Consumíamos o que não produzíamos e quem providenciava tal situação, pôs um “basta”. De vez, temos que nos consciencializar: estamos condenados a só consumir o que produzirmos. Temos que o fazer e, infelizmente, é o empobrecimento até alcançar o equilíbrio consumo/produção. Uma tarefa ciclópica que depende da iniciativa individual e do esforço coletivo, em que pagar impostos não é suficiente pois temos um passado em dívida… e em que “refilar” não leva a nada… quando pouco ou “nada” existe.
Título e Texto: Alberto de Freitas

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