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Estocolmo, Wikipédia |
João Luiz Mauad
O sucesso econômico da Suécia
tem sido um dos argumentos mais poderosos da esquerda. Se os impostos são ruins
para a economia, dizem, por que aquele país, dono de uma das maiores cargas tributárias
do mundo, tem um padrão de vida tão amplamente admirado?
Malgrado o orgulho e a
propaganda esquerdistas, entretanto, a Suécia é, de fato, uma economia de
mercado, engessada, em boa medida, pelo pesado fardo do estado de bem-estar.
Embora os arautos da esquerda enxerguem na Suécia um exemplo indiscutível de
como combinar altos níveis de prosperidade e qualidade de vida com altos
índices de redistribuição de renda, a história revela algo bem distinto: o
sucesso desta nação nórdica não decorre das políticas de bem-estar, mas apesar
delas.
O que é preciso entender,
antes de mais nada, é que o estado de bem-estar não é o que distingue a Suécia
e demais países escandinavos do resto da humanidade. Na verdade, esses povos
são altamente homogêneos e contam com uma das culturas melhor adaptadas para o
sucesso econômico e social, com destaque para o cooperativismo, a
confiabilidade, a ética no trabalho, a participação cívica, os valores
familiares e, last but not least, a responsabilidade individual extremada.
Dos países da Cortina de
Ferro, a economia mais bem-sucedida foi, sem dúvida, a da Alemanha Oriental.
Não que o comunismo tenha exatamente funcionado ali, mas graças às virtudes
acima mencionadas, muitas delas também presentes na cultura germânica, a experiência
comunista foi, sem dúvida, menos ruim para os alemães do que para outros povos.
Pois bem, não seria exagero especular que, se a Suécia tivesse experimentado o
comunismo, provavelmente a aventura teria sido relativamente menos traumática
por lá do que em qualquer outro lugar.
Esse é o tema central de um
trabalho publicado em 2011 por Nima Sanandaji. Contrariamente à visão propalada
pelo marketing esquerdista, o autor demonstra que o sucesso da sociedade sueca
não é resultado do estado de bem-estar. O argumento chave de Sanandaji é o da
primazia dos valores. Honestidade, frugalidade e parcimônia – virtudes
necessárias para o desenvolvimento econômico e social, tão bem esmiuçadas por
Adam Smith no clássico “A Riqueza das Nações” – já faziam parte da cultura
sueca muito antes da introdução do “welfare state”, a partir da década de 1930
do século passado. Segundo o autor, este “capital moral”, arduamente
constituído ao longo dos séculos, é o que tem sustentado o sucesso da Suécia (e
de outros países nórdicos), apesar do estado de bem-estar.
Historicamente, a experiência
sueca é raramente mencionada como um exemplo das virtudes do capitalismo
liberal. No entanto, poucas outras nações no mundo demonstraram tão claramente
como um fenomenal crescimento econômico pode ser alcançado a partir da adoção
de políticas de livre mercado.
A Suécia era uma nação
empobrecida antes da década de 1870, fato comprovado pela emigração maciça,
principalmente para os Estados Unidos, naquela época. A partir do surgimento do
capitalismo, o país evoluiu rapidadamente, desde uma base essencialmente
agrária, até tornar-se uma das nações mais prósperas da terra. Direitos de
propriedade bem definidos, mercados livres e Estado de Direito, combinados,
criaram um ambiente sob o qual a Suécia experimentou uma fase de crescimento
econômico rápido e sustentado, quase sem precedentes na história humana.
Se o período compreendido
entre a década de 1870 e o início da primeira guerra mundial foi o de maior
fortuna para o povo sueco, as três décadas iniciadas em 1960 foram as mais
críticas. Embora governados pela social-democracia desde os anos 30, foi
somente a partir dos anos 60 que ocorreu uma brusca guinada para a esquerda,
não só por conta do aumento abrupto da carga tributária, mas, sobretudo, devido
à introdução de políticas fortemente prejudiciais os negócios privados.
Não por acaso, esse foi um
período marcado pelo baixo crescimento. Embora sociedade sueca – como já
mencionamos acima – seja conhecida por uma forte ética no trabalho e princípios
morais rígidos, ela não estava imune à redução dos incentivos à geração de
riquezas, causada principalmente pela elevação extraordinária dos tributos e
pela profusão de privilégios extravagantes dos programas de bem-estar.
A combinação explosiva de altos
impostos, benefícios sociais generosos e um mercado de trabalho rígido afetou
claramente a economia do país, que teve, nesse período de 30 anos, o seu pior
desempenho econômico desde a implantação do sistema capitalista (veja quadro
abaixo).
A boa notícia é que, desde o
início da década de 1990, a Suécia vem implementando uma série de reformas que,
em alguns casos, superam até mesmo as reformas liberais introduzidas nos EUA
por Reagan e na Inglaterra, por Thatcher. Vouchers educacionais foram introduzidas
com êxito, criando concorrência dentro do sistema público de financiamento.
Sistemas similares foram implementados em outras áreas, como saúde e cuidados
com os velhos.
Outra reforma liberalizante
veio com a privatização parcial do sistema previdenciário, que concedeu aos
cidadãos algum controle sobre suas aposentadorias. Além disso, como mostrado na
figura abaixo, a carga tributária vem caindo de forma consistente e é bastante
provável que essa queda deva continuar num horizonte próximo, já que o apoio político
aos social-democratas encontra-se em seu nível mais baixo em cem anos.
Mas as evidências que
corroboram com a tese de Sanandaji não param por aqui. Existe um outro dado
empírico, na verdade um paralelo interessante, que ajuda a comprovar a teoria.
Um economista escandinavo
disse certa vez, em tom de provocação, para Milton Friedman: “na Escandinávia,
nós não temos pobreza”. De pronto, o velho mestre de Chicago retrucou:
“Interessante, porque aqui na América também não há pobreza entre os escandinavos”.
De fato, a taxa de pobreza de domiciliados americanos, de origem sueca, é de
somente 6,7%, que vem a ser metade da média americana e exatamente igual a dos
suecos.
Além disso, os 4.4 milhões de
americanos de origem sueca são consideravelmente mais ricos que o americano
médio. O PIB per capita desse grupo é de aproximadamente $56.900, ou mais de
$10.000 acima do PIB per capita dos EUA e $20.000 acima do PIB per capita da
Suécia.
É sintomático notar,
entretanto, que as diferenças acima se intensificaram de forma marcante
justamente a partir da radicalização do estado de bem-estar. Em1970, aSuécia
ainda era o quarto país mais rico do mundo, medido em termos de renda per
capita. Porém, conforme a carga tributária ia subindo a renda caía e, em 2008,
o país já estava na 12a posição. Atualmente, a renda per capita da Suécia é de
$36.600, bem menor que a os $45,500 dos EUA e muito menor que os $56,900 dos
sueco-americanos.
Em resumo, não resta dúvida
que os suecos são um povo altamente competente, ordeiro, trabalhador e
responsável. A História contada acima, contudo, demonstra que, vivendo sob um
sistema mais liberal, a prosperidade desse povo pode ser bem maior do que sob o
engessamento burocrático de um estado de bem-estar.
Título, Gráficos e Texto: João
Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ e profissional
liberal (consultor de empresas).
Colaboração: Peter Wilm
Rosenfeld
Edição: JP
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