Para Raúl Castro, Dilma deu
uma montanha de dólares; para o novo presidente do Paraguai, ela não quer nem
dar a mão. Qual a diferença entre eles? Aqui vão duas: um é assassino e
ditador; o outro é democrata e não matou ninguém!
Reinaldo Azevedo
Alguns bananas dizem que escrevo com raiva. Eu não! Escrevo com amor!
Amor aos fatos! O contraste acima é forte? Não me pergunto isso. Pergunto-me se
é verdadeiro. Se acharem, coloquem o texto na rede para o debate. Então
vamos aos fatos.
A revolta paraguaia não aconteceu! Os governos sul-americanos, o Brasil inclusive, esperavam muitos
milhares nas ruas para que pudessem declarar, então, a ilegitimidade do governo
de Federico Franco, mesmo, ponderariam, que ele fosse, como é, legal. Sem o
povo na praça, nem mesmo se pode dar o golpe (este, sim, golpe!!!) da
ilegitimidade. Ou por outra: a Constituição diz que o governo é legal; o
Congresso diz que o governo é legal; as cortes superiores Eleitoral e de
Justiça dizem que o governo é legal. E a população, ela própria, assim o
considera na prática. Logo, em nome de quem falam os governos sul-americanos
quando reafirmam a ilegitimidade do processo?
Em seu próprio nome! Buscam
imunizar-se do alcance da lei e se colocar acima do Parlamento e da
Justiça. Que o governo brasileiro esteja nessa, eis um sinal da miséria
da nossa diplomacia. Ontem, quem veio a público se pronunciar, como se lhe
coubesse, foi Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Afirmou que o
Brasil não tomará nenhuma decisão isolada e que está em contato com outros países.
Em suma e por incrível que possa parecer, o país que deveria exercer a
liderança no subcontinente está sendo conduzido em vez de conduzir.
E conduzido por quem? Pela
diplomacia… argentina! É isto o que a política de Celso Amorim — que sobrevive
na gestão de Antônio Patriota — conseguiu: tornar o Brasil ora caudatário dos
humores de Hugo Chávez, o Bandoleiro de Caracas (como se deu no caso de
Honduras), ora dos humores de Cristina Kirchner, a Doida de Buenos Aires, como
agora. Convenham: que a crise tenha explodido aqui do lado sem que Itamaraty
tivesse se dado conta previamente —, alertando, como deveria ter feito, a
presidente Dilma Rousseff —, isso, por si, já é um escândalo.
O Brasil não só faz fronteira
com o Paraguai como divide com aquele país a hidrelétrica de Itaipu, que
responde por 20% da energia consumida por aqui. Mais: há uma vasta comunidade
de brasileiros que lá trabalha, produz e prospera, especialmente no setor
agropecuário. No governo de Fernando Lugo, estavam submetidos a uma perseguição
implacável, sob o silêncio cúmplice do Planalto. Atenção! Esses brasileiros
estavam ameaçados de perder tudo o que construíram ao longo de muitos anos — às
vezes, de décadas.
Pragmatismo?
O mais espantoso é que, quando criticado em razão das bobagens que protagoniza na política externa, o governo petista costuma pôr na mesa a carta do pragmatismo. Fez isso ao longo da gestão de Lula. Quando muitos censuravam a intimidade com o Irã, lá vinha a ladainha: o Brasil não queria satanizar ninguém e estaria interessado nos negócios. O mesmo se argumenta quando o assunto é Venezuela. No fim de janeiro, Dilma visitou Cuba. Dez dias antes de sua chegada, o dissidente Wilmar Villar Mendoza havia morrido na cadeia em razão de uma greve de fome. Evento idêntico acontecera em 2010, por ocasião da visita do Apedeuta à ilha: naquele caso, a vítima era Orlando Zapata. Lula, vocês se lembram, comparou presos de consciência cubanos a delinquentes comuns do Brasil. Dilma não chegou a tanto, mas deu declaração igualmente infeliz.
O mais espantoso é que, quando criticado em razão das bobagens que protagoniza na política externa, o governo petista costuma pôr na mesa a carta do pragmatismo. Fez isso ao longo da gestão de Lula. Quando muitos censuravam a intimidade com o Irã, lá vinha a ladainha: o Brasil não queria satanizar ninguém e estaria interessado nos negócios. O mesmo se argumenta quando o assunto é Venezuela. No fim de janeiro, Dilma visitou Cuba. Dez dias antes de sua chegada, o dissidente Wilmar Villar Mendoza havia morrido na cadeia em razão de uma greve de fome. Evento idêntico acontecera em 2010, por ocasião da visita do Apedeuta à ilha: naquele caso, a vítima era Orlando Zapata. Lula, vocês se lembram, comparou presos de consciência cubanos a delinquentes comuns do Brasil. Dilma não chegou a tanto, mas deu declaração igualmente infeliz.
Indagada sobre a questão dos
direitos humanos, respondeu que o Brasil não estava na posição de quem podia
jogar pedra nos outros nessa matéria. Huuummm… Agora entendi: quando
Dilma visita uma tirania, em que os partidos políticos, exceto o comunista,
estão proscritos, com os adversários do regime em cana, ela evita “jogar
pedras” porque não quer dar lições. Quando se trata de lidar com uma
democracia, que cumpre os rigores da Constituição, então ela joga logo um
caminhão de pedras. Ao Paraguai, a suspensão do Mercosul; a Cuba, ela levou uma
linha especial de crédito de US$ 523 milhões, elevando o financiamento
brasileiro à ilha para US$ 1,37 bilhão.
A Dilma que deu posse à
Comissão da Verdade no Brasil trata tiranos com montanhas de dólares e governos
democráticos a tapas e pontapés. ISSO NÃO É DIPLOMACIA DO PRAGMATISMO PORCARIA
NENHUMA! ISSO É DIPLOMACIA DA IDEOLOGIA! Repete, nesse particular, o pior do
governo Lula, que tratava o então governo de Álvaro Uribe, da Colômbia, aos
trancos e barrancos — Marco Aurélio Garcia chegou a declarar que o então
presidente colombiano estava isolado no continente — e o facinoroso Hugo Chávez
como grande democrata. Não custa lembrar que, na gestão do Babalorixá de
Banânia, as Farc foram mais aduladas do que o governo constitucional de Uribe.
Dados os interesses que o
Brasil tem no Paraguai, o seu papel seria liderar a temperança e impor limites
aos dos destrambelhados, a começar de Cristina Kirchner. Mas renuncia ao papel
que lhe cabe, abre mão de ser protagonista e se coloca como mero caudatário da
retórica inflamada do governo argentino. Ora… Cristina, Chávez, Rafael Correa e
Evo Morales enfrentam, em seus próprios países, embates institucionais. Todos eles,
uns mais outros menos, avançaram contra prerrogativas democráticas e
transgrediram a legalidade. Se não foram punidos ainda, é porque a situação
política não permite. Cedo ou tarde, a menos que seus respectivos países se
transformem em ditaduras sanguinolentas e sob o seu comando, terão de responder
por seus crimes e por violações à Constituição e a direitos fundamentais de
seus povos. Isso pode acontecer com eles dentro ou fora do poder, a depender da
deterioração da situação política. Morales já enfrentou o levante de uma parte
do país.
Assustam-se com o destino de
Lugo — aliás, destino suave por enquanto; por tudo o que se sabe da ação dos
sem-terra, que eram sua base de apoio, tem de ser processado criminalmente —
porque sabem que eles próprios, que vivem ultrapassando o limite do
institucionalmente aceitável, correm riscos. Essa gente quer continuar a
golpear a democracia e o estado de direito sem enfrentar qualquer reação. Ou
chamam de “golpistas” as forças da legalidade.
Até onde se sabe, Federico Franco,
do Paraguai, tem as mãos limpas de sangue, presidente Dilma! Não se pode dizer
o mesmo de muitos aos quais Vossa Excelência já deu as mãos.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 26-06-2012
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