Adolfo Mesquita Nunes
Como é evidente, o governo não
está menos preocupado que os socialistas com os sacrifícios actualmente
impostos aos portugueses
MITO Nº 5: Os socialistas têm
uma alternativa: pedir mais tempo.
Ninguém sabe ao certo o que
querem dizer os socialistas quando pedem “mais tempo”. Que medidas devem ser
adiadas e por quanto tempo? Qual o efeito económico desse adiamento? Em que
medida é que as famílias e a economia veriam vantagens? Que despesa deixaríamos
cortar e que receita passaríamos a cobrar? E que novos compromissos de
austeridade teríamos de assumir para pedir mais dinheiro (é preciso não
esquecer, apesar do esforço socialista de ignorar o assunto, que pedir mais
tempo é pedir mais dinheiro)? Isso são tudo perguntas sem resposta.
A ausência de respostas
indicia que o discurso de “mais tempo” não passa de simples retórica política.
Pedir “mais tempo” sem responder a estas questões significa, afinal, coisa
nenhuma. Acontece, porém, que o assunto é demasiado sério.
A renegociação do programa de
assistência financeira que actualmente nos sustenta (é disso que se trata
quando se pede “mais tempo”) tem consequências do ponto de vista da
credibilidade do Estado, que hoje sabemos ser essencial para sair da crise, e
que dependem não só da concreta renegociação como da oportunidade e da forma do
seu pedido.
Ter o maior partido da
oposição a pedir uma renegociação específica, com todas as perguntas
respondidas, e escolhendo o momento mais adequado para o fazer, é uma coisa;
ter o maior partido da oposição a pedir uma renegociação apenas porque sim, sem
se preocupar com explicar o quando nem o como nem o porquê, é outra.
É que pedir uma renegociação
sem saber ao certo em que é que esta consiste, quais os seus efeitos e
vantagens e não cuidando de escolher uma oportunidade vantajosa, pode
transformar--se num sério revés para Portugal, reforçando, e não atenuando, os
sacrifícios que estamos a fazer. Por outras palavras, pedir irresponsavelmente
“mais tempo” pode significar, no fim de contas, mais sacrifícios e mais
austeridade por mais tempo, desbaratando o trabalho feito até aqui.
É claro que este género de
retórica, apesar da dose de irresponsabilidade, é aceitável em política.
Convém, no entanto, não a confundir com qualquer coisa de parecido com um
programa alternativo de governação. Mas para quem possa duvidar desta
desconfiança, lanço o desafio: consegue, olhando para o discurso socialista,
responder a qualquer das perguntas que acima fiz?
MITO Nº 6: O governo deve
pedir desde já as mesmas condições que são dadas a Espanha.
Não se conhecem ainda ao certo
quais as condições da assistência que terá de ser prestada a Espanha. Não será
precipitado pedir desde já a aplicação a Portugal de condições que ainda não se
conhecem?
Se assim é, e é, a pressa
socialista de pedir as mesmas condições que serão dadas a Espanha tem afinal
como objectivo criar a ideia de que o governo português parece menos
interessado nos sacrifícios por que passam os portugueses do que em passar a
imagem, como agora se volta a dizer, de aluno bem-comportado da Europa.
Mas se cada um é livre de
considerar, e dizer, que este governo encarna o mal na Terra, apostado na
miséria e na pobreza, por oposição aos bons socialistas que tão bem nos
governaram e que oferecem o progresso e o crescimento, será preciso criar uma
fantasia tão despropositada a propósito da difícil situação espanhola?
Como é evidente, o governo não
está menos preocupado que os socialistas com os sacrifícios que são actualmente
impostos aos portugueses e que, curiosamente, nos são impostos por um Memorando
assinado pelos socialistas depois de uma quase ininterrupta década e meia de
governação socialista.
(Continua)
Título e Texto: Adolfo Mesquita Nunes, Jurista e
deputado do CDS, jornal “i”
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