quinta-feira, 7 de junho de 2012

Austrália, uma história de austeridade (II)

Otacílio Guimarães
Excelentes os artigos indicados sobre a economia da Austrália no período agudo da crise econômica mundial. A Austrália, como de resto todos os países do mundo, foi atingida duramente pela crise mas não se deixou abater e o seu governo adotou providências nos momentos certos para que o prejuízo fosse menor. Essas providências se traduziram em conduzir a política econômica com austeridade, cortando gastos onde fosse necessário sem esquecer os investimentos de longo prazo na infraestrutura do país.  
A economia australiana é sustentada nas exportações de comodities – a exemplo da brasileira –, principalmente minérios, carne, frutas e açúcar, além de produtos de tecnologia e serviços. O consumo interno, dado a população ser de apenas 22 milhões de pessoas, é pequeno, apesar do alto poder de compra dos australianos. A Austrália, assim como o Brasil, se beneficiou muito no período das vacas gordas em que os preços das comodities estavam nas alturas. Depois que a maré mudou, todos aqui – governo, empresários e a população – entenderam que havia chegado a hora de apertar o cinto. Um exemplo: quem trocava de carro todos os anos agora está ficando dois anos com o mesmo carro.   
Eu diria que a Austrália fez exatamente o contrário do que o Brasil fez e está fazendo em sua economia nessa fase difícil que toda a economia global atravessa. A Austrália aproveitou a fase favorável para consolidar a sua economia aumentando a poupança interna, reduzindo o endividamento público e privado, aumentando as suas reservas em moeda estrangeira, reduzindo os juros – que agora estão subindo – e investindo sabiamente em infraestrutura, educação e saúde. Em razão disso, o PIB, que no auge da crise caiu, agora voltou a subir e este ano deve ultrapassar os 5%.  
O Brasil fez exatamente o contrário disso: aumentou os gastos públicos, não investiu quase nada em infraestrutura e promoveu o maior incentivo ao consumo na história do país com o crédito facilitado e em muitos casos subsidiados, aumentando com isto o endividamento privado e consequentemente reduzindo a poupança interna. Consequência de tal política foi que as exportações e o PIB despencaram, como demonstra uma reportagem da Veja desta semana. Para se ter uma idéia, o PIB no primeiro trimestre de 2010 foi de 9,3% e no primeiro trimestre de 2012 apresentou um crescimento de apenas 0,8%. A continuar assim, fechará o ano com um PIB negativo.
Aliás, o governo esquerdista brasileiro nunca teve um projeto de política econômica e a atual presidente e sua equipe econômica, comandada por Guido Mantega, tem como único projeto econômico incentivar o consumo. Ninguém quer ouvir falar nas reformas estruturais que o Brasil precisa fazer se quiser sair um dia da condição de país emergente. A esse respeito, o ex-presidente do Peru, Alan Garcia, tem uma piada. Ele disse que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que compõe o grupo de países emergentes), deveriam agora se chamar RICS, já que o Brasil parece ter desistido de sair da condição de país subdesenvolvido.  
Austeridade na Austrália é palavra de ordem que todos seguem. No Brasil, é palavrão que ninguém quer ouvir.  
Quem você acha que vai se dar bem no final?
Otacílio Guimarães

Em Portugal também é palavrão, e dos grandes!
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